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Crítica | Pai em Dobro explora amor independente dos laços sanguíneos

Por| 20 de Janeiro de 2021 às 10h00

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A Netflix tem investido fortemente em expandir o catálogo de conteúdos originais brasileiros e enfim levar um pouco mais da arte nacional para ao redor do mundo. Até então, isso tem dado certo, no ano passado, foi divulgado que Modo Avião, comédia romântica protagonizada por Larissa Manoela, foi reproduzido por 28 milhões de assinantes pagos ao redor do mundo, tornando-se o filme em língua não-inglesa mais visto da plataforma de streaming. Em dezembro, a comédia com Leandro Hassum Tudo Bem No Natal Que Vem fez história por ser o primeiro filme nacional de Natal da Netflix, mantendo-se firme e forte no Top 10 Brasil durante semanas.

2021 reserva mais aventuras faladas em português no streaming. No início de fevereiro, a série nacional Cidade Invisível estreia com uma trama de suspense carregada de histórias do folclore brasileiro; além disso, há também a segunda temporada de Bom Dia, Verônica prevista para esse ano, enquanto Coisa Mais Linda ainda aguarda a renovação para a terceira parte. Enquanto essas produções não chegam, a Netflix entregou mais um filme leve e divertido com um rosto bem conhecido no papel principal: Maisa, após "flertar" muito com a empresa de entretenimento nas redes sociais e até chegar a apresentar a versão digital do Tudum no ano passado, finalmente dividiu com o público o que tanto guardava em segredo, o longa Pai em Dobro.

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É importante ressaltar antes de qualquer coisa que os cinéfilos de plantão não encontrarão na trama de Pai em Dobro uma verdadeira obra-prima, até porque desde o princípio o filme não prometeu ser a próxima revolução do cinema e nem se mostrar um forte concorrente na próxima edição do Oscar. Assim como Modo Avião, a história é leve, alto astral e sem muitas preocupações em ser coerente durante cem por cento do tempo, mas que cumpre no final das contas o seu objetivo inicial e, honestamente, no final é isso que vale.

Atenção! A partir daqui o texto contém spoilers sobre o filme Pai em Dobro. Leia por sua conta e risco.

Com um enredo que mistura elementos de Mamma Mia! com diversas temporadas de Malhação, Pai em Dobro acaba arriscando-se por seu roteiro surgir antes do livro em que é baseado. Da mesma autora de diversas obras adolescente, Thalita Rebouças faz sua estreia na Netflix como roteirista ao lado de outros nomes da comédia nacional, como João Paulo Horta (Vai Que Cola, Minha Mãe É Uma Peça), Renato Fagundes (Modo Avião) e Marcelo Andrade, que marca mais uma parceria com Maisa depois do filme Meus 15 Anos.

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A história acompanha Vicenza (Maisa), moradora de uma comunidade hippie chamada Universo Cósmico em que está comemorando seus 18 anos de idade e, assim como todos os seus aniversários, seu único desejo resume-se a conhecer seu pai biológico que sua mãe (Laila Zaid), curiosamente, nunca deu mais informações sobre. Disposta a responder essa questão, a jovem agora maior de idade embarca numa aventura para Santa Tereza, no Rio de Janeiro, para enfim conhecer o homem de quem sua mãe engravidou.

Logo no início é nítida a presença de Thalita Rebouças no roteiro uma vez que a narrativa parte sempre do ponto de vista da protagonista, assim como um livro em primeira pessoa. O desenrolar da história assemelha-se muito a um verdadeiro conto de fadas, com problemas muito fáceis de serem resolvidos e poucas preocupações, desde a situação de Vicenza, uma pessoa com pouca vivência urbana, caminhando sozinha por uma rodoviária carioca e pedindo informações a estranhos ao fato da personagem criar laços tão rapidamente com qualquer pessoa que aparece em sua frente.

O filme preocupa-se muito pouco em se aproximar da realidade desde que complete a jornada da protagonista com sucesso, o que pode tirar um pouco a credibilidade de certas situações. Vale destacar que o entusiasmo de Maisa ao interpretar sua personagem acaba sustentando diversas cenas, e fica claro para o público como a atriz se diverte na tela. O trabalho dos demais atores também é de se elogiar, por mais rasos que seus arcos sejam, como o de Cadu (Pedro Ottoni), que traz carisma e espontaneidade ao papel de interesse amoroso da protagonista, estrelando diversas situações fofas e engraçadinhas com a atriz.

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Ao ir atrás do homem que suspeita ser seu pai a partir de uma fotografia da mãe no carnaval de dezoito anos atrás, Vicenza conhece Paco (Eduardo Moscovis, que brilha e se diverte no papel de "tiozão"), um artista solteiro que vive numa espécie de ressaca criativa. Inicialmente, as cenas dos dois se conhecendo soa tão desconfortável quanto a situação em si, mas o espectador acaba desenvolvendo o carinho pela relação conforme o filme a desenrola, o que faz o público se frustrar junto à protagonista com o aparecimento de Giovanni (Marcelo Médici), outro possível pai.

É nesse momento que o filme acaba ganhando um pouco mais de ritmo e fazendo o espectador se ver tão dividido quanto a própria personagem a fazer uma decisão. Diferente de Paco, Giovanni acaba acolhendo Vicenza logo no início, muito pelo fato de ter dois enteados, enquanto o "concorrente" nunca quis um filho, mas embora suas abordagens paternas sejam tão diferentes, fica difícil para o público tomar um lado, fazendo o filme atingir seu objetivo de se apegar a todos os personagens com sucesso.

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Embora o clímax se resolva muito depressa, Pai em Dobro acaba trazendo uma mensagem muito bonita e que vale destaque. Fugindo dos clichês de comédia romântica, o filme ganha pela simplicidade em entregar uma moral da história tão importante e emocionante: a de que não são necessários laços sanguíneos para amar alguém, e, por muitas vezes, aqueles com quem dividimos a árvore genealógica jamais terão o mesmo carinho e preocupação com uma pessoa de sobrenome diferente.

É válido destacar também os vinte minutos finais do filme, que entrega belas imagens do Carnaval raiz carioca, transbordando cores, alegria e música pela tela que agora está disponível para qualquer país experimentar um pouco da cultura brasileira por meio do catálogo global da Netflix. Infelizmente, Pai em Dobro peca em algumas cenas quando se trata de cultura retratada no longa, como nos estereótipos hippie, chegando até a algumas piadas e dizeres ofensivos pelos próprios personagens.

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A trilha sonora também ganha muitos pontos, apostando em nomes que fazem sucesso dessa nova cena do pop brasileiro como Melim, Anavitória e Rubel, o filme fica com um gostinho de férias ou sessão da tarde, para assistir sem preocupações e distrair a cabeça por um instante. Pai em Dobro pode não ser inovador ou oferecer um enredo de primeira, mas cumpre seu papel de entreter com pouco e ainda entregar uma mensagem inspiradora no final. O longa está disponível na Netflix.