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Será que podemos ouvir as auroras boreais? Eis o que cientistas sabem

Por| Editado por Patricia Gnipper | 13 de Outubro de 2021 às 16h46

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twenty20photos/Envato
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Se as auroras boreais já são visualmente fantásticas, imagine se pudermos ouvi-las? Desde o início do século XX, há inúmeras testemunhas que afirmam já terem experimentado um tipo de som durante as observações desse fenômeno geomagnético. Cientistas, no entanto, têm muitas dúvidas a respeito da natureza dessas experiências, que poderiam ser ilusórias ou imaginárias. Mas outros pesquisadores discordam.

Nas primeiras décadas do século passado, relatos afirmavam um ruído quase imperceptível acompanhavam as luzes esverdeadas, um tipo de crepitar zunido, particularmente durante as auroras mais “violentas”. No início da década de 1930, até mesmo os jornais das regiões onde as auroras podem ser observadas publicavam vários relatos de sons como "seda farfalhante". No entanto, a comunidade científica não tinha muitas evidências sobre o assunto.

Um dos argumentos contrários às testemunhas estava relacionado à altitude das auroras. Era difícil explicar como os sons produzidos na ionosfera terrestre poderiam ser percebidos na superfície. Auroras normalmente ocorrem a altitudes de aproximadamente 100 km acima da Terra e, em ocasiões bem raras, abaixo de 80 km. Como ruídos tão sutis poderiam chegar aos ouvidos humanos?

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Por outro lado, é difícil ignorar os relatos de inúmeras testemunhas. Algumas explicações, incluindo as do físico britânico Sir Oliver Lodge (um dos pioneiros da telegrafia sem fio e do rádio), incluem ilusões auditivas. Para ele, o som auroral pode ser um fenômeno psicológico devido à nitidez da aparência da aurora, do mesmo modo que meteoros às vezes evocam um som sibilante. O meteorologista George Clark Simpson também foi mais um dos muitos cientistas que preferiram uma explicação mais psicológica.

Houve também cientistas que testemunharam o ruído, como foi o caso do matemático e físico norueguês Carl Størmer — ou melhor, seus assistentes, que teriam ouvido a aurora. O próprio Størmer, cientista importante do século XX, publicou os relatos, acrescentando credibilidade à hipótese dos ruídos aurorais. Os assistentes descreveram o som como um “assobio muito curioso, distintamente ondulatório, que parecia seguir exatamente as vibrações da aurora".

Apesar do debate chegar ao século XXI sem muitas evidências para nenhum dos lados, um estudo finlandês de 2012 afirmou ter finalmente realizado uma gravação dos ruídos. Os cientistas coletaram um conjunto de gravações em um projeto chamado Acústica Auroral entre 2000 e 2012, somando “aproximadamente 100 noites geomagneticamente oportunas em diferentes locais na Finlândia”, de acordo com os autores. O resultado foi meio terabyte de arquivos e um vídeo de oito segundos com um trecho de áudio selecionado como a evidência mais notável — e você pode conferir abaixo.

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Outro estudo, de 2016, afirmou ter confirmado que as “luzes do norte”, como também são conhecidas as auroras boreais, realmente produzem sons audíveis ao ouvido humano. Mas e o problema da altitude? Bem, parece que uma explicação muito convincente havia sido publicada em 1923 por Clarence Chant, um conhecido astrônomo canadense, mas sem receber a devida atenção. Seu artigo passou desapercebido e só na década de 1970 foi reconhecido.

Neste trabalho, Chant argumentou que o movimento das auroras altera o campo magnético da Terra, induzindo mudanças na eletrificação da atmosfera, mesmo a uma distância significativa. Esta eletrificação produz um som bem próximo da superfície se encontrar objetos no solo — assim como ocorre com o som da estática. Isso pode acontecer nas roupas ou óculos do observador, e até mesmo em objetos ao redor.

Essa hipótese foi sustentada por outros relatos de pessoas que afirmam terem notado um cheiro de ozônio durante as observações da aurora. Hoje, a explicação de Chant é amplamente aceita pelos cientistas, embora ainda haja algum debate sobre como exatamente funcionam os mecanismos que produzem os sons.

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Infelizmente, não é fácil ouvir os ruídos aurorais, nem mesmo para os privilegiados que vivem nas regiões onde a aurora boreal é observada. Os que desejarem fazer parte do grupo de testemunhas dos sons terão que passar uma boa quantidade tempo nas regiões polares, já que as estimativas são de que o fenômeno só ocorre em 5% das exibições aurorais violentas.

Fonte: Space.com