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Adolescentes e tecnologia: como manter essa relação saudável?

Por| 26 de Novembro de 2019 às 20h00

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Você que tem um adolescente na família, já parou para pensar no impacto que a tecnologia tem gerado no público mais jovem e o quão importante é tomar alguns cuidados? De acordo com uma pesquisa feita pela Pew Research Center (PRC) dos Estados Unidos, 54% dos adolescentes entre 13 e 17 anos acreditam que passam tempo demais no celular. Em média, a maioria das meninas alegou gastar muito tempo nas redes sociais, enquanto os meninos atribuem as excedentes horas aos jogos. O estudo também aponta que checar as notificações e mensagens é a primeira coisa que 45% dos adolescentes fazem assim que acordam, ainda na cama. Mais de 30% deles dizem que perdem o foco na aula porque se distraem com seus telefones e cerca de metade das meninas (49%) dessa idade relatam se sentir ansiosas sem o aparelho por perto.

Além disso, a Positivo Tecnologia, o Portal Educacional, a Katru Assessoria em Informação e o psiquiatra Jairo Bouer divulgaram um estudo chamado Tecnologia e o Jovem, que aponta que mais da metade dos jovens brasileiros exagera às vezes ou sempre no uso de tecnologias, e isso impacta a saúde mental. A análise aponta que os adolescentes que ficam conectados mais de nove horas por dia têm risco 2,4 vezes maior de sentir tristeza, ansiedade, angústia e estresse. Ao todo, 3.305 alunos de 53 escolas (41 privadas e 12 públicas) de todas as regiões do país foram entrevistados por meio de um questionário online, ao longo de quatro meses (de maio a agosto de 2019). Dentre os participantes desse estudo, 35% já sentiram tristeza ou medo por comentários postados em seus perfis e mais da metade já se sentiu desprestigiada nas redes; pouco mais de 18% já chegou a ser vítima de cyberbullying.

“Não há uma recomendação científica para que adolescentes (de 10 a 24 anos de idade) usem ou deixem de usar celulares e redes sociais, mas se o fizerem, que seja de forma cautelosa e ponderada”, afirma a Dra. Maíra Pieri Ribeiro, hebiatra da Faculdade São Leopoldo Mandic. A hebiatria é uma subespecialidade da pediatria que engloba a saúde integral dos jovens e adolescentes de 10 a 24 anos de idade. O profissional acompanha não só a parte médica, como psicológica e social, orientando sobre comportamentos de risco e diagnosticando precocemente o bullying, vícios, entre outros.

Sem exageros

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As questões envolvendo os adolescentes são diferentes dos pequeninos usando a tecnologia, como já abordamos aqui no Canaltech. Dra. Maíra destaca que o uso exagerado pode ser um meio de fuga dos problemas, dependência ou inclusive um meio de se sentir aceito pelo grupo. “O abuso diário das mídias sociais e das tecnologias tem efeito negativo na saúde de todas as crianças, pré-adolescentes e adolescentes, que se tornam mais propensos a ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos, além de deixá-los mais suscetíveis a problemas de saúde no futuro”, afirma.

Por sua vez, Luciana Brites, psicopedagoga co-fundadora o Instituto NeuroSaber, também acredita que o segredo é não abusar: “Seja em relação ao tempo ou horário de uso do computador ou do videogame, estabelecer limites por meio da conversa é uma boa dica para que seu filho aceite as regras e sinta que suas necessidades também foram atendidas”.

A recomendação da hebiatra é que o tempo de uso diário de tecnologias deve ser limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento cerebral-mental-cognitivo-psicossocial das crianças e adolescentes. De acordo com ela, para jovens e adolescentes não há um número de horas determinado para ficarem no celular, porém eles devem usá-lo de forma ponderada, sem exageros e sem que atrapalhe sua vida escolar e social. “Tudo o que é exagerado está muito próximo dos motivos que levam ao uso de drogas. Também os pais devem ficar atentos, pois muitos filhos só copiam aquilo que veem os pais fazendo”, salienta.

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Outra coisa que a hebiatra aponta é que o uso precoce e de longa duração de jogos online, redes sociais ou diversos aplicativos com filmes e vídeos na Internet pode causar dificuldades de socialização e conexão com outras pessoas e dificuldades escolares. Já a dependência ou o uso problemático e interativo das mídias causa problemas mentais, aumento da ansiedade, violência, cyberbullying, transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas auditivos por uso de headphones, problemas visuais, problemas posturais e lesões de esforço repetitivo (LER); problemas que envolvem a sexualidade, como maior vulnerabilidade ao groominge sexting, incluindo pornografia, acesso facilitado às redes de pedofilia e exploração sexual online; compra e uso de drogas, pensamentos ou gestos de autoagressão e suicídio; além das “brincadeiras” ou “desafios” online que podem ocasionar consequências graves e até coma por anóxia cerebral e morte.

Controle parental e diálogo

O estudo Tecnologia e o Jovem mostra que 65% das escolas trabalham os riscos do uso de tecnologias, e conclui que controles externos (parentais, ou ainda controles da escola) podem ser "protetores", principalmente para os mais novos. Controlar o tempo de conexão ou senha do filho diminui o tempo de exposição e impacta menos no emocional. No estudo, os pais têm a senha de acesso do celular de quase 40% dos jovens e cerca de 25% dos jovens têm seu tempo de conexão controlado pelos responsáveis. Mas quais são as nuances desse controle por parte dos pais?

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"Nesta fase da vida, o maior risco de não impor limites aos adolescentes em relação à tecnologia é que ela pode facilmente substituir o contato pessoal e o convívio familiar. Por isso, é importante exercer estabelecer limites amigáveis por meio de uma conversa aberta e sincera, com regras definidas em comum acordo", aponta a psicopedagoga. Segundo Luciana, o diálogo é e sempre será a melhor via para qualquer instrução, pois da mesma forma que os pais conversam com os filhos sobre os riscos comuns que existem no mundo real, eles também devem orientá-los em relação ao mundo virtual. "O diálogo sobre o uso seguro da internet, abordando com clareza a questão da exposição da privacidade nas redes sociais, é sempre o melhor caminho para se construir uma relação de confiança entre pais e filhos", aponta a profissional.

A psicopedagoga acrescenta que a fase transicional em que os filhos deixam de se enxergar crianças e começam a adquirir independência é propensa ao surgimento de novas vontades, novas maneiras de falar, de se vestir, enfim, é o período da vida em que os filhos priorizam muito as amizades, por isso tendem a se afastar dos pais. Uma forma de se aproximar é descobrir os novos interesses do filho e se interessar por eles. Também é importante respeitar seu espaço e evitar trata-lo como se ainda fosse uma criança: isso gerará confiança e o fará enxerga-lo como amigo, mas é importante construir uma relação amigável sem deixar de exercer a autoridade paterna, dizendo "não" quando for necessário e "sim" quando possível. "Por ser uma fase onde a intimidade é priorizada, é importante respeitá-la para não criar indisposição e prejudicar a relação entre pais e filhos. Além de estabelecer regras conjuntamente em relação limite diário de uso, uma boa forma de controlar o conteúdo que seu filho tem acesso sem invadir a sua privacidade é colocar o computador em um lugar comum onde todos os membros da família transitem", orienta.

Sob o ponto de vista de um pai

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Celso Fortes, publicitário e especialista em tecnologia da informação, conta que sua filha mais velha possui um celular próprio desde os 11 anos, e crê que o presente foi dado no momento certo. Segundo ele, foi uma questão de segurança, para que ela tivesse uma forma de se comunicar com a família, e era também uma maneira de entretenimento e estudo, já que ela poderia ter acesso às informações. Ele conta que, a princípio, não havia muitas regras, mas mesmo assim havia cuidados: "A partir do momento que ela ganhou o celular, foi livre para poder gerenciar o tempo dela e aprender a separar as coisas. Tenho que ficar atento a que tipo de conteúdo ela recebe, se acessa informações pertinentes à idade dela, se o conteúdo é de relevância para o crescimento dela". No entanto, quando o assunto é escola, regras mais rígidas aparecem: "Durante o horário de colégio é proibido usar o celular. É claro que as crianças acabam utilizando no recreio, mas, na escola, é proibido durante a aula. Meu método é conversar com ela e tentar acompanhar o comportamento dela para identificar se está cumprindo tudo conforme o combinado na escola".

Celso defende que o segredo para uma boa relação com os filhos é uma capacidade de conversa muito clara e aberta entre a família, porque se você conseguir manter um diálogo transparente, aberto, com uma comunicação de mão dupla com seu filho, você acaba podendo ajudá-lo de uma certa forma e também aprendendo muito com ele. "Se você estiver bem próximo dele, maior será a sua capacidade de identificar problemas com rapidez e ver se há algo de errado ou não", afirma o publicitário.

O pai defende, ainda, que tanto nas redes sociais quanto no cuidado com o uso do celular, a preocupação com a educação e a informação se prolonga. "Antigamente você educava e alertava seu filho só para os perigos dentro de casa, os perigos de fogo, de utensílios domésticos, de cair brincando e se machucar, cair de bicicleta. Hoje em dia você acaba acrescentando mais esse item que é a internet. Com o celular, nós mostramos quais são os riscos, fazendo alertas e até mesmo criando alguns meios de bloqueio nas redes sociais para que eles, por exemplo, não aceitem ser seguidos por ninguém que eles não conhecem", relata. O publicitário acrescenta que seus filhos devem seguir perfis que são pertinentes à idade que eles têm, e que a internet, o celular e as demais plataformas digitais se tornaram mais um item a ser colocado em debate com seu filho. "É algo a ser trazido para o dia a dia, como um meio de educá-los. Isso já faz parte dos alertas que qualquer pai ou mãe dão para o seu filho desde o nascimento. Você vai alertando, instruindo e ensinando. O mundo digital é só mais um item dessa educação tradicional", aponta.