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Crítica Maestro | Um filme em busca de identidade própria

Por| Editado por Durval Ramos | 26 de Dezembro de 2023 às 18h05

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Divulgação/Netflix
Divulgação/Netflix
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Cinebiografias são filmes difíceis de se fazer por precisarem comprimir uma vida inteira em pouco mais de duas horas. Mesmo aqueles que tentam contar tudo, deixam partes importantes e que ajudam a entender melhor figuras complexas.

Não digo que esse tipo de filme é incompleto, mas que existe grande chance de eles ficarem apenas no mais raso, no superficial, apenas beliscando fatos mais complexos ou simplesmente passando por cima deles. 

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Por que estou falando isso? Porque Maestro, a grande aposta da Netflix para premiações como Oscar e Globo de Ouro, é um filme cheio de qualidades, mas que ao chegar no seu final, parece que não sabemos direito quem foi Leonard Bernstein além de alguém que ele próprio não sabia direito quem era.

Um gênio absoluto

Maestro mostra um período de aproximadamente 40 anos da vida de Leonard Bernstein, compositor e maestro da Filarmônica de Nova York. Interpretado por Bradley Cooper (Nasce uma Estrela) — que também dirige o filme —, desde a primeira cena, em que aparece já idoso, Bernstein passa uma impressão de sempre estar interpretando alguém que não é ele mesmo.

Desde o começo, você vê Leonard recebendo a ligação para assumir uma apresentação importante e que mudou a sua vida e, dali em diante, sua carreira deslancha de uma forma magistral. Durante praticamente toda a sua vida, segundo o filme, Bernstein praticamente não teve nenhuma dificuldade em demonstrar o seu talento e ser reconhecido por ele.

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Apesar de Cooper mostrar com grande entusiasmo o talento de Leonard como maestro, ao dirigir a trama para onde existia conflito, que era na sua vida particular, a figura de Bernstein "estrela" continua. São raros os momentos em que o compositor se mostra realmente vulnerável e são neles que o filme poderia explorar melhor a figura principal, mas logo segue em frente. 

Propositalmente ou simplesmente por não achar que se aprofundar mais nesses momentos seja interessante, apenas dar esses pequenos vislumbres no Leonard de verdade faz com que Maestro pareça um filme que seja exatamente como a figura que tenta retratar: algo que quer passar uma impressão de ser algo, sem aceitar completamente o que é ou poderia ser.

Um amor eterno

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Se na parte profissional de Bernstein, tudo é mostrado como se nenhum problema existisse, a parte particular de sua vida tenta seguir esse caminho, mas logo mostra o verdadeiro valor da cinebiografia. Apesar da carreira sempre em ascensão do compositor, o filme só encontra motivo para existir quando mostra o relacionamento de Leonard com a atriz Felicia Montealegre.

Interpretada por Carey Mulligan (Não me Abandone Jamais), Felicia é o verdadeiro coração do longa. Desde o momento em que ela desce de um ônibus em direção à festa onde conhece Bernstein, o filme parece ganhar vida quando ela está na tela. 

Apesar de o filme demorar um pouco para mostrar que nem tudo é perfeito, o companheirismo do casal se faz visível desde o começo do relacionamento, algo que continua até o final. Só que, graças à atuação de Mulligan, é possível perceber que existe um problema entre eles, que é o fato de Leonard nunca estar completo para ela.

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Em uma decisão dos dois, Felicia aceita casar e ter uma vida com Bernstein mesmo sabendo que ele era homossexual. Isso não é mostrado como uma surpresa no filme, já que logo no início, quando ele recebe o telefone que muda a sua vida, está deitado com outro homem na sua cama.

O problema entre o casal é exatamente Leonard ter que viver essa espécie de vida dupla, algo que acontecia muito na época, nos anos 40 a 70, mas que ainda é realidade na vida de pessoas até os dias de hoje.  

Enquanto Mulligan mostra em sua atuação que Felicia aceitava essa situação, também sentia um vazio na maneira como as coisas eram encaradas pelo casal. Já Cooper, apesar de uma atuação convincente na hora de retratar o compositor visto na frente das câmeras, peca (ou acerta, dependendo do ponto de vista) em trazer essa figura também para os momentos de sua vida privada. 

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Isso porque, salvo aqueles momentos que citei anteriormente, ele parece estar sempre interpretando um personagem que está interpretando um personagem. Mesmo quando está vulnerável, na frente da única pessoa que o conhece verdadeiramente, ele ainda tenta criar uma barreira.

Mesmo isso sendo fiel aos acontecimentos, já que Bernstein parece não se aceitar exatamente pelo que era por medo de repercussões na sua vida na época, isso acaba descolando o espectador da história, já que esse conflito é mostrado de maneira extremamente superficial.

Existe apenas uma cena em que é possível ver o personagem como ele realmente é, quando encontra um antigo amor, agora casado e com filho, e a despedida entre eles. Apesar de ser uma cena que parece um pouco estranha pela época em que se passa, é um dos únicos momentos em que vemos Bernstein de peito aberto.

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Mais para o final do filme, vemos um pouco disso ao lado de Felicia, já perto de seu fim. Mesmo com a sua vida dupla mais escancarada, Leonard ainda mostra o profundo amor que sente pela esposa, com quem teve três filhos e serviu como base para a sua vida por vários anos.

Uma cinebiografia feita para ganhar prêmios

Tecnicamente, Maestro é um filme muito bem feito. Sua fotografia, com proporções de aspecto da Academia, intercalando entre cenas em preto e branco ou bastante coloridas, retratando as épocas que a história se passa, é belíssima e certamente chamará a atenção de premiações.

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O mesmo vale para o figurino e direção de arte, além da atuação de Carey Mulligan no papel de Felicia. Porém, por mais que mereça outras indicações como direção e atuação para Cooper e até mesmo Melhor Filme, é possível perceber que o filme foi feito exatamente para isso.

A história da vida do maestro Leonard Bernstein é interessante e renderia mais do que Maestro consegue adaptar. É um bom filme, isso é inegável, mas é o tipo de produção feita pelo prestígio, passando por cima de vários fatos para tentar marcar os requisitos para aparecer nas listas de indicados. 

Bernstein parecia ser uma figura bem mais complexa do que Cooper tentou mostrar em seu filme, que assim como a pessoa de verdade, parece não aceitar completamente o que é ou poderia ser.

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Maestro está disponível exclusivamente na Netflix.