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Crítica Máfia da Dor | Querendo ser Lobo de Wall Street com remédios

Por| Editado por Durval Ramos | 03 de Novembro de 2023 às 19h00

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Reprodução/Netflix
Reprodução/Netflix
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A crise de opioides nos Estados Unidos já acabou com famílias e comunidades inteiras e é um assunto que ainda preocupa bastante autoridades do país. Talvez por isso, a forma como Máfia da Dor aborda o começo do problema parece equivocada em diversos momentos, mesmo quando o filme se apresenta apenas como entretenimento.

O longa da Netflix, estrelado por Emily Blunt (O Diabo Veste Prada) e Chris Evans (Vingadores Ultimato), é inspirado em fatos reais, trazendo personagens e situações fictícias, mas que pintam bem a imagem de uma indústria que colocou em risco vidas para ganhar dinheiro. Por ser um tema pesado, tratá-lo como uma espécie de comédia com edição rápida deixa uma sensação estranha no espectador.

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Tentando uma vida melhor

O filme gira em torno de Liza Drake, uma mulher com problemas financeiros que não sabe direito o que fazer para tentar mudar a sua vida. Trabalhando como stripper, ela conhece Pete Brenner, um executivo de uma empresa farmacêutica às vésperas de falir.

Após conversarem, Pete oferece um emprego de vendedora a Liza, que tenta a sorte no novo ramo — principalmente após perder o teto e precisar criar a sua filha adolescente. Logo na primeira cena do trabalho, com Pete falsificando o currículo de Liza para apresentar ao seu chefe, você percebe o nível de profissionalismo no local.

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Liza consegue o emprego, que é basicamente vender uma droga de Fentanil, convencendo médicos a receitarem o remédio em vez de versões criadas por empresas maiores. Liza consegue convencer um médico através de uma prática quase ilegal, promovendo seminários em que os médicos são praticamente subornados a usarem as drogas da empresa.

Isso inicia uma reação em cadeia que faz com que a empresa cresça rapidamente, ainda que o remédio seja bastante perigoso e com alto chance de causar dependência.

Tudo isso é contado de maneira rápida e até mesmo cômica em alguns momentos, com uma edição e estilo claramente inspirados em O Lobo de Wall Street, grande filme de Martin Scorsese.

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Só que David Yates, depois de vários anos apenas lidando com adaptações de Harry Potter e Animais Fantásticos, não é Martin Scorsese. Isso faz com que o filme, ainda que tenha um ritmo interessante, muitas vezes tente mostrar os envolvidos em todo o esquema como pessoas que apenas estão fazendo o seu trabalho, sem considerar as consequências de suas ações.

Enquanto, no filme sobre os corretores de Wall Street, os excessos mostram bem a índole de todos, em Máfia da Dor, existe uma espécie de tentativa de mostrar ignorância dos envolvidos, algo que não faz muito sentido considerando o que eles estavam fazendo.

Emily Blunt faz o filme valer a pena

Porém, tudo poderia desandar rapidamente não fosse o trabalho de Emily Blunt no papel de Liza. Em vários momentos, seja quando ela está desesperada tentando mudar sua vida, se mostrando excelente como vendedora ou mostrando arrependimento por tudo, ela ajuda a levar o filme com a sua atuação.

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Em várias cenas, com uma atriz errada no papel, todo o sentido da personagem se perderia, mas ela consegue fazer o espectador acreditar até mesmo no absurdo, passando por cima das falhas do filme.

Infelizmente, isso não acontece com Chris Evans. Ele já demonstrou o seu talento em vários outros filmes, como pode ser visto em Entre Facas e Segredos. Apesar de os dois papéis serem de pessoas com poucos escrúpulos, o seu Pete Brenner de Máfia da Dor parece precisar de um ator mais explosivo, enquanto Evans funciona melhor em papés mais comedidos.

Em poucas cenas, quando o personagem pede por um pouco mais desse silêncio interno, Evans funciona, mas por não ser o estilo para a história, ele parece deslocado na maior parte do filme.

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Uma primeira metade interessante, mas se perde pelo final

A primeira metade de Máfia da Dor, se novamente comparada com O Lobo de Wall Street, funciona. Não tem a mesma qualidade da história de Scorsese, mas consegue se manter bem e cativar a atenção do espectador.

Já a segunda parte, quando as coisas começam a realmente dar errado, ele perde o fôlego. Ao tentar mostrar aqueles personagens reagindo às descobertas dos efeitos devastadores da droga que vendem, o filme perde a pouca sinceridade que tinha e tudo parece ficar bastante artificial.

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Ao focar bastante em Liza, Pete e seu chefe, interpretado por Andy Garcia (O Poderoso Chefão: Parte 3), o filme perde uma oportunidade de mostrar os reais efeitos da venda indiscriminada de Fentanil. A história tenta tocar de maneira bastante superficial nisso, mas fica muito mais na ideia de falar sobre do que de fato colocar na tela o que realmente estava acontecendo.

O filme fecha com cenas de noticiários mostrando a história real da Insys, empresa farmacêutica que cresceu com a venda de Fentanil e serviu como base para o artigo da New York Times Magazine que inspirou o filme. E essa é uma saída um tanto pobre. Apesar de mostrar o que aconteceu com as pessoas envolvidas por trás da crise de opioides nos Estados Unidos, Máfia da Dor falha mesmo em não focar mais naqueles que ainda sofrem com as consequências da droga até hoje no país.

Máfia da Dor está disponível na Netflix.