Crítica Super Mario Bros | Filme evoca tudo aquilo que torna Mario um ícone
Por Durval Ramos | Editado por Jones Oliveira | 05 de Abril de 2023 às 10h00
Super Mario Bros – O Filme é um filme raro. É uma daquelas obras em que você percebe o carinho e o cuidado com cada elemento, em cada cena e em cada um dos diálogos. Um cuidado quase artesanal de quem sabe do valor daquilo que tem em mãos — a franquia mais famosa dos videogames e uma parte importante da infância de muitas gerações. Ele me trouxe a mesma magia de quando joguei Super Mario Bros 3 pela primeira vez no NES do meu primo.
É algo tão poderoso e potente que é difícil de descrever. É como a cena de Ratatouille em que o crítico gastronômico prova seu prato de infância e, de repente, se vê novamente como criança e inundado por todas aquelas memórias. Da mesma forma, eu me vi sorrindo na sala de cinema da mesma forma que, décadas atrás, me vi encantado ao ver um encanador pular sobre uma tartaruga.
Sem ter vergonha de se apresentar como uma aventura infantil, ele traz uma história simples, mas repleta de coração em que o cerne é justamente aquilo que sempre foi a essência da Nintendo ao longo das décadas: o cuidado com a diversão. Assim, Super Mario Bros – O Filme convida todo mundo a entrar nesse mundo lúdico e a voltar a ser criança. E, assim como da primeira vez em que joguei, eu não queria mais ir embora de lá.
Nostálgico sem ser apelativo
A gente sabe como a nostalgia se tornou um aditivo poderoso no mundo do entretenimento. Só que Super Mario Bros – O Filme não usa esse sentimento como uma muleta para engajar o público nessas memórias. Na verdade, é o contrário: todo esse universo está tão presente em nosso imaginário e recordações que é impossível ficar alheio à enxurrada de menções e brincadeiras que ele faz a todo o instante.
É aí que esse cuidado quase artesanal por parte da Illumination e da própria Nintendo se faz tão evidente. Tudo é pensado e construído para remeter não só aos diversos jogos da série, mas ao espírito e às memórias que esses games evocam. Há um respeito muito grande com esse universo de modo que cada elemento seja bem representado e faça sentido para o público.
É claro que, para os jogadores, essa visita ao Reino Cogumelo é um mergulho em um oceano de referências e piadas que vão remeter a um ou outro game. São dezenas de brincadeiras com personagens ou situações que só vão fazer sentido para esse público, mas que estão presentes no fundo da tela ou em um diálogo rápido que não alheia quem não está tão familiarizado assim.
Ainda assim, até mesmo esse cerne da trama resgata situações típicas dos videogames que são um tempero adicional a uma trama que é bastante simples, mas que funciona muito bem. Até porque a ideia de o herói ter que salvar a princesa — ou, no caso, o irmão Luigi — é algo que até mesmo quem conhece Mario apenas por cima tem bem consolidado no imaginário.
É nesse ponto que a Nintendo mostra sua força. Não há uma pessoa no mundo sequer que não conheça esses personagens. Mesmo quem nunca jogou sabe quem é Mario, Luigi e a Princesa e essa familiaridade é muito bem explorada na hora de construir essa história. Por serem figuras tão icônicas, o filme não perde tempo e nem tenta arranjar explicações para coisas que nascem básicas.
Isso permite tanto que a história do resgate quanto as próprias motivações do vilão Bowser e outros pequenos acontecimentos na trama funcionem apesar de toda simplicidade. Ainda que o tom mais infantil da animação permita esse tipo de ludicidade de uma tartaruga gigante querer casar com a princesa humana do Reino Cogumelo, é o tipo de absurdo que não precisa de grandes explicações porque faz parte de uma história que todo mundo conhece e sempre aceitou. E, ao contrário do filme de 1993, o novo Super Mario Bros abraça essa característica e a ostenta com orgulho.
No tom certo
Outro acerto enorme de Super Mario Bros – O Filme é a localização nacional. O estúdio fez uma excelente escolha dos dubladores que dão um carisma extra enorme a todos os personagens e à história. Do sotaque dos protagonistas bigodudos a pequenas piadinhas feitas pelos Toads ou Koopas, trata-se de um trabalho magnífico que apenas deixa esse universo ainda mais perto da gente.
Por isso mesmo, faz todo o sentido o filme dar destaque a esses dubladores nos créditos finais ao invés dos atores originais. Se o longa é todo coração, a localização brasileira é um pulsar a mais nessa batida calorosa.
Muito se criticou a escolha e a interpretação de nomes como Chris Pratt e Seth Rogen como Mario e Donkey Kong, por exemplo. Só que, na nossa dublagem, é fácil perceber o quanto todo o elenco está empolgado em dar vida a esses personagens. Da dupla Raphael Rossatto e Manolo Rey como os heróis bigodudos ao estilo histriônico que Eduardo Drummond dá ao seu Toad, tudo é incrível. E destaque para Márcio Dondi, que teve que se desdobrar para mostrar todas as facetas deste Bowser.
Here we go
Super Mario Bros – O Filme não é revolucionário e tampouco um capítulo marcante da história do cinema. Ainda assim, ele é exatamente aquilo que os fãs esperaram por décadas para ver do personagem mais icônico e importante dos videogames.
Só que a animação não está interessada em apenas lidar com essa responsabilidade. Na verdade, a grande missão desse filme é mostrar por que uma ideia tão simples (e até boba) de um encanador pulando em tartarugas para salvar uma princesa é tão poderosa a ponto de marcar gerações. E ele mostra muito bem tudo isso não apenas com uma boa história, mas entregando diversão em seu estado puro e com um cuidado e respeito raros.
Mais do que nostalgia, Super Mario Bros – O Filme se apoia no poder de sua própria mitologia; nos significados que cada Koopa, cogumelo ou moeda ganhou ao longo de todo esse tempo. Sem ser gratuito ou apelativo, é uma aventura totalmente coração feita para nos lembrar por que amamos tanto essa brincadeira e, o que é mais importante, fazer com que novas crianças sintam a magia de apertar o start pela primeira vez.
Super Mario Bros – O Filme está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil; garanta o seu ingresso na Ingresso.com.