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Crítica Propriedade | Thriller nacional é o retrato da barbárie humana

Por| Editado por Durval Ramos | 08 de Dezembro de 2023 às 19h15

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Símio Filmes
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Protagonista de muitos festivais nacionais e internacionais, o suspense dramático Propriedade chega aos cinemas comerciais no dia 14 de dezembro entregando ao público uma história ímpar que faz um retrato brutal, porém perfeito, da barbaridade que o ser humano é capaz de fazer.

Com um texto simples e focado na dualidade do diálogo — são dois lados opostos que não conseguem conversar —, o filme, que teve seu argumento inspirado no cenário político do Brasil de 2018, mostra o que acontece quando dois extremos se chocam.

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De um lado, Teresa (Malu Galli) e Roberto (Tavinho Teixeira) são um casal de classe média alta que tem uma fazenda no interior. Enquanto ele é um homem soberbo que pensa que seu dinheiro compra tudo, ela é uma mulher traumatizada pelo assalto que viveu. Juntos, os dois partem em um carro blindado rumo ao casarão, em busca de paz.

Chegando lá, no entanto, encontram o outro lado da moeda: um grupo de trabalhadores rurais que, desesperados pela notícia que serão despejados da fazenda e ficarão sem trabalho, decidem partir para a brutalidade. Primeiro, eles invadem o local em busca de dinheiro, jóias e dos documentos que provam que eles trabalharam anos a fio ali — afinal, nunca foram registrados —; depois, vendo que estão encurralados, usam a violência como meio de comunicação.

Tudo começa quando o casal surpreende o grupo dentro da fazenda. Roberto, sempre arrogante, decide expulsá-los sem sequer ouvir o que eles têm a dizer. Enquanto isso, sua esposa traumatizada se esconde no carro e espera o desfecho da barganha. Acontece que, depois de alguns “contratempos”, Roberto sai de lá ferido, com um tiro na boca e no olho.

A partir desse ponto não tem mais volta, e o que se segue é uma sequência de momentos aterrorizantes que dividem a opinião do espectador. O grupo faz de tudo para tirar Teresa do carro, desde atirar nos vidros blindados até atear fogo no automóvel. Ela, por sua vez, resiste sem ter muita escolha.

Usando o automóvel como um dos cenários principais, Daniel Bandeira, que assina o roteiro e a direção, constrói um ambiente claustrofóbico capaz de dar agonia até naqueles mais tranquilos. Do lado de fora, a fazenda também se torna pequena para tamanha tensão.

Sem dar voltas desnecessárias e nem correr atrás do próprio rabo, Propriedade é um thriller que faz os olhos do público ficarem fixos à tela, sem dar brecha para dispersões. Enquanto o começo é mais lento, a virada da segunda metade ganha fôlego à medida que as sequências de absurdos começam a aparecer. Como apoiar o grupo de trabalhadores depois de tudo que eles fazem? Como ter piedade de Teresa se ela vive em uma bolha de privilégios? Essas são algumas das perguntas que permeiam o filme. No fim, não há resposta fácil — se é que existe uma.

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Misturando um pouco do incômodo Animal Cordial com o aclamado Que Horas Ela Volta? e salpicando mais um tanto de Bacurau, Propriedade é uma amálgama dos brilhantes filmes nacionais, mas também conseguiu ter personalidade própria para não ser esquecido. Seu final é absurdo e chocante, daqueles que fazem o espectador engolir em seco.

Um filme de poucas palavras

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Se tem uma coisa que Propriedade dispensa são os longos diálogos. Apesar de ter um elenco com um número significativo de atores, a obra quase não usa as palavras para contar a história.

Malu Galli, por exemplo, vive uma Teresa praticamente muda, já que sua personagem fica enclausurada no carro sem ter com quem conversar. E mesmo só tendo as expressões faciais para mostrar suas emoções, a atriz entrega uma ótima atuação. É nítido ver quando ela ainda tem esperanças de sair daquela situação e quando fica resignada com seu destino.

O restante do grupo também não faz feio e, entre todos, Zuleika Ferreira, a Dona Antônia, é a que ganha mais protagonismo. Ela vive uma mulher a princípio doce (dentro do possível) e amarga no final, reforçando a dicotomia do longa.

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E é com esse elenco afiado, um texto potente e ácido, e uma direção primorosa na produção, fotografia e na própria arte que Propriedade se firma como um dos melhores nacionais de 2023, merecendo ser assistido pelo maior número de pessoas possível. Lembrando que ele estreia nos cinemas no dia 14 de dezembro.