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Crítica Música | Comédia faz rir ao apostar na brasilidade do protagonista

Por| Editado por Durval Ramos | 05 de Abril de 2024 às 20h05

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Prime Video
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É raro ver algum filme americano que fale do Brasil ou até mesmo que retrate qualquer outro país sem ser pelos olhos do estereótipo. Focada no próprio umbigo, a indústria cinematográfica dos Estados Unidos é especialista em fazer filmes sobre si mesmos. Mas Rudy Mancuso subverteu essa lógica ao criar Música, um longa que homenageia as suas origens brasileiras ao mesmo tempo que alfineta o senso comum.

Nascido no país do Tio Sam, Mancuso é filho de mãe carioca e se tornou ator, comediante e diretor. No longa, ele dá vida a si mesmo, e vai direto ao ponto: retratar a sua sinestesia. Esse nome esquisito diz respeito à uma condição rara que faz com que a pessoa tenha todos os sentidos trabalhando ao mesmo tempo. No caso do artista e seu personagem, todos os barulhos que ele ouve no ambiente externo são transformados em música dentro da sua cabeça.

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Viver com isso pode ser divertido ou um verdadeiro inferno, a depender do modo como você enxerga — ou ouve, para ser mais preciso. Rudy, no entanto, transformou o limão em uma caipirinha e colocou sua história para ser vista no Prime Video.

Sem muitos excessos e com um roteiro bem bruto — que beira até mesmo um rascunho —, Música conta a história de um jovem que se divide entre estudar para uma faculdade que não gosta, terminar um namoro falido e se apaixonar por Isabella, uma vendedora de peixes e filha de brasileiros que é vivida por Camila Mendes, sua namorada na vida real. 

A trama não tem muitas reviravoltas e o grande ápice acontece quando as duas pretendentes descobrem que estão namorando a mesma pessoa. Aqui a comédia vira um pastelão, mas ainda assim consegue arrancar algumas risadas. Outro ponto positivo é que Música tem um roteiro simples e sabe disso, mas compensa ao adicionar outros recursos narrativos à obra. Há referências ao teatro com a montagem de cenas, à ilustração com os desenhos contando a rotina do protagonista, e aos musicais com os sons ganhando vida na cabeça de Rudy e na tela do espectador.

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O desfecho também surpreende positivamente, já que foge do clichê romântico esperado para focar na jornada de autodescoberta do protagonista. Visto que este é o primeiro longa-metragem que Mancuso assina, pode-se dizer que é uma grata surpresa e um convite a dar mais uma chance ao jovem diretor. 

Quer uma caipirinha?

A típica bebida brasileira feita de limão, açúcar e cachaça aparece quase a todo momento no filme, e logo nos primeiros minutos sugere que Música será mais um longa a estereotipar nossa cultura. No entanto, o filme consegue virar o jogo e usar o Brasil a seu favor. A melhor cena fica para o momento em que Rudy vai à casa dos sogros americanos e eles insistem que ele sabe falar espanhol por ter pais brasileiros. Para piorar, os dois perguntam se a mãe do protagonista é uma imigrante ilegal.

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Todas essas alfinetadas dão força à trama não só por vingar o nosso espírito brasileiro, mas por trazer uma acidez inesperada a uma trama que poderia ser um romance bobo e adocicado. Neste ponto, o filme só peca ao tentar juntar todos os clichês de uma vez só: caipirinha, feijoada e samba parecem palavras- chaves inseridas na história só para ela se destacar entre os outros filmes. Também é preciso falar da cena totalmente desnecessária em que Rudy se encontra com uma brasileira, em um “date” armado pela sua mãe Maria (Maria Mancuso, sua mãe de verdade, diga-se de passagem), e a menina decide beijá-lo quase que imediatamente. Mal feita, essa sequência reforça a visão errada de que brasileiras são vulgares ou fáceis de serem conquistadas. 

Já os acertos ficam por conta da química entre o elenco. Como Rudy, Maria e Camila são uma família na vida real, ficou fácil exalar sintonia em cena. Também é ótimo ver a mãe de Rudy gritando frases como “leva um casaco!”, “já comeu? tem se alimentado?”, algo que toda mãe — especialmente as brasileiras — sempre falam.

Qual a sua ambição?

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Apesar do roteiro ser totalmente focado no protagonista, há um momento espetacular que pode passar despercebido. Ele acontece quando Isabella conta que a sua vontade para o futuro é abrir um negócio no bairro onde trabalha. Por ser uma região pobre e simples, Rudy se impressiona com a falta de ambição da garota. Mas afinal, é preciso querer sempre sair de onde está? É urgente sonhar com ganhar todo o dinheiro do mundo? Singelo, esse diálogo acende uma luz amarela na cabeça dos mais desesperados, afinal, o simples também pode ser perfeito.