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Crítica Fome de Sucesso | Filme traz boa análise social ainda que com erros

Por| Editado por Jones Oliveira | 10 de Abril de 2023 às 21h00

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Reprodução/Netflix
Reprodução/Netflix
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Provando que está decidida a investir em produções asiáticas, saindo um pouco do eixo Europa-América, a Netflixlançou seu novo drama tailandês. Intitulado Fome de Sucesso, o longa até lembra o aclamado O Menu em alguns momentos, mas abusa do drama para se afastar do longa e acaba tecendo uma crítica social boa, embora um pouco enviesada.

Para começar, a história acompanha Aoy, uma jovem que trabalha no bar da família e cuja vida profissional não tem muito destaque. Um dia, ela recebe um cartão convidando-a para fazer um teste no Hunger, restaurante do famoso chefe Paul. Um tanto quanto desconfiada, a jovem aceita o convite e logo se torna membro da equipe. Mas o que parecia um sonho rapidamente vira um pesadelo assim que o renomado cozinheiro entra em cena trajando arrogância e mau caratismo.

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Daí em diante, o que vemos é uma sucessão de gritos e ordens, e funcionários cabisbaixos que tentam de alguma forma se destacar na cozinha do famoso chefe. Com boas cenas gastronômicas e uma trama interessante à princípio, o filme consegue prender a atenção do espectador, e a primeira uma hora e meia de tela passa rápido sem grandes problemas.

O prato principal: um homem destruído pela sua própria arrogância

Da segunda metade em diante, Aoy se afasta do famoso restaurante por não concordar com a postura do chefe e começa a trabalhar em um outro local de sucesso. A partir daí os dois travam uma espécie de guerra, onde a protagonista está interessada apenas em conseguir fazer bem seu trabalho e o chefe Paul quer de todo modo destruí-la.

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Por meio de diálogos simples, mas bem estruturados, Fome de Sucesso justifica tal arrogância do chefe com uma premissa básica: o sonho do oprimido é se tornar o opressor. Por ter sido uma criança pobre, filho de empregada doméstica e ter crescido vendo o filho do patrão comer do bom e do melhor, Paul prometeu a si mesmo que um dia também teria acesso a isso tudo. E quando, finalmente, consegue o que quer, se torna um egocêntrico renomado que não se importa nem com a comida que cozinha e nem com as pessoas que a comem.

Quando você tem mais do que o suficiente para comer, sua fome não acaba!

Um dos pontos mais trabalhados na crítica social do filme é que aqueles que não precisam se preocupar com dinheiro e, consequentemente, com a fome não se importam necessariamente com o que estão comendo, e sim em reforçar uma mensagem de superioridade diante das classes mais baixas.

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Na cena da festa — uma das melhores do filme —, Aoy e Paul se enfrentam para ver quem consegue entreter melhor os ricos do local. Enquanto a comida da jovem cozinheira é focada no simples e tradicional, o chefe faz um espetáculo grotesco e bizarro cortando uma peça imensa de carne e cozinhando ali na frente de todo mundo.

Os ricos, maravilhados pelo que estão vendo, se juntam todos ao redor de Paul, aclamando-o uma vez mais, mas assim que sua imagem é destruída por um vídeo da internet, todos se voltam contra ele, provando que o que importa mesmo são as aparências.

Crítica social e a glamourização da pobreza

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Seguindo por essa linha, Fome de Sucesso acerta ao fazer uma crítica social abordando os principais pontos da relação ricos versus pobres, e trazendo uma reflexão importante: por que apenas aqueles que têm dinheiro podem ter acesso à uma refeição de qualidade? Por que o pobre não pode comer bem?

Em vários momentos do filme é fácil esquecer que a trama está tecendo um retrato sobre a Tailândia e pensar que ela está falando sobre o Brasil, ou sobre a Venezuela, ou sobre Cuba, ou qualquer outro país em que a desigualdade social é marcante.

Apesar disso, há uma questão no texto que incomoda. Após se tornar uma chefe bem-sucedida pelo seu próprio trabalho, Aoy é questionada por todos à sua volta: família, amigos e até mesmo por Paul a culpam pelo êxito que teve.

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Assim, fica a mensagem que ascender na vida — mesmo que de maneira honesta — é prova de má índole ou erro. Após ter conseguido se desvencilhar de uma relação profissional abusiva e ter lotado um restaurante por conta própria, a protagonista abandona toda sua carreira para voltar ao bar do início: o da sua família.

Assim, pobre novamente e passando dificuldades, ela consegue a redenção esperada por todos, mas há um “quê” de glamourização da pobreza que irrita e faz parecer que o lugar do pobre é aquele mesmo: na miséria.

Vale a pena assistir à Fome de Sucesso?

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O novo filme tailandês da Netflix agrada em muitos pontos, principalmente no ritmo: ele não é lento para dar sono e nem apressado para estragar o roteiro. As atuações também são boas, especialmente da protagonista vivida por Chutimon Chuengcharoensukying.

O incômodo fica justamente pelo enviesamento da crítica, que, de algum modo, reforça o sistema opressor da desigualdade social. Ainda assim, vale a pena dar uma chance, especialmente por se tratar de uma produção asiática — que embora venha ganhando destaque no Brasil, ainda é pouco vista por nós.

Quem quiser assistir e tirar suas próprias conclusões, já pode dar o play em Fome de Sucesso na Netflix.