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Crítica O Sequestro do Voo 375 | Um retrato fiel da década perdida do Brasil

Por| Editado por Durval Ramos | 24 de Novembro de 2023 às 18h30

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Star Original Productions
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Quem viveu os anos 1980 no Brasil, ou até mesmo quem já estudou um pouco a respeito, sabe que o período foi considerado por muitos como “a década perdida” devido à fragilidade da economia brasileira logo após a redemocratização, com a hiperinflação e as constantes mudanças da política econônica — algo que se refletia duramente na sociedade. E é justamente esse cenário caótico e lamentável que serve de plano de fundo para O Sequestro do Voo 375, um filme de ação, baseado em um caso real de um avião que foi sequestrado para ser jogado contra a sede dos Três Poderes, em Brasília.

Dirigido por Marcus Baldini (Bruna Surfistinha), a trama é simples e direta, e acompanha a vida do amargurado Nonato (Jorge Paz), um maranhense humilde que, cansado de não ter dinheiro para sustentar a família e decepcionado com as falsas promessas do presidente, decide sequestrar um avião para jogá-lo contra Planalto do Palácio e matar José Sarney.

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Ele não quer dinheiro e nem fama, desejando apenas acabar com a vida daquele que um dia prometeu que todos teriam emprego e que agora fica de braços cruzados assistindo ao país colapsar. E é justamente partindo desse ponto que o texto consegue fazer o espectador ter empatia com esse "vilão" logo de cara.

Nonato é um homem simples, mas que, em um momento de desespero, aceitou os conselhos da loucura. Ele sabia que o aeroporto de Confins, o mais perto de Belo Horizonte, não tinha máquina de raio-x, e escolheu o lugar para embarcar com uma arma e sequestrar a aeronave que ia com destino ao Rio de Janeiro.

O que ele não contava é que encontraria o comandante Murilo no seu caminho. Vivido por Danilo Grangheia (Irmandade), ele é a grande estrela da história e foi responsável por conseguir acalmar o sequestrador e salvar a vida dos mais de 100 passageiros a bordo com manobras consideradas quase impossíveis pela aviação brasileira.

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O embate entre os dois é responsável pelos melhores momentos da trama. Como em um cabo de guerra, Murilo puxa daqui, apelando para a emoção de Nonato, e o sequestrador puxa de lá, garantindo que não tem mais nada a perder e que está disposto a matar o presidente. A tensão entre os dois cresce a cada minuto, e Murilo vai do sujeito comum e pai de família a um herói incansável no tempo certo. Mérito do ator.

Paz (Cangaço Novo) também brilha como Nonato, e consegue construir, ao mesmo tempo, um homem raivoso e ingênuo. Quando a câmera fecha em seu rosto, é fácil ver como ele está desesperado, arrependido e com medo, e é quase cruel desejar que ele seja punido de alguma forma.

No final, o que conta é que a sintonia entre os dois atores é responsável pelo grande êxito do longa, que embora tenha outros excelentes nomes no elenco, é feito em dupla.

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Elenco bom e ritmo certo faz filme brilhar

E já que estamos falando no elenco, é importante ressaltar outro nome relevante, o de Roberta Gualda (O Rei da TV), que vive uma agente da Força Aérea Brasileira que ajuda nas negociações. Com calma e tranquilidade, sua personagem consegue conversar com Nonato e persuadi-lo de desistir do crime.

Já quando falamos no cenário, vale comentar que o longa é ambientado quase 100% dentro do avião e consegue manter a tensão durante todo o tempo, acertando nos jogos de câmera que ora focam na expressão assustada do piloto, ora no rosto desesperado de Nonato e ora nos passageiros angustiados. Isso faz com que seja praticamente impossível desgrudar os olhos da tela e que, a cada minuto que passa, o público queira ver mais e mais daquela história.

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O maior erro, no entanto, fica por conta dos efeitos especiais. É nítido que o avião não está no céu, e todas as vezes que a câmera o mostra voando, o público toma um choque de realidade, como se fosse lembrado de que está vendo uma “história de mentirinha”.

O Sequestro do Voo 375 joga luz a um crime esquecido

De todos os méritos que o filme pode ter, o maior deles é que a trama retrata com atenção um crime que, apesar da sua grandiosidade, ainda é desconhecido. Chamado de 11 de setembro brasileiro, o verdadeiro sequestro do voo 375 aconteceu bem antes do atentado estadunidense e, de acordo com Baldini, pode até ter servido de inspiração para o crime cometido por Osama Bin Laden.

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Além disso, o filme serve como uma homenagem a Murilo, que é o verdadeiro herói da história e que, na época do acontecido, não recebeu nenhum reconhecimento de Sarney. Na obra, no entanto, os roteiristas Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque souberam reconhecer o seu valor ao colocá-lo como protagonista, sem jamais apagar o personagem de Nonato, e sem deixá-lo cair na caricatura do piloto bonachão.

E é assim, com muito mais acertos do que erros, que O Sequestro do Voo 375 se firma como um bom título de ação e uma história que vale a pena ser assistida. Lembrando que ele estreia nos cinemas no dia 07 de dezembro.