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As mudanças climáticas estão impactando nossa alimentação

Por| 02 de Maio de 2022 às 10h00

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bearfotos/Freepik
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Um dos acontecimentos mais importantes do mês de abril foi o lançamento da terceira e última edição do 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Criada no âmbito das Nações Unidas, esta organização é mais conhecida por seu acrônimo IPCC e, nos últimos anos, se consolidou como a principal referência técnico-científica sobre a agenda de mudanças climáticas.

Construído por 270 especialistas de 67 países, o mais recente relatório publicado pelo IPCC reforça a urgência de que as nações implementem estratégias para viabilizar o cumprimento de um dos principais e mais desafiadores compromissos do Acordo de Paris: controlar o aumento da temperatura terrestre de modo que não ultrapasse 1,5 graus até 2025 — e, portanto, cinco anos antes da previsão inicial do Acordo.

A recente publicação aborda o tema da mitigação, ou seja, as estratégias necessárias para interromper ou diminuir a emissão de gases do efeito estufa (GEE) e também reduzir a concentração já presente dessas substâncias na atmosfera terrestre.

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Os dados apontam que as emissões foram maiores na última década do que em qualquer outro momento da história da humanidade. Os cientistas são claros: há uma curta e rápida janela de oportunidade que está se fechando. Com as taxas atuais de emissões (na média de 59GtCO2 por ano), serão necessários apenas 8 anos, aproximadamente, para que se esgote o "orçamento de carbono" restante para a meta de 1,5°C. Sendo assim, é preciso reduzir pela metade o atual nível de emissões, ainda nesta década.

O desafio é estrutural e envolverá a participação dos mais diversos setores, uma vez que o nosso modo de vida é o principal responsável pelas mudanças climáticas. E um dos aspectos que precisará ser transformado é a cadeia de produção, transporte, distribuição e consumo de alimentos.

Em seu capítulo 5, a publicação do IPCC traz centenas de evidências sobre a correlação entre mudanças climáticas e a produção de alimentos. E a desigualdade também se faz presente: os efeitos atuais e futuros tendem a penalizar regiões e grupos populacionais historicamente impactados pela baixa produção e acesso a alimentos.

O cenário é catastroficamente crítico, as mudanças deverão ser profundas e precisam ser implementadas com urgência. A boa notícia é que, além de trazer um detalhamento precioso sobre o problema, a publicação do IPCC também apresenta caminhos para a superação de um risco tão sério à nossa sobrevivência.

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A garantia de uma alimentação de qualidade, em quantidade e com acessibilidade para todos dependerá da adoção de transformações profundas no setor. Agroflorestas, diversificação de plantações, fortalecimento da biodiversidade e o incentivo às fazendas urbanas são apenas algumas das estratégias apontadas pelo relatório.

O uso de tecnologias será central nesse esforço — a palavra é mencionada mais de 40 vezes ao longo do documento — e as GovTechs representam uma aliada central. E não é de hoje: já em 2017, o BrazilLAB lançou o desafio de acelerar soluções tech para a agricultura urbana, alternativa apontada atualmente pelo IPCC para reduzir o impacto da cadeia de produção de alimentos.

Uma das empresas aceleradas foi a BeGreen, startup que é hoje a maior fazenda urbana da América Latina, produzindo 130 mil pés de hortaliças por mês, com níveis de desperdício próximos a 1% e redução do consumo de água em 90%.

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Em 2021, o BrazilLAB também foi um dos responsáveis pela implementação do CivTech Alliance COP26 Global Scale-up Programme. Foram 26 startups inscritas na seletiva nacional, fazendo com que o Brasil fosse o país com o maior número de concorrentes para as 18 vagas disponíveis.

Ao todo, cinco startups foram escolhidas pelo programa para representar o Brasil na COP26, a Conferência do Clima das Nações Unidas. Entre as selecionadas, três têm atuação no tema de resiliência e adaptação ambiental: Eco Panplas, Tesouro Verde e Um Grau e Meio. A representante com solução para descarbonização do transporte foi a Scipopulis e no combate ao desperdício de alimentos a startup selecionada foi a Lemobs.

A contribuição da tecnologia e das startups será fundamental para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Precisaremos de todos os esforços voltados para aproveitar a janela de oportunidade apontada pelo IPCC e assegurar que o planeta Terra siga sendo habitável para os seres vivos. A oportunidade e as ferramentas para agir estão em nossas mãos; o tempo é muito curto.