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Crítica | Entre Facas e Segredos mantém mistério e diversão até o fim

Por| Editado por Jones Oliveira | 12 de Dezembro de 2019 às 17h32

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Filmes do gênero conhecido com “murder mistery” sempre fizeram sucesso e agora estão na moda novamente, ou talvez nunca tenham saído — afinal, nós brasileiros nos acostumamos a ver isso até recentemente em toda novela das 21h. Da nova versão de Assassinato no Expresso Oriente (2017), passando por Mistério no Mediterrâneo(2019) e as recorrentes adaptações de Sherlock Holmes, fato é que sempre adoramos esse tipo de história e as salas de exibição nacionais recebem mais um belo exemplar dessa casta.

Entre Facas e Segredos, embora não tenha sido baseado em nenhum livro da autora em especial, é inspirado nas tramas mirabolantes de Agatha Christie e entra em cartaz no circuito nacional na próxima semana. O diretor Rian Johnson (Star Wars: Os Último Jedi, Looper) faz uma homenagem a clássicos como O Fim de Sheila (1973), Os Sete Suspeitos (1985), Assassinato em Gosford Park (2001), entre outros.

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A história mostra um famoso e bilionário escritor de livros de mistério, Harlan Thrombey (Christopher Plummer), que, próximo de anunciar quem serão os herdeiros de sua fortuna, reúne seus parentes para sua festa de 85 anos. Na manhã seguinte, ele é encontrado morto. E aí começa a brincadeira para descobrir de quem seria a autoria do crime.

Para veteranos e novatos

Vale destacar que esse tipo de história costuma ter uma identidade visual com referências ao século XIX, mas aqui Johnson atualiza os “murder misteries” para uma nova audiência, que talvez nunca tenha brincado de jogos de tabuleiro como Detetive.

Então, embora muita parte da história aconteça em um casarão tradicional de época, vemos celulares e computadores, além de atores com apelo para uma audiência mais jovem. O grande mérito de Johnson é manipular a iconografia e manobras narrativas clássicas com uma linguagem mais moderna, incluindo fotografia, transição e filtros modernos.

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É possível enxergar isso em personagens interpretados pelos atores mais jovens, como Jaeden Lieberher (de It: A Coisa), que faz o neto de Harlan, sempre no celular, postando coisas sobre a extrema direita em redes sociais; Katherine Langford (do teledrama adolescente 13 Reasons Why), a neta que é uma artistas ativista liberal com ímpetos de “social justice warrior”; e Lakeith Stanfield (Corra!), um dos policiais destacados para investigar a morte de Harlan.

Elenco estelar

Antes de mais nada, é preciso falar sobre os atores, escolhidos a dedo para a narrativa desenvolvida por Rian Johnson. Ele fez questão de escolher rostos conhecidos, que trazem muita bagagem de seus personagens de destaque em outras produções — o que naturalmente pode confundir as apostas do público sobre quem seria o autor ou autora do assassinato.

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Assim, Johnson compõe seu quadro de suspeitos. Temos Chris Evans (Capitão América) na pele de Hugh, um dos netos de Harlan, playboy e mimado; Jamie Lee Curtis (Halloween) como Linda, a filha mais velha do finado e que nutria certa competição com Harlan; Michael Shannon (Homem de Aço) interpretando Walter, o filho mais novo e responsável por tocar a editora de livros de mistério; Don Johnson (Watchmen), marido de Linda, um cara meio sem filtro; e Toni Collete (Hereditário) como Joni, nora de Harlan que vive como influencer.

Some a esse grupo a atriz cubana Ana de Armas, como a cuidadora de Harlan, Marta Cabreras; e Daniel Craig (007 — Quantum of Solace), que talvez esteja em seu melhor papel em anos. Craig é o detetive Benoit Blanc, que faz uma clara reverência aos detetives do gênero, em especial o inesquecível Hercule Poirot — há quem diga que esse papel possa levá-lo ao Oscar, principalmente por deixar aquele ar britânico de lado e mostrar sua faceta caipira estadunidense.

Uma bela homenagem à Agatha Christie

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“Quem se beneficia?” Essa é a pergunta primordial das tramas de mistério de assassinato e todas essas peças são colocadas no tabuleiro para que, então, possamos brincar de adivinhação. Mas como fazer para quebrar o protocolo, superar as sequências previsíveis e ainda divertir grande parcela do público?

Rian Johnson responde com anticlímax e, claro, reviravoltas, tudo com bom humor. O diretor usa os próprios clichês do gênero para quebrar bruscamente as expectativas e mudar completamente a perspectiva ou tom do filme, sem que isso pareça estranho.

Você vai se ver muitas vezes mudando a pergunta durante a projeção: inicialmente, você fica mais interessado em “quem”, para depois ficar mais curioso sobre “como” e refletir sobre “por que?”, para, novamente, pensar sobre “quem” — tudo com uma grande parcela de risos.

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Mas vale a pena?

Johnson criou uma comédia de mistério cheia de detalhes que enriquecem a experiência — tudo o que aparece em cena, mesmo discretamente, foi estrategicamente posicionado para finalizar o quebra-cabeça. E isso, por si só, já é uma experiência e tanto no cinema.

O elenco afinado e o jogo de anticlímax com plot twists criam uma “confusão proposital” que compõe o grande charme do longa. Entre Facas e Segredos mantém o mistério e a diversão até a sequência final e prova ser realmente uma grande homenagem a Agatha Christie. Se você gosta de “murder misteries” e jogos de adivinhação, fica aí a dica para o final de semana.