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Crítica Blackberry | A história da criação de uma indústria para os outros

Por| Editado por Durval Ramos | 13 de Outubro de 2023 às 18h05

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Reprodução/IFC Films
Reprodução/IFC Films

Apesar de não ter sido uma marca com grande impacto na vida de brasileiros, é quase impossível uma pessoa não ter ouvido falar da BlackBerry nos anos 1990 e começo dos anos 2000. Seus aparelhos, com um teclado completo, eram diferentes e chamativos o suficiente na época, apesar de sempre terem a aura de "aparelhos para executivos".

Com o passar dos anos, essa presença e imagem foi sumindo, até chegar ao ponto em que a Blackberry praticamente virou uma piada no mercado de aparelhos celulares, falhando miseravelmente em conseguir manter seu alcance. O que realmente aconteceu ali?

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Blackberry, o filme, é baseado em um livro chamado Losing the Signal: The Untold Story Behind the Extraordinary Rise and Spectacular Fall of Blackberry e tenta trazer à luz a história por trás da criação e da desgraça da empresa.

Com um elenco liderado por nomes conhecidos por seus papéis cômicos, como Jay Baruchel (É o Fim) e Glen Howerton (It's Always Sunny in Philadelphia), esperava-se que Blackberry fosse uma grande comédia de erros baseados em fatos reais, mas o filme, apesar de alguns momentos engraçados, é muito mais sério e uma prova de como a arrogância e a confiança exacerbada nos próprios dons podem ser o maior defeito de uma pessoa.

Uma empresa de garotos

Blackberry mostra a história da RIM, empresa por trás do telefone, de 1996 até 2007, período em que teve boa presença no mercado. A companhia, sediada no Canadá, era comandada por Mike Lazaridis e Doug Fregin, que tiveram a ideia de um telefone celular que poderia utilizar a rede de pager, amplamente disponível na época, como forma de acesso a mensagens pelo aparelho.

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Lazaridis e Fregin tinham o conhecimento técnico, mas claramente não tinham o tino de vendas que só foi incluído na equação com a chegada de Jim Balsillie. Interpretado por Howerton, que na série It's Always Sunny in Philadelphia consegue interpretar um personagem completamente psicopata, mas bastante carismático, tem um trabalho incrível no filme no papel do investidor e co-CEO da RIM.

Após uma breve apresentação que mostra exatamente a natureza do executivo, capaz de trair quem for preciso para conseguir o que quer, Balsillie é responsável por fazer aquilo que era só uma ideia se tornar realidade, graças à sua habilidade de vender o produto, mesmo ele existindo ainda como um protótipo esquisito.

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Boa parte do filme mostra Lazaridis, interpretado por Baruchel, e Fregin, interpretado pelo ator e diretor do filme, Matthew Johnson, tendo ideias e vivendo um período como inovadores no mercado de telefones celulares. É interessante ver como a dupla e seus engenheiros canadenses conseguiram moldar boa parte da forma como a troca de mensagens de maneira móvel era encarada até boa parte dos anos 2000.

Garotos precisam crescer

Como é muito comum em histórias sobre grandes empresas de tecnologia, o clima e a cultura dos escritórios são sempre de festa. Momentos de descontração que parecem um grupo de amigos fazendo uma lan party na casa da mãe, sessões de filmes clássicos no meio do expediente e afins parecem absurdos no mundo corporativo, mas muitas vezes são a norma em empresas desse tipo.

Porém, existe sempre um momento de virada, em que os jovens precisam se tornar adultos e Blackberry mostra bem isso com o crescimento da RIM e as pressões do mercado para que a empresa consiga se destacar.

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Em uma indústria que vive da inovação, precisar estar sempre pronto para se adaptar é de extrema importância, algo que parecia ser uma grande dificuldade por parte da liderança da RIM. É interessante ver como muita coisa poderia ser diferente caso pessoas como Lazaridis e Fregin simplesmente tivessem cedido às mudanças dos tempos, se adaptando e continuando inovando como fizeram no passado.

Por apostarem em escolhas totalmente baseadas no preciosismo em torno de suas ideias, cada vez mais seus produtos vão ficando para trás, principalmente com a introdução de modelos muito mais disruptivos, como o iPhone.

No fim, apesar de girar em torno da criação e derrocada da Blackberry como marca, o filme é sobre pessoas que começaram com ótimas ideias, mas se perdem na própria arrogância, acreditando que o mundo vai se adaptar a elas, em vez de o contrário.

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Um mundo de celulares sem tecladinhos

Blackberry é um ótimo filme que consegue se destacar exatamente por ser relativamente simples. Não existem grandes reviravoltas, sua comédia é sutil, e mesmo misturando fato e ficção, não existem situações absurdas que se tornam completamente inacreditáveis em mundo de big techs.

As atuações da dupla principal, Baruchel e Howerton, são muito boas, ainda que eles ainda sigam uma linha similar à de papéis que já interpretaram antes. Blackberry ainda se sai como um bom filme sobre pessoas que acreditam que seus sucessos serão eternos e, por isso, deixam de evoluir.

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Fora que é muito interessante ver o momento exato em que o mercado de telefones celulares mudou e a empresa ficou para trás, correndo atrás dos outros com seus celulares com tecladinhos até ser tarde demais.

Blackberry está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil.