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Crítica Re/Member | Filme quer ser anime e esquece de ser terror

Por| Editado por Jones Oliveira | 17 de Fevereiro de 2023 às 20h30

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O que faz um filme de terror não é a existência do sobrenatural, de um monstro ou de um número de mortes violentas. O horror nasce do modo como esses elementos são unidos para criar um clima que deixe o espectador tenso. É um medo que nasce da apreensão pelo desconhecido e inesperado. Dito isso, Re/Member não é um filme de terror, como a Netflix o vendeu ao público.

Esse é o grande problema do longa japonês que acaba de chegar ao streaming. Apesar das boas ideias e de se aproveitar de muitas referências para criar uma premissa intrigante, o próprio roteiro parece ter dificuldades de saber por qual caminho seguir. E, se nem mesmo a trama sabe direito o que quer ser, o que dizer de sua divulgação.

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O resultado é uma história que funciona muito mais como um anime que usa a estética do horror para falar de solidão e amizades em um tom juvenil do que algo realmente feito para criar a tensão que a gente espera do terror. E, vindo de uma escola tão marcante quanto o cinema japonês, não deixa de ser uma surpresa frustrante.

Um anime na alma, mas não no corpo

Re/Member é a adaptação de uma história que surgiu como contos online publicados em um site japonês e que, diante do sucesso, acabou virando anime e mangá. O filme que chegou à Netflix traz várias mudanças em relação ao material original, mas ainda tem uma premissa bastante interessante.

A ideia é simples: um grupo de estudantes japoneses se vê preso dentro de um jogo macabro com um espírito assassino. Presos em um loop temporal, eles vivem o mesmo dia repetidas vezes até que encontrem todas as partes do corpo de uma menina morta décadas atrás. Enquanto isso, uma entidade conhecida como Pessoa Vermelha vai matando um a um dos participantes.

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A proposta é, na verdade, uma grande colagem de ideias. Há elementos de jogos como Persona 3, Danganronpa e The World Ends With You, além de mangás e animes como All You Need is Kill e Re:ZERO — isso sem falar do próprio Feitiço do Tempo e seu dia da marmota. É uma mistura que não fica ruim, pois reúne esse mar de referências com um verniz de forma criativa.

O problema é que essa é uma estrutura que é muito difícil de funcionar para o terror. O medo nasce diante da incerteza e do desconhecido e o loop temporal vai exatamente na contramão disso. Quando você sabe que vai viver (e morrer) o mesmo dia inúmeras vezes, a ideia do monstro que está à sua caça deixa de ser assustadora. É como um videogame com vidas infinitas: a tensão vai embora assim que você entender que o fim não é definitivo.

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E isso é tão evidente em Re/Member que o próprio filme decide no meio do caminho que a ideia não é mais ser uma história de terror e ele se transforma em outra coisa. Tão logo os personagens entendem as regras do jogo, o longa vira a chave para virar um anime adolescente que vai tratar da solidão de cada um dos protagonistas e como aquele evento bizarro vai se tornar o ponto de contato entre eles, fazendo surgir uma nova amizade.

Nesse sentido, ele aproveita bem o loop temporal como essa estrutura narrativa para falar sobre novos olhares de uma mesma rotina. Dentro dessa temática sobre a solidão do jovem japonês, o roteiro se propõe a mostrar que a mudança está em uma simples mudança de perspectiva — uma lembrança de que a solução sempre esteve ali.

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E isso é uma coisa tão anime que a própria linguagem se faz presente. Dessa alegoria todo, à montagem musical — com uma canção bem animada cantada por uma teen idol — e à interpretação alegre e cheia de trejeitos exagerados dos atores, tudo o que você espera de uma animação está ali. Tanto que, se fosse um desenho no estilo, funcionaria perfeitamente bem. Aliás, a música é muito boa.

Só que, enquanto tudo isso se desenrola, a história central do espírito assassino perde sua força de forma avassaladora. Até mesmo a busca pelas partes do corpo esquartejado da menina ganha ar de gincana e toda tentativa de criar um terror a partir disso se esvai.

Tanto que, já no terceiro ato, Re/Member tenta fazer uma reviravolta para recuperar o senso de perigo e a tensão, mas esse bonde já foi embora há muito tempo. O maior exemplo disso é que a Pessoa Vermelha assume uma nova forma supostamente mais ameaçadora, mas que se torna apenas ridícula.

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Tom errado

O pior de tudo é que Re/Member tinha tudo para não ser filme ruim, mas tomba diante dessa indefinição do que quer ser, ficando no meio do caminho de duas propostas bem antagônicas. O terror não consegue coexistir com essa trama alto astral que o roteiro quer contar e o resultado é um Frankenstein desconjuntado e bastante estranho.

E o mais irônico de tudo é que, nessa bagunça toda, é o terror que está sobrando — que é justamente como o longa se vende. O cerne da história está nessa garota isolada que, a partir desse loop temporal, cria verdadeiros laços de amizade.

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É a típica história de um anime e que funcionaria muito bem caso essa fosse a proposta. Não por acaso, essas cenas mais leves são bem divertidas e fazem você gostar daqueles personagens. As coisas desandam quando o longa tenta personificar a solidão que aflige esses protagonistas em um monstro e fazer com que isso se encaixe dentro da estética de terror.

O resultado final é uma boa ideia desenvolvida da pior maneira possível que não agrada quem esperava o mínimo de horror e não alcança o público do anime. Assim, da mesma forma que ele parece não saber o que quer ser, deixa claro que não sabe quem quer alcançar.

Re/Member está disponível no catálogo da Netflix.