Memes de macacos nas redes têm ligação com maus-tratos?
Por Nathan Vieira | •

Entre os vídeos da internet e os memes que compartilhamos, há vários conteúdos de animais — particularmente fofos e engraçadinhos. No entanto, a Social Media Animal Cruelty Coalition (SMACC) fez uma denúncia de que os vídeos protagonizados por macacos podem esconder segredos obscuros: maus-tratos, tortura física e psicológica.
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Na denúncia, o SMACC diz que as espécies de macacos mais presentes nos vídeos (macaco-de-cauda-de-porco-do-sul, por exemplo) são classificadas como ameaçadas na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN.
Um dos pontos apresentados pela organização é que os macacos mantidos como animais de estimação e apresentados em vídeos costumam ser bebês, alguns com apenas alguns dias ou semanas de vida. Só que esses filhotes são retirados da natureza para serem mantidos como pets, então sofrem traumas por serem removidos de suas mães em uma idade tão jovem.
A instituição argumenta que a privação materna pode trazer consequências fisiológicas e psicológicas devastadoras e irreversíveis para os primatas, levando a anormalidades comportamentais persistentes, como balanço, andar de um lado para o outro, automutilação, agressão ou desânimo.
Outro aspecto importante de se observar é que esses primatas têm necessidades sociais e devem interagir com os outros para seu bem-estar mental, e é algo que os humanos não podem suprir.
De acordo com a SMACC, os primatas em cativeiro também não têm a oportunidade de realizar muitos de seus comportamentos naturais quando mantidos em um ambiente não natural.
Tortura física e psicológica
A organização divulgou o relatório SMACC Spotlight Report, baseado em dados colhidos entre setembro de 2021 e março de 2023. Ao todo, 1226 links de conteúdo do Facebook, Instagram, TikTok e YouTube, mostravam macacos mantidos como animais de estimação.
A pesquisa descobriu que 13% do conteúdo apresenta tortura psicológica deliberada: macacos intencionalmente levados a sentir medo e angústia em resposta a sustos, provocações e negação de comida. Enquanto isso, 12% desses conteúdos mostraram macacos sendo torturados fisicamente.
"Coletivamente, os links foram visualizados 12.054.378.907 vezes no momento da análise. As três principais plataformas com mais conteúdo apresentando macacos como animais de estimação foram Facebook (60%), YouTube (24%) e TikTok (13%)", menciona o relatório.
Como identificar os sinais de maus-tratos
A SMACC recomenda se atentar aos seguintes pontos para identificar sinais de que os primatas não estão recebendo o tratamento adequado, como macacos vestidos com roupas de humanos (podem realmente causar irritações na pele e restringir os movimentos).
Comportamentos anormais como macacos mordendo a si mesmo, arrancando cabelo, realizando movimentos repetitivos ou vocalizações repetitivas, chupando o dedo ou revelando comportamentos sexuais também podem representar indícios de maus-tratos.
Vale ficar atento aos sorrisos! "Os donos de animais de estimação primatas e os usuários de mídia social frequentemente interpretam mal os sinais básicos de comunicação dos primatas. Por exemplo, um sorriso largo pode ser confundido com uma indicação de prazer ou alegria, quando na verdade é um sinal de medo intenso ou profunda submissão em muitas espécies de primatas", diz o relatório.
Posicionamento
Em nota divulgada à equipe do Canaltech, a Meta diz o seguinte:
Não permitimos conteúdos que coordenem, ameacem, apoiem ou admitam atos que causem danos físicos contra animais, e removemos tais conteúdos quando tomamos conhecimento deles em nossas plataformas. Estamos sempre aprimorando nossos esforços para manter nossas plataformas seguras e também incentivamos as pessoas a denunciarem conteúdos e contas que acreditem violar nossas políticas através das ferramentas disponíveis dentro dos próprios aplicativos.
A equipe do YouTube também nos forneceu um parecer sobre a situação:
Todos os conteúdos no YouTube precisam seguir nossas Diretrizes de Comunidade, e contamos com uma combinação de sistemas inteligentes, revisores humanos e denúncias de usuários para identificar material suspeito. No YouTube, não é permitido mostrar conteúdo violento ou explícito com o objetivo de chocar ou causar repulsa nos espectadores, nem material que incentive as pessoas a cometerem atos violentos. Isso inclui conteúdo que mostra abuso animal, como rinhas, conteúdo que exalte ou promova negligência, maus-tratos ou danos aos animais, que simule o resgate de animais e que coloque esses animais em situações perigosas.
De qualquer forma, fica o convite para olharmos com mais cautela os conteúdos com macacos ou outros animais nas redes.
Fonte: SMACC (1, 2, 3), SMACC Spotlight Report