Crítica Let It Be | Um produto do seu tempo, mas em alta definição
Por André Mello • Editado por Durval Ramos |
Por mais que você não seja um fã dos Beatles, é inegável a influência e importância que a banda teve na música e na cultura pop em geral do século 20. O último registro do grupo junto, o documentário Let It Be, não teve das melhores recepções na época do seu lançamento, talvez por ter sido lançado poucas semanas após o fim da banda.
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Após uma exibição limitada nos cinemas, Let It Be ficou indisponível por anos, com cópias circulando em fitas VHS ou em registros facilmente encontrados na internet, mas com uma qualidade sofrível. Com o lançamento de Get Back, série documental de Peter Jackson que usava as mais de 60 horas de material gravado pelo diretor Michael Lindsay-Hogg durante as gravações do último disco dos Beatles, era só uma questão de tempo para que o documentário fosse remasterizado.
Essa versão chega ao Disney+ e certamente vai gerar algumas perguntas de "precisava mesmo disso?".
Um documentário sobre um disco, não sobre uma banda
Quando Lindsay-Hogg foi escolhido para gravar um filme dos Beatles, a ideia inicial é que ele filmaria um grande show em um anfiteatro. Não demorou muito para que isso mudasse e o diretor tivesse que se virar com material das gravações de Let It Be, próximo disco do grupo.
Essa explicação nunca é dada no próprio documentário, mas em uma introdução gravada pelo diretor e por Peter Jackson, que quando fez Get Back, realizou a restauração do material de Let it Be junto. Apesar de ter gravado vários momentos interessantes e que foram utilizados na série documental de Jackson, Lindsay-Hogg optou em apenas fazer um documentário sobre a gravação de um disco.
Isso faz com que Let It Be seja muito mais um filme para os fãs mais fervorosos da banda que conheciam o longa, mas nunca tiveram a oportunidade de assisti-lo sem ficar com os olhos cansados por conta da qualidade de sua imagem.
Nesse quesito, o documentário é realmente válido e é importante tê-lo disponível com facilidade. Particularmente, achei a ideia muito interessante pois tinha visto o filme há muitos anos. Minha mãe, que era uma grande fã dos Beatles, tinha a gravação em uma cópia feita em uma fita VHS que obviamente se desintegrou com o tempo.
Por esse motivo, ver novamente essas imagens em ótima qualidade trouxe uma emoção diferente para mim, assim como provavelmente o fará para vários fãs. Porém, é preciso dizer que Let It Be não é um documentário particularmente empolgante, até mesmo do ponto de vista de acompanhar os músicos compondo suas músicas.
Existem momentos em que é possível notar certo cansaço entre eles e rusgas que eventualmente levariam ao fim da banda, mas o diretor decidiu não focar tanto nesses pontos. Algo que é engraçado de perceber é a quase ausência de John Lennon em várias cenas, já que, como é possível ver em no documentário de Peter Jackson, ele chegava atrasado ou já estava com a cabeça em outro lugar.
Get Back ou Let it Be?
Quando Peter Jackson reuniu o material para montar Get Back, a série documental disponível no Disney+, escolheu não usar todas as cenas já presentes em Let It Be como um sinal de respeito, sem tentar substituir o documentário. Só que, mesmo tendo a mesma fonte, a ideia de cada produção é completamente diferente.
Let It Be, como comentei, é um ótimo registro do seu tempo e merece atenção. É um documentário sobre uma gravação complicada, com uma das maiores bandas de todos os tempos se dissolvendo em tempo real na frente das câmeras. A escolha de não abordar esse lado, principalmente com uma estreia que veio semanas após o fim do grupo, mostra um desejo de focar na música e somente nela.
O diretor Michael Lindasy-Hogg sempre teve um trabalho difícil, com o projeto mudando após o seu início e precisando inventar moda e acompanhar, como uma mosca no estúdio, o que poderia ou não acontecer nas gravações.
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Já Get Back me parece muito mais robusto, e não somente por ter mais de 6 horas de vantagem em cima, mas por ter o material e uma linha que não está tentando mostrar a gravação de um disco, mas sim o dia a dia de uma das maiores bandas de todos os tempos, durante a gravação do seu último disco.
O peso e a maneira como a narrativa de cada documentário são bastante diferentes e aí vai de cada um qual assistir. Particularmente, apesar do lado emocional de Let It Be, acredito que a série montada por Peter Jackson seja uma experiência muito mais proveitosa, até pelos vários momentos marcantes da criação de músicas e do lendário show no telhado da Apple Records na íntegra.
Porém, como registro histórico, Let It Be é uma ótima pedida para os fãs dos Beatles. O documentário estreia no Disney+ no dia 8 de maio.