Evil Dead | Qual a melhor ordem para assistir aos filmes?
Por Felipe Demartini • Editado por Jones Oliveira |
A série Evil Dead é um dos ícones mundiais do cinema de horror dos anos 1980. Seu protagonista, Ash Williams (Bruce Campbell), faz parte do panteão do gênero, enquanto seus fãs acompanham com empolgação cada novo anúncio e notícia, mesmo que eles nem sempre se materializem em produções reais. Para quem chega agora, com a estreia de um novo filme, acompanhar o que ficou para trás pode ser um pouco confuso.
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Ou nem tanto, já que A Morte do Demônio: A Ascensão se propõe a ser algo novo, sem conexão com o universo das produções anteriores, ainda que traga um caminhão de referências. É, também, a segunda vez (ou talvez a terceira, se levarmos ao pé da letra), que a saga Evil Dead passa por um recomeço, com remakes e bagunças cronológicas do passado também servindo para reapresentar histórias ou introduzir personagens e conceitos.
A melhor ordem para assistir aos filmes da série Evil Dead é na sequência de lançamento, com uma exceção, iniciando pelo original, de 1981, seguindo as sequências ao longo dos anos, o seriado e o remake de 2013, chegando finalmente ao recente filme que recomeça tudo mais uma vez. Essa, porém, é uma simplificação, que vamos abordar de forma mais profunda a seguir.
Atenção: o texto contém alguns spoilers dos filmes anteriores da saga Evil Dead, mas não do mais recente, A Morte do Demônio: A Ascensão.
Uma Noite Alucinante (ou duas?)
Como dito, a saga Evil Dead nasce em 1981 como um projeto quase experimental de Sam Raimi (Doutor Estranho no Multiverso da Loucura). Após gravar curtas-metragens ao lado do irmão, Ted Raimi, e de Campbell, de quem é amigo até hoje, a trupe se reúne para filmar um longa-metragem com financiamento de centavos, algumas ideias fora do usual e muito sangue.
Ao lado de amigos, Raimi transforma a história até batida de um grupo de adolescentes que viaja a uma cabana isolada na floresta em um festival de possessões demoníacas causadas pela leitura acidental do Livro dos Mortos, a partir da gravação feita por um historiador. O Necronomicon, como também é chamado, libera um mal que vai tomando os jovens um a um, enquanto Ash vê todos se perdendo enquanto luta pela própria sobrevivência.
Após muita propaganda boca a boca e exibições menores, o filme ganhou reconhecimento em 1983, quando foi lançado globalmente e chegou inclusive ao Brasil com o título usado até hoje, A Morte do Demônio. O sucesso gerou mais de US$ 2,6 milhões, o que fez, claro, com que Raimi e a distribuidora logo pensassem em uma sequência. Agora com mais recursos, o diretor também poderia levar adiante elementos que deixou de lado no original, que apresenta um tom mais focado no terror e em seus personagens.
O segundo Evil Dead chegou em 1987 e, no Brasil, sofreu uma mudança de título; saía A Morte do Demônio e entrava Uma Noite Alucinante 2 — alguns relançamentos deixaram o numeral de lado. Quem assistiu a ambos, porém, estranhou que o longa não era necessariamente uma sequência direta, mas sim, recontava a trama do original de maneira diferente em seu primeiro arco, seguindo para outro rumo a partir do segundo.
Em A Morte do Demônio, Ash consegue sobreviver até o amanhecer, depois de perder todos os amigos, a namorada e a irmã; ele próprio, porém, acaba possuído pelo mal ao sair da cabana abandonada, mesmo tendo destruído o Necronomicon durante a luta pela própria vida. A sequência, entretanto, começa com o protagonista seguindo para o local acompanhado apenas da namorada, Linda, novamente encontrando o Livro dos Mortos e reiniciando o ciclo de possessões com uma nova leitura a partir de uma gravação.
Ao final do primeiro arco, Ash chega a ser possuído, mas consegue se desvencilhar. Ele acaba se encontrando com a filha do historiador responsável pela tradução do Livro dos Mortos e luta ao lado dela e do namorado, além de um casal de moradores locais. Com mais detalhes sobre o que aconteceu com os descobridores originais do Necronomicon, Evil Dead 2 termina com um final absurdo no qual o próprio mal toma a forma de uma criatura gigante, que ataca a cabana enquanto o protagonista tenta reverter o surgimento do demônio a partir de novas palavras milenares.
Raimi nunca foi muito claro sobre a cronologia de Evil Dead, afirmando diversas vezes que a sequência vem como uma continuação do original, ainda que conte seus eventos de forma diferente. Na cabeça dos fãs, a principal teoria une os dois longas — o original pode substituir o primeiro arco de Uma Noite Alucinante 2 e seguir a partir dele, com Ash perdendo os amigos e a namorada, encontrando novos aliados e, finalmente, mandando o mal de volta para o inferno.
Abraçando a galhofa
O terceiro capítulo dessa história foi lançado em 1992 e nos levou à Idade Média com outra mudança de título; lá fora, o longa se chama Army of Darkness, ou "Exército da Escuridão" em inglês. O portal aberto para mandar o demônio de volta levou Ash junto, com o herói caindo literalmente na corte do Rei Arthur. Lá, ele descobre ser parte de uma profecia; o mesmo mal trazido para o presente também assola o passado, com um forasteiro devendo chegar dos céus para acabar com os possuídos.
Em Uma Noite Alucinante 3, Raimi se afasta ainda mais do terror e brinca com a comédia e o cinema pastelão, apresentando um longa que chegou até mesmo a ser exibido na televisão aberta brasileira, algo que dificilmente acontecia com filmes do gênero. A atuação de Campbell brilha ao máximo aqui, o transformando em um ícone do segmento e trazendo algumas das frases clássicas que são lembradas até hoje.
Em troca da magia que o poderá levar de volta para casa, Ash concorda em ajudar Arthur, Merlin e seus soldados a lutarem contra o mal, que inclui até mesmo uma versão malvada do protagonista. Após uma grande batalha, eles saem bem-sucedidos e o personagem finalmente consegue voltar a seu tempo e ao trabalho como atendente de uma loja de departamentos.
O final, porém, traz um gancho para uma sequência, com um monstro — conhecido agora como Deadite — atacando o estabelecimento e indicando que o demônio pode não ter morrido, no final das contas. Um desfecho alternativo, deixado de lado por Raimi, que o considerou muito sombrio, mostrava Ash acordando 100 anos adiante do que deveria em um mundo apocalíptico, após errar a dose da poção que o levaria de volta, acabando por dormir demais.
Nem uma trama nem outra, porém, foi abordada na seguinte e última vez que vimos Ash. Após mais de duas décadas de espera e muitos projetos de continuação que nunca deram em nada, estreava Ash Vs. Evil Dead, uma produção do canal americano Starz que finalmente continuou a história da franquia. Pobre e descuidado, o protagonista deixou seus tempos de caçador de demônios para trás por 30 anos até que, em uma noite de bebedeira, acaba lendo do Livro dos Mortos enquanto tentava impressionar uma mulher.
O retorno dos Deadites o coloca ao lado de novos aliados, como Ray (Pablo Simon Bolivar) e Kelly (Dana DeLorenzo), mas também da agente Amanda (Jill Marie Jones), que o caça após ele ser acusado de homicídio, quando as primeiras possessões são confundidas com o trabalho de um serial killer. Ecos do passado também voltam na forma de Ruby (Lucy Lawless, a eterna Xena: A Princesa Guerreira), uma caçadora de demônios com alguns segredos e más intenções.
Ao longo de três temporadas, Ash Vs. Evil Dead mais uma vez investiu na mistura da comédia com terror, dando bem mais ênfase para o primeiro gênero. O seriado também aprofundou a figura do próprio protagonista, com direito a um reencontro com o pai, de quem herdou o estilo bonachão e inconsequente, e uma filha adolescente cujo destino também acaba alterado pelo Livro dos Mortos.
Não seria Evil Dead sem mais bizarrice, com o final do seriado, cancelado após três anos, recuperando as memórias do encerramento abandonado de Uma Noite Alucinante 3. Após enfrentar um Deadite gigantesco e aparentemente salvar o presente, Ash acorda em um futuro pós-apocalíptico onde, aparentemente, ele é um dos poucos seres humanos vivos — e um guerreiro venerado.
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Mais uma vez, temos um gancho para sequência não aproveitado e que, provavelmente, permanecerá assim. Após o cancelamento de Ash Vs. Evil Dead, Campbell anunciou a aposentadoria do protagonista e uma ideia de que a franquia seguiria novos rumos dali em diante. Como tudo nessa saga, as coisas podem mudar, com declarações posteriores mostrando o próprio já cogitando empunhar a motosserra mais uma vez. Nada confirmado, por enquanto.
De volta à cabana
Antes mesmo do seriado, porém, tivemos um remake do primeiro longa. Lançado em 2013, A Morte do Demônio trouxe um novo elenco de personagens e, novamente, a história de um grupo de amigos que segue para uma cabana abandonada em uma viagem de férias. O foco no terror foi retomado, com ênfase na violência e brutalidade, com desmembramentos e cenas chocantes que quem assistiu, com certeza, não esqueceu.
A protagonista da vez é Mia Allen (Jane Levy), que se recupera de um vício em drogas e acaba sendo a única sobrevivente do grupo. O roteiro de Fede Álvarez (O Homem nas Trevas) se propunha a contar uma nova história, passada no presente e sem relação com a saga de Ash; até mesmo uma cena em que os dois protagonistas se encontrariam foi deixada de lado em prol dessa “independência”.
A palavra aparece entre aspas pois o remake fez mais do que apenas referenciar os longas originais, acendendo teorias entre os fãs. Uma ideia corrente é de que o mal gerado pelo Necronomicon pode ter um efeito cíclico, atingindo regiões e pessoas de formas diferentes, o que explicaria, por exemplo, a cabana ainda estar em pé após ter sido destruída em Uma Noite Alucinante 2. Ash Vs. Evil Dead, porém, não abraçou essa ideia, sem que Mia fosse mencionada uma única vez, para tristeza dos fãs que gostaram da produção e gostariam de ver uma continuação.
Um novo mal
Chegamos, finalmente, à Morte do Demônio: A Ascensão, que estreou no Brasil em 20 de abril de 2023. A história sem relação com os filmes originais, mas produzida por Campbell e Raimi, leva o horror para a cidade de Los Angeles, onde a libertação dos demônios do Livro dos Mortos acaba se transformando na desgraça de uma família já meio disfuncional, bem como de outros moradores de um edifício caindo aos pedaços.
A ideia, de acordo com a dupla de produtores, é reapresentar a franquia aos novos fãs e a levar a uma nova direção, com lançamentos mais constantes e novas histórias. Não há, porém, menção de tentativas de conexão com o universo original ou até mesmo o remake de 2013, e enquanto o novo longa não necessariamente define que nada do que veio antes aconteceu, até o próprio livro tem seu funcionamento próprio e diferente, indicando que, aqui, temos efetivamente um novo mundo a ser explorado.
O melhor, porém, é assistir A Morte do Demônio: A Ascensão por último, após os longas originais, o seriado e o remake, nesta ordem. Ainda que a nova versão não seja conectada a eles, seus conceitos são comuns, o que gera um melhor entendimento dessa maldição toda, assim como dá sentido a diversas referências que aparecem ao longo de toda a produção.