Crítica Garfield: Fora de Casa | É tão bom quanto comer lasanha
Por Diandra Guedes • Editado por Durval Ramos |
Garfield, o gato gordo e laranja criado pelo cartunista Jim Davis em 1978, está de volta aos cinemas! Depois de estrelar duas tentativas de live-action na década de 2000, o bichano aparece novamente em um longa que é tão gostoso quanto comer uma lasanha com muito queijo. Com direção de Mark Dindal (A Nova Onda do Imperador), Fora de Casa acerta ao mesclar nostalgia com novidades, e encontra a receita certa para conquistar novos fãs ao mesmo tempo que cativa os antigos.
Na trama, Garfield continua odiando segundas-feiras e ir ao veterinário, mas agora está mais moderno e pede comida por delivery. Ele ainda mora com seu dono Jon e o cachorro Odie, que exala carisma e é um dos pontos altos da trama. Apesar de pacata, a vida da dupla muda quando eles são sequestrados por uma gata selvagem.
A armadilha, na verdade, tem o objetivo de atrair Vic, um gato gordo e parrudo que é o pai de Garfield. Essa virada na trama faz o filme ganhar fôlego e desperta a curiosidade do público para entender qual a história por trás da vida do protagonista. Assim como aconteceu com Snoopy e Charlie Brown, focar na infância de Garfield e mostrar como ele conheceu Jon ajuda a criar ainda mais empatia pelo bichano, além de adicionar doses extras de fofura ao texto.
A relação de pai e filho também é bem trabalhada e foge da pieguice. Os dois demoram um bom tempo para conseguirem se conectar de vez, como se fossem dois gatos a se arranhar o tempo todo. No entanto, quando a redenção de Vic chega, ela não soa melancólica e, felizmente, não derruba o alto astral do filme.
Uma aventura deliciosa
Indo além, apostar na aventura também fez bem à trama. Vic, Odie e Garfield passam quase o filme inteiro tentando entrar na Fazenda Lactose para roubar alguns litros de leite e levar para a gata malvada. No caminho, eles recebem a ajuda de um búfalo amargurado que fala tudo devagar, o que irrita Garfield, mas ajuda a arrancar boas risadas da plateia. A partir de então segue-se uma sequência de perseguição digna de Missão: Impossível, que inclusive empresta sua música-tema para o longa, assim como Top Gun: Maverick.
Escolher a ação para conduzir uma animação não é novidade no mundo do cinema, haja visto A Fuga das Galinhas e os vários longas de Homem- Aranha. Porém, usar do gênero em Garfield é especialmente genial e espinhoso, uma vez que o gato se orgulha de ser o mais lento, gordo e preguiçoso da vizinhança. Em Fora de Casa, ele poderia ter perdido um pouco da sua identidade, mas felizmente Dindal e os roteiristas conseguiram manter suas características intactas, especialmente a rabugice e a capacidade de reclamar a cada minuto.
Já Odie, o cão, mesmo sem ter falas consegue ser o mais carismático da trama, provando que o cachorro é realmente o melhor amigo do homem — neste caso, do gato. Ele faz tudo o que Garfield manda sem reclamar e ainda acolhe Vic com muito amor, protagonizando momentos que enchem os olhos do público de lágrimas.
Construído em camadas
Assim como uma lasanha, o novo filme de Garfield é construído em camadas. Primeiro é adicionado o drama, depois a aventura e, para finalizar, a comédia. Tudo é feito de forma natural e seguindo uma receita já conhecida do público: tirar o protagonista da zona de conforto e colocá-lo em uma situação absurda na qual ele não tem controle.
Quem espera algo revolucionário, irá se decepcionar, porém quem compra o bilhete do cinema na intenção de deixar os problemas para trás e se divertir por pelo menos uma hora e meia, vai conseguir o que deseja. Assim como uma boa lasanha, é um sabor bastante conhecido, mas nem por isso deixa de ser delecioso.
E, falando em receita, a dublagem brasileira acrescenta um tempero a mais a esse prato. Embora a versão original traga nomes de peso, como Chris Pratt, Samuel L. Jackson e Hannah Waddingham, é na versão nacional que piadas, expressões e gírias conhecidas pelo público são incorporadas na trama, dando um sabor a mais ao filme.
E, se Jim Davis acertou em algo, foi em dizer que Garfield é atemporal porque se conecta com as emoções humanas. De fato, os filmes e as tirinhas do bichano podem ser aproveitadas em qualquer década, porque o personagem coloca para fora tudo aquilo que nós, meros humanos, sentimos: gula, preguiça, medo, culpa e até aspereza nas relações pais e filhos.
Cravando mais um acerto, o diretor Mark Dindal entrega um filme que é uma ótima opção para as crianças, mas que também irá divertir qualquer adulto. O cuidado com os detalhes fizeram bonito em cena, prova disso é que é fascinante ver a diferença de pelagem entre Garfield e Vic. Embora os dois tenham o mesmo tom de pelo, o de Vic parece mais opaco e mal cuidado, o que reflete os anos em que viveu na rua — além de sua própria personalidade.
O desfecho do longa não foge do tradicional “final feliz”, mas ainda assim é bonitinho de ver. Por fim, Fora de Casa é uma boa opção para ser assistido em família ou sozinho com um balde de pipoca (ou um pedaço de lasanha!)