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Estudo tenta entender características de pessoas que "ouvem" as vozes dos mortos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 04 de Novembro de 2021 às 14h40

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Rawpixel/Freepik
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Para tentar entender as características de pessoas que dizem "ouvir" as vozes de pessoas mortas, cientistas conduziram um estudo que identificou os rastros que fazem com que uma pessoa seja mais suscetível a passar por essas situações.

Experiências espiritualistas de clarividência e clariaudiência — ou seja, experiências de ver ou ouvir algo na ausência de um estímulo manifestado fisicamente —, comumente atribuídas à presença espíritos, são de bastante interesse científico. O tema atrai tanto cientistas, que estudam as experiências alucinatórias patológicas, quanto antropólogos, que estudam experiências religiosas e espirituais.

"Os espíritas tendem a relatar experiências auditivas incomuns que são positivas, começando ainda cedo na vida, e que muitas vezes conseguem controlar", conta Peter Moseley, um dos autores do estudo. "Entender como elas se desenvolvem é importante porque pode nos ajudar a entender também mais sobre experiências angustiantes ou não controláveis de ouvir vozes", pontua.

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Para chegar nas respostas, Moseley e seu colega de estudo, o psicólogo Adam Powell, recrutaram 65 médiuns clariaudientes da União Nacional dos Espíritas do Reino Unido, além de 143 membros da população em geral, escolhidos através das redes sociais. Na análise, os pesquisadores avaliaram o que diferencia pessoas comuns dos chamados médiuns.

Cerca de 44,6% dos que se consideram médiuns espíritas relataram ouvir vozes de pessoas mortas diariamente, e 79% contaram que essas experiências fazem parte de suas vidas diárias. Enquanto a maioria relatou ouvir vozes dentro da cabeça, 31,7% disseram que também ouvem vozes externas. Em comparação com o público geral, os espíritas apontaram para uma crença muito maior no paranormal, sendo também menos propensos a se importar com o que as outras pessoas pensavam deles.

Os médiuns participantes do estudo, em geral, tiveram a primeira experiência auditiva ainda jovens, com idade média de 21,7 anos, relatando ainda um alto nível de absorção. O termo é usado para descrever a imersão total em estados alterados, tarefas e atividades mentais, e o quão eficaz a pessoa é na hora de se desligar do mundo ao redor. Eles também foram os mais prováveis a passar por experiências parecidas com alucinações. Muitos deles disseram nunca ter ouvido falar de espiritismo antes de terem as experiências, descobrindo a doutrina espiritualista somente quando procuraram por respostas.

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Na população geral, também foram correlacionados altos níveis de absorção com a crença no paranormal, mas com pouca ou nenhuma suscetibilidade a alucinações auditivas. Nos dois grupos, os pesquisadores não encontraram diferenças nos níveis de crenças paranormais e suscetibilidade às alucinações visuais. Os resultados sugerem, portanto, que "ouvir" as vozes dos mortos pode não ser por influência e pressão de outras pessoas, em um contexto social positivo, ou devido a uma crença paranormal. Em vez isso, esses indivíduos adotam o espiritismo porque a doutrina é alinhada com suas experiências e, dessa forma, é pessoalmente significativa a eles.

"Nossas descobertas dizem muito sobre 'aprendizado e anseio'", diz Powell. "Para nossos participantes, os princípios do espiritismo parecem fazer sentido tanto para experiências extraordinárias da infância quanto para os fenômenos auditivos que experimentam como médiuns praticantes. Mas todas essas experiências podem resultar mais de certas tendências ou habilidades iniciais do que, simplesmente, acreditar na possibilidade de contatar os mortos se tentarmos o suficiente", completa.

No futuro, a pesquisa deve explorar uma variedade ainda maior de contextos culturais para entender a relação de absorção, crença e a experiência de ouvir vozes de quem já morreu. O estudo foi publicado na revista científica Mental Health, Religion & Culture.