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Único animal imortal do planeta não nos concederá a vida eterna

Por| Editado por Luciana Zaramela | 10 de Outubro de 2023 às 21h20

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Alvaro E. Migotto/CC-BY-3.0/Obra ampliada.
Alvaro E. Migotto/CC-BY-3.0/Obra ampliada.

O único animal imortal do mundo, até onde sabemos, é uma minúscula água-viva. Quase do tamanho da unha de um dedo mindinho, a Turritopsos dohrnii reverte o ciclo de vida ao chegar na idade adulta, retornando à juventude em um círculo interminável. Desde que descobriu a característica, a ciência passou a investigar a pequena criatura para descobrir segredos sobre a regeneração e imortalidade de seu DNA e células, possivelmente trazendo os achados à medicina de longevidade futura.

Normalmente, as águas-vivas saem de óvulos fertilizados com um espermatozoide, o que forma um zigoto, evolui para uma larva e flutua pelo mar até se prender ao solo marinho, virando um pólipo. Uma vez lá, a reprodução assexuada faz com que solte diversas pequenas águas-vivas do corpo, que crescem até a idade adulta — quando são chamadas de medusas, por conta dos tentáculos, que lembram o “cabelo” da figura mitológica grega — e eventualmente morrem.

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A T. dohrnii faz o mesmo processo, mas, ao invés de perecer, faz o ciclo retroceder e volta a ser um cisto, esfera que volta a grudar no leito marinho e se transforma em pólipo novamente. É claro que a determinação de “biologicamente imortal” é limitada, já que o processo pode conferir uma vida indefinidamente longa ao animal, mas não o protege dos predadores e dos ácidos de sua digestão. Em outras palavras, para uma criatura de vida eterna, sua expectativa de vida é bastante baixa.

O segredo da imortalidade

Descobrir o que torna essas pequenas águas-vivas imortais não foi tarefa fácil. Seu genoma foi estudado a fundo em um estudo de 2022, cujo trabalho consistiu em uma exaustiva leitura de gene por gene, desfraldando o “manual de instruções” de todo o animal. Ferramentas de bioinformática e genômica comparativa foram utilizadas para revelar as variações envolvidas no "superpoder" da vida longa e regeneração necessárias para uma característica tão única.

No centro do estudo, estava a capacidade de manutenção do DNA e de replicá-lo sem tantos danos, na renovação de células-tronco, comunicação de célula para célula e dano celular oxidativo. Também foi investigada a manutenção dos telômeros, terminações cromossômicas que se “desenrolam” à medida que criaturas envelhecem, diretamente ligados à longevidade, inclusive em humanos, bem como os processos anteriores. No vídeo abaixo, uma representação gráfica de sua vida e filmagens na natureza:

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Além dessas habilidades, descobriu-se que as T. dohrnii mudam a expressão gênica por um processo chamado desdiferenciação, que “reinicia” seu relógio biológico. Embora tenhamos conseguido desvendar o que torna o animal imortal — ao menos que seja vítima de um predador, é claro —, nunca conseguiremos replicar seu sucesso em humanos, mesmo que consigamos aplicar algumas técnicas anti-envelhecimento aprendidas com seus processos.

A vida eterna está ligada a diversos dilemas éticos e morais, já explorados tanto por filósofos quanto cientistas, para não falar no desequilíbrio natural gerado — basta olhar para o que acontece com populações animais que se tornam pragas, inviabilizando a vida de outras criaturas em um determinado ambiente. A reflexão mais profunda trazida pela T. dohrnii talvez seja: vale a pena viver para sempre?

Fonte: Developmental Biology, PeerJ