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Por que A Fuga das Galinhas é chamado de filme comunista?

Por| Editado por Durval Ramos | 18 de Dezembro de 2023 às 14h41

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Divulgação/Aardman
Divulgação/Aardman

Conhecida por ser uma das animações com maior bilheteria de todos os tempos, com US$ 224,8 milhões arrecadados, A Fuga das Galinhas também carrega uma fama um tanto quanto diferente: a de ser um filme comunista. Nas redes sociais, não faltam teorias e interpretações de que a trama lançada em 2000 traz uma temática com muitos paralelos à teoria marxista ao mostrar as galinhas reivindicando melhores condições de vida e de trabalho, discutindo conflito de classes e até organizando uma revolução.

São mais de duas décadas de comentários sobre o tema, entre piadas e discussões reais e aprofundadas sobre o tema, o que deu ao longa não só a fama de produção comunista como também o título de meme. Em uma postagem no X (ex-Twitter), uma usuária comenta que fará uma tatuagem com o tema comunismo e mostra uma das personagens do filme segurando uma foice e um martelo.

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Em outra publicação, outra usuária brinca que aprendeu a fazer a revolução aos nove anos depois de assistir à animação. E, brincadeiras à parte, o fato é que o filme já se tornou objeto de análise para alguns estudiosos e gerou até ensaios que mostram que há mesmo uma relação do enredo com a teoria de Karl Marx.

Afinal, por que A Fuga das Galinhas é chamado de comunista?

Entre os vários motivos que fazem o filme ganhar a fama de comunista está o fato do longa mostrar a luta de classe entre o proletariado (no caso, as galinhas) e a burguesia (a senhorita Tweedy que as explora para conseguir seus ovos). Tal luta é um dos principais pontos criticados no manifesto de Karl Marx, que defende que os trabalhadores devem tomar os meios de produção para si sob a lógica de "tudo pertence a quem tudo produz". E é o que, de certo modo, as galinhas fazem ao iniciarem uma revolução no galinheiro.

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Indo além, a protagonista Ginger assume o papel de líder do movimento de fuga das galinhas e tenta combater a ideologia que está incrustada na cabeça delas. Em uma das cenas do filme, ela comenta com as colegas que as “cercas não ficam só na fazenda, elas estão na cabeça de vocês”, ao que as amigas respondem "mas se sairmos daqui, como iremos comer?".

Essa ideia de que a única forma do trabalhador sobreviver é aceitando o sistema imposto por terceiros (empresas ou, no caso, a senhorita Tweedy) é um dos principais pontos trabalhados por Marx em sua obra e que reflete de forma até bastant clara em A Fuga das Galinhas.

Só que esse não é o único paralelo. Um artigo publicado pelo grêmio de estudantes da Universidade de Melbourne, na Austrália, foi além e esmiuçou as semelhanças estre a história das galinhas de stop-motion e a teoria de Karl Marx e ao próprio comunismo.

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Segundo essa análise, A Fuga das Galinhas mostra que, quando os animais não dão ovos suficientes, eles são mortos e viram comida de humanos. Essa forma de punição, embora extrema, é relacionada ao fato de como o sistema capitalista oprime e pune os cidadãos que não geram lucros.

Da mesma forma, a chegada das máquinas à granja se torna um pesadelo para as protagonistas galináceas, já que elas não estão ali para tornar a vida dos animais mais fáceis — muito pelo contrário. A ideia de que a máquina de tortas está ali para transformar as galinhas menos produtivas em recheio de empadão é algo que o estudo cita como um exemplo claro de mais-valia, um dos conceitos mais famosos de Marx.

Outra cena que ajudou o filme a ganhar a fama de politicamente engajado é quando as galinhas são perseguidas pelos cães de guarda a mando da senhorita Tweedy. Alguns argumentam que a tomada mostra a opressão que o Estado faz naqueles que querem se rebelar contra o sistema imposto.

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Da mesma forma, o filme mostra Rocky, um galo estadunidense vaidoso que se dizia voador, tentando enganar todas as galinhas com promessas falsas e depois tirando vantagem da ingenuidade delas. Nas diversas análises que relacionam o filme com o marxismo, ele é mostrado como aquele oprimido que, quando ganha um pouco de “poder” ou relevância, acaba por oprimir seus colegas e não ajudá-los.

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O que o diretor diz sobre o assunto?

Se é verdade ou não que A Fuga das Galinhas é comunista, ninguém sabe. Isso porque nem o diretor e nem os roteiristas deram uma resposta para essa questão. Na verdade, o cineasta Sam Fell apenas comentou em uma entrevista recente à imprensa dos Estados Unidos, que A Fuga das Galinhas: A Ameaça dos Nuggets — continuação da saga, lançada em 2023 — mostra a Ilha das Galinhas (local para onde elas foram depois de fugirem) como uma espécie de Wakanda, um paraíso onde elas podem descansar e viverem livres.

É uma resposta vaga e que não responde praticamente nada, deixando a dúvida no ar. Ainda assim, toda a discussão, análise e até as piadas sobre o assunto ajudatam a manter a animação lançado em 2000 ainda presente no imaginário do público, ajudando a tornar o filme um clássico cult — o que certamente ajudou a garantiu a chegada de sua sequência 23 anos depois.