Crítica Projeto Extração | Quase uma fita aleatória na locadora mais próxima
Por André Mello • Editado por Jones Oliveira |
Existe uma sensação muito específica que muitas pessoas não vão conseguir entender, mas aqueles com mais de 30 anos vão lembrar muito bem. Quando se ia em uma locadora buscar um filme para assistir e todos os bons já tinham sido locados, sobravam somente aqueles títulos de qualidade duvidosa, mas com um rosto conhecido na capa.
No fundo, você sabia que aquele filme teria baixo orçamento ou usaria muito mal o dinheiro investido, com atores que já estão longe dos seus dias de glória ou só tentando faturar uma graninha. Mesmo sabendo disso, a locação acontecia e por uma hora e meia ou duas, você esquecia dos seus problemas, assistindo a uma farofa qualquer em casa.
É o tipo de produção que passava na TV aberta em horários bastante questionáveis, mas que ganharam bastante espaço nos streamings. E é assim que começamos a falar de Projeto Extração, novo filme de Jackie Chan (A Hora do Rush) e John Cena (Pacificador).
A história de Projeto Extração
Projeto Extração conta a história de uma equipe de segurança que é enviada a uma refinaria chinesa no meio do Oriente Médio. Quando o local é atacado e seus funcionários são ameaçados, a equipe liderada por Dragão Lau (Jackie Chan) começa o seu transporte para fora dali.
Em paralelo, uma equipe de mercenários americanos recebe a missão de capturar algumas figuras que estavam na refinaria. Um ex-membro da Marinha, Chris (John Cena), acaba entrando na missão junto com seu irmão, tentando arrumar dinheiro para levar água a um vilarejo local.
Os dois lados acabam se encontrando, revelando que existe um plano para tomar a refinaria, algo que Lau e Chris vão precisar impedir, mas antes precisam aprender a trabalhar juntos.
Essa parece a sinopse mais genérica do mundo para um filme de ação, mas é porque Projeto Extração é realmente bastante genérico. A história se desenvolve exatamente do jeito que você espera desde o momento em que vê os vários nomes das produtoras chinesas envolvidas nele.
Isso não seria um problema se fosse uma história cativante, mas as coisas simplesmente vão acontecendo, diálogos bastante fracos são jogados para o espectador lembrar que ele está vendo um filme, mas sem ter qualquer tipo de reação emocional ao que está assistindo.
Um filme de ação que não empolga
Projeto Extração tem um problema bastante grave que é não saber utilizar tão bem as coisas que tem em mãos. O fato de ter Jackie Chan e John Cena como estrelas poderia ser um indício de boas cenas de ação, seja através das habilidades como lutador de Chan ou pela explosão em golpes que Cena consegue aplicar.
Existem momentos em que os dois são usados de um jeito mais próximo do que o esperado, principalmente o veterano, mas não existe nada realmente empolgante no filme. Chega a ser impressionante como até mesmo as melhores cenas somem da memória segundos depois de acabarem.
O longa também tem problemas com o tom que tenta passar com a história. Se, na primeira metade, Projeto Extração tenta ser sério, na segunda, começa a investir mais em piadinhas que não funcionam e na ação mais absurda. Se ele tentasse ficar mais em um lado desse pêndulo, talvez acabasse sendo mais divertido.
Não saber aproveitar os atores é um pecado
Projeto Extração foi filmado em 2018 em uma parceria entre produtoras chinesas, buscando criar um título que também pudesse beliscar um pouco do mercado ocidental. O longa tem um astro dos filmes de luta de Hong Kong, comprovadamente popular no mundo inteiro, ao lado de um ex-wrestler que estava se firmando como ator de ação em Hollywood.
Você percebe que John Cena, em sua fase pré-O Esquadrão Suicida e O Pacificador, ainda estava tentando se entender como ator, após anos participando da WWE. Falta um bom roteiro e uma boa direção para mostrar do que ele é realmente capaz, além de ser apenas um cara musculoso e carismático.
A maneira como o diretor Scott Waugh, da adaptação para os cinemas do game Need for Speed e do vindouro Os Mercenários 4, usa o Cena e Chan chega a ser criminosa. O veterano já mostra sinais de sua idade, mas ainda consegue realizar boas sequências de ação, mas isso não é bem mostrado em Projeto Extração.
John Cena também parece esquisito tentando lutar algo com algo que parece um kung fu mal treinado e golpes de alto impacto. Isso fica mais evidente ao assistir os créditos finais e notar que o John Cena carismático que vimos como Pacificador estava ali, mas o diretor optou em não usar esse material.
Como todo filme do Jackie Chan, esse trecho mostra os erros de filmagem e John Cena brilha com algumas piadas e trejeitos que fariam toda a diferença na dinâmica de Projeto Extração. Por algum motivo, jogaram todo o carisma dele para os créditos e deixaram por isso mesmo.
Esse motivo pode ser o fato de o papel não ter sido escrito para ele. Quando a produção de Projeto Extração começou, a ideia era de que o protagonismo fosse dividido entre Jackie Chan e Sylvester Stallone (Creed 2). Quando Sly deixou a produção, ela foi retrabalhada e Cena entrou no seu lugar. O problema é que parece não terem trabalhado tanto assim para acomodar a personalidade do ex-wrestler.
Não serve para as madrugadas da TV aberta
Projeto Extração foi lançado mundialmente pela Netflix e se tornou um dos títulos mais vistos na plataforma nos dias seguintes. Aquela sensação de alugar filme ruim porque tinha gente conhecida na capa me parece ter sido decisiva para todos esses espectadores.
O filme perde várias oportunidades de ser mais divertido por pura falta de noção do que estava sendo feito. Efeitos especiais ruins, fotografia que me faz acreditar que 80% foi gravado em um estúdio fechado, má utilização de suas estrelas e, mesmo assim, a esperança de sequências através de um dos ganchos mais safados dos últimos tempos.
Serviços de streaming têm muitas opções melhores de filmes de ação que caem mais para o lado genérico do cinema. Provavelmente, nem mesmo os maiores fãs de Jackie Chan e John Cena vão achar que essa bomba vale a pena ser assistida.