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Crítica | Troop Zero grita contra um mundo retrógrado

Por| 28 de Novembro de 2020 às 15h00

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Assistir a Troop Zero é como entrar em um universo muito próximo, aparentemente simples e acessível. Não existem tentativas mirabolantes de deixar a história complexa. Desde o princípio, o filme consegue segurar a atenção do público e a direção da dupla Bert & Bertie sabe explorar essa atenção com muita sensibilidade.

Parte disso está na presença mais-que-cativante da atriz mirim Mckenna Grace. A intérprete da protagonista é de um carisma absoluto e, sabendo disso, a direção explora cada detalhe expressivo. Ao iniciarmos o filme a partir do rosto da pequena, acabamos por ficar um tanto quanto hipnotizados pela ingenuidade. É a isca perfeita para um desenrolar que é, ao mesmo tempo, transparente e simbólico.

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Atenção! Esta crítica contém spoilers sobre o filme!

Experiência alienígena

Ao descrever um recorte da vida de Christmas Flint (Mckenna), a roteirista Lucy Alibar (de Indomável Sonhadora) parece disposta a permanecer no básico e, de certa forma, em um formato já visto muitas vezes antes: um grupo de personagens desajustados ou avessos ao sistema reúne-se em torno de uma luz guia. Esta luz, que é Christmas, segue uma busca, a princípio, por um contato extraterrestre.

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Claro que nada seria tão interessante se o resultado fosse somente uma aventura direta, sem contratempos. Nesse sentido, Troop Zero é praticamente uma releitura de Pequena Miss Sunshine (de Jonathan Dayton e Valerie Faris, 2006). Por outro lado, Bert & Bertie demonstram estar muito mais preocupados em elevar a sua protagonista do quem em dar complexidade aos coadjuvantes.

A forma, então, é onde as comparações talvez percam força, porque se no filme de 2006 o elenco inteiro tinha um peso praticamente igual, tanto pela direção de Dayton e Faris quanto pelo roteiro de Michael Arndt (de Toy Story 3), aqui Mckenna reina. E isso é algo gigante para uma criança que está contracenando com Viola Davis. O timing de suas reações é algo raro e sua segurança com uma personagem tão sensível é algo quase sobrenatural, de uma experiência inimaginável para a idade.

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Paixão pela liberdade

Dentro de todo o contexto aventureiro de Troop Zero, existem relações com a realidade. Algumas são óbvias, como o tom progressista em seus comentários mais do que ácidos sobre Joseph (Charlie Shotwell) e em suas críticas negativas a respeito da condição feminina de necessitar ser uma lady. Outras, porém, estão implícitas e são estas que mais enriquecem o filme de subtextos e promovem uma leitura mais profunda sobre tudo.

O pai de Christmas (Ramsey — interpretado por Jim Gaffigan) é o pivô de uma profundidade silenciosa. Sua relação com a filha, que a princípio tem algum distanciamento, logo se percebe como uma paixão pela liberdade. Ele — que, inclusive, chama a filha de patroa — não somente a incentiva em suas decisões, mas, quando necessário, luta ao seu lado sem que, para isso, precise a superproteger.

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Ramsey, por essa perspectiva, é mais do que um coadjuvante de Troop Zero, ele se faz de secundário na vida da personagem de Mckenna. Ele é o suporte, aquele que, se for necessário, estará presente, mas que acredita não ser essencial o seu protagonismo. Aliás, a saudade que ele sente de sua falecida esposa (mãe de Christmas) parece entalada em sua garganta desde sempre, até o momento em que, finalmente, ele diz para a filha que eles podem conversar sobre qualquer assunto.

Permanecemos aqui...

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Assim como o citado Pequena Miss Sunshine, Troop Zero não esconde a sua dedicação em elevar oprimidos e em, sutilmente, ridicularizar opressores. De repente, Bert & Bertie vão até um pouco além: por mais que vilanizem as opressoras, acabam humanizando, no fim, a senhorita Massey (Alisson Janney). É um ato com muitas camadas e que traz um ar de bondade e satisfação após uma hora e meia (ou quase isso).

Troop Zero não é nada complexo e é tão fácil de assistir quanto uma aventura infantojuvenil sem pretensões. Simultaneamente, é tão recheado de possibilidades que, instantaneamente, pode construir um lugarzinho confortável no nosso coração. As palavras e os chamados, na última cena, são, dentro da história, para o universo, para extraterrestres... mas o universo, na verdade, é qualquer um de nós que permanece insistindo em um mundo retrógrado, falsamente moralista, antipático e que ainda pouco faz para reconhecer a necessidade por equidade.

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Os aliens somos nós. Christmas — que não deve ter o nome da data que celebra o nascimento de Jesus Cristo por acaso — é a representação de uma humanidade mais sensível; é a isca perfeita para que, quebrando-se as barreiras do simbolismo, possamos agir para enxergar, no futuro, um mundo muito mais bonito. E sem qualquer ingenuidade, mas mantendo o espírito livre de uma criança: especialmente livre de preconceitos. 

Estamos aqui. Estamos aqui. Estamos aqui.

Troop Zero está disponível no catálogo do Amazon Prime Video.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.