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Cinemas nos EUA também apresentam queda de público devido ao coronavírus

Por| 18 de Março de 2020 às 22h00

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Nos Estados Unidos, o avanço do coronavírus (SARS-Cov-2) está, a exemplo do que ocorre no Brasil, impactando diretamente a indústria cinematográfica. À medida que o isolamento do público é cada vez maior, ao mesmo tempo que o vírus faz com que estreias de filmes de primeira linha sejam adiadas e empresas dependam mais e mais dos serviços de streaming, analistas esperam que os negócios conduzidos por donos de salas de projeção por todo os EUA sofram — e não deve ser pouco.

Segundo matéria publicada pelo The New York Times, os principais filmes ainda em exibição nas salas de cinema do país apresentaram drástica queda nas bilheterias, uma vez cada vez mais as pessoas estão optando por ficar em casa para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. “O filme mais rentável foi um que já havia estreado, Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, que vendeu cerca de US$ 10,5 milhões em bilheteria em seu segundo final de semana — uma queda de 73% em relação aos seus três primeiros dias nos cinemas. Filmes da Pixar geralmente apresentam queda de 30% a 45% entre seus primeiro e segundo finais de semana, o que demonstra o impacto do medo do coronavírus entre cinéfilos”, analisou o jornal.

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De acordo com o periódico, porém, essa é uma situação que, embora acentuada pelo coronavírus, já vinha ocorrendo antes: o público está deixando de ir ao cinema, priorizando ofertas feitas pelos diversos serviços de streaming que estão à mão, como Disney+ e Netflix. “O comportamento já estava mudando, mas o coronavírus meio que enfiou o pé no acelerador”, disse ao periódico o fundador da empresa de pesquisa de mercado Lightmedia Partners, Rich Greenfield. “Eu acho que a maior parte do mercado de exibição cinematográfica estará em estado de falência até o final deste ano”.

As previsões nada otimistas encontram base no fato de que, logo menos, as salas de cinemas não terão mais estreias, já que grandes estúdios e produtoras estão adiando datas de filmagens e disponibilização de filmes. Velozes e Furiosos 9, por exemplo, tinha estreia prevista para maio de 2020, mas os riscos de contaminação fizeram com que o longa fosse adiado para abril de 2021 — quase um ano após o esperado.

Também não ajudou o fato de que o evento CinemaCon, destinado a empresas do setor, acabasse cancelado em resposta ao avanço do novo coronavírus no país. Vale citar: nos EUA, ainda não houve uma ordem direta do governo para que salas de cinema parassem de funcionar (apesar de políticas estaduais em algumas localidades agilizarem ordens de proibição para eventos que reúnam mais de 100 pessoas, como em Ohio).

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Analistas do mercado enxergam nisso uma ameaça a um mercado que já vinha lidando com perdas consideráveis. Avaliando o histórico das últimas duas décadas nos EUA, a receita de bilheteria teve seu pico em 2002, quando vendeu cerca de US$ 1,6 bilhão em entradas. Em 2019, essa receita caiu para aproximadamente US$ 1,2 bilhão — uma queda próxima de 25%, sendo que a população dos EUA aumentou 15% no mesmo período. Por meio do aumento no preço da entrada, empresas donas de salas de cinema conseguiram manter a receita em níveis satisfatórios, mas esse é um recurso do qual elas não poderão contar para sempre, aponta o jornal.

Também contribui para isso o fato de que estúdios mais poderosos, que contam com uma plataforma própria de streaming, estão promovendo um lobby forte para reduzir o tempo entre a estreia de um filme no cinema e a sua disponibilização em outros canais. Esse padrão segue mais ou menos a mesma linha vista no Brasil: um filme chega aos cinemas, que o exibem quase que exclusivamente por dois a três meses, para só então ele chegar em magazines para venda de mídia física e aplicações de vídeo sob demanda.

Uma fonte do New York Times que trabalha na Disney falou sob condição de anonimato que a empresa é um exemplo disso: embora a sua próxima grande estreia — Mulan — ainda não tenha sido objeto de discussão para isso, a companhia estuda formas de veicular outras produções com mais ênfase dentro do Disney+ e depender cada vez menos das salas tradicionais. Frozen 2 chegou à plataforma no último domingo, três meses antes do planejado.

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Ademais, filmes que tiveram suas produções paralisadas começam a se tornar mais frequentes no noticiário: a Disney sequer deu início às filmagens da nova versão de A Pequena Sereia, previstas para começar em Londres no mês de abril, ao mesmo tempo em que também parou as produções de The Last Duel (ainda sem título no Brasil, estrelado por Matt Damon e Ben Affleck) e o filme de Shang-Chi, inserido dentro do universo cinematográfico da Marvel. Detalhe: os três só contavam com previsão de estreia para algum momento em 2021.

No Brasil, as salas de cinema apresentaram seu pior final de semana desde que o surto do coronavírus começou: menos de um milhão de espectadores compareceram às salas entre quinta-feira e domingo da última semana.

Ao todo, quase 600 salas de cinema foram fechadas no país devido ao surto do coronavírus (estimativas indicam que o Brasil tem cerca de 3,5 mil salas operantes) e empresas do setor estão discutindo propostas do que fazer em relação aos seus funcionários, com a Kinoplex antecipando as férias coletivas para seus funcionários e a rede Cinemark oferecendo planos de demissão voluntária (PDV) ou cursos de capacitação profissional à distância com redução de 20% do salário.

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Fonte: New York Times