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Rãs de Chernobyl mudaram de cor por causa da radiação; veja a evolução

Por| Editado por Luciana Zaramela | 04 de Outubro de 2022 às 12h48

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CreativeNature_nl/Envato
CreativeNature_nl/Envato

O impacto da maior liberação de material radioativo na história da humanidade, em 1986, parece ter modificado a cor das rãs da região Usina Nuclear de Chernobyl, localizada no norte da Ucrânia. Agora, estão muito mais escuras e são quase pretas. Segundo cientistas espanhóis, a explicação está no nível de radiação local e nos benefícios do excesso de melanina para a sobrevivência nesse ambiente "perigoso".

Publicado na revista científica Evolutionary Applications, o estudo de campo sobre a radiação e a mudança de cor das rãs de Chernobyl (Hyla orientalis) — uma subespécie da Hyla arborea — foi desenvolvido pela dupla Germán Orizaola, da Universidade de Oviedo, e Pablo Burraco, da Doñana Biological Station (EBD). Ambos os institutos de pesquisa estão localizados na Espanha.

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O curioso é que a mudança no padrão de cores não está relacionado com o impacto da radiação em si, o que poderia ter danificado o material genético e gerado mutações. Em outras palavras, os anfíbios não ficaram pretos devido à radiação e, por causa disso, teriam passado a nova cor para os descendentes. Na verdade, a descoberta aponta para um caminho no qual esta espécie está se adaptando a viver com a radiação, através da seleção natural. Isso porque a cor já existia na natureza, antes do acidente nuclear de Chernobyl, mas se intensificou nas últimas gerações.

Por que as rãs de Chernobyl "mudaram" de cor com a radiação?

"Os resultados do nosso estudo sugerem que as rãs de Chernobyl podem ter sofrido um processo de rápida evolução em resposta à radiação. Nesse cenário, aquelas rãs com coloração mais escura no momento do acidente, que normalmente representam uma minoria em suas populações, teriam sido favorecidas pela ação protetora da melanina", explicam os autores, em artigo para o site The Conversation.

Por essa vantagem seletiva, as rãs mais escuras conseguiram se manter vivas em maior número, apesar do acidente nuclear de Chernobyl. Por estarem melhores adaptadas à radiação, elas se reproduziram e perpetuaram a espécie, com características diferentes do padrão.

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"A espécie normalmente tem uma coloração dorsal verde brilhante, embora ocasionalmente possam ser encontrados indivíduos mais escuros", explicam os autores sobre o padrão das rãs antes do incidente.

Impacto da melanina na evolução da espécie exposta à radiação

Para entender, a melanina é uma proteína produzida por muitos organismos e, entre os seus impactos, deixa a tonalidade da pele mais escura. "O que é menos conhecido é que essa classe de pigmentos também pode reduzir os efeitos negativos da radiação ultravioleta. E seu papel protetor também pode se estender à radiação ionizante, como foi demonstrado com fungos", explicam os pesquisadores.

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"Essas ações tornam menos provável que indivíduos expostos à radiação sofram danos celulares e aumentem suas chances de sobrevivência", apontam os cientistas, o que torna a característica um excelente benefício para espécies que estão na região de Chernobyl.

A dupla de pesquisadores acompanha a evolução das rãs desde 2016 e, desde o acidente nuclear, contabilizam que pelo menos 10 gerações da espécie já nasceram após esta mudança drástica no ambiente. "Embora muito rápido, o processo de seleção natural pode explicar o porquê dessas rãs escuras serem, agora, o tipo dominante para a espécie dentro da Zona de Exclusão de Chernobyl", completam os autores.

Vale lembrar que, hoje, a região em que ocorreu o acidente de Chernobyl se tornou uma das maiores reservas naturais da Europa e, neste momento, inúmeras espécies também estão aprendendo a sobreviver com a radiação. Mesmo que em menor grau, é possível que outros animais também acumulem mudanças deste tipo, como as rãs.

Fonte: Evolutionary ApplicationsThe Conversation e iNaturalist