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Por que o mosquito da dengue tem preferência por seres humanos?

Por| 23 de Julho de 2020 às 15h45

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Reprodução/Pixabay
Reprodução/Pixabay

Voam pelo mundo cerca de 3,5 mil espécies de mosquitos; no entanto, são só algumas que se alimentam do sangue humano e disseminam doenças infecciosas. Entre os mais conhecidos, está o Aedes aegypti, que pode transmitir a dengue e a febre amarela, além do vírus da Zika e da Chikungunya. 

Mais da metade da população mundial vive em áreas onde os mosquitos Aedes aegypti estão presentes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e os mosquitos causam milhões de mortes todos os anos, o que faz deles uma das espécies mais mortais do mundo. Segundo o Ministério da Saúde, foram 1,5 milhão de notificações de casos de dengue em 2019, sendo 754 óbitos.

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Nesse cenário, uma das questões que mais intrigavam os pesquisadores era por que os mosquitos Aedes aegypti preferiam tanto os humanos na hora de picar. É essa pergunta que um grupo de cientistas, incluindo da Universidade de Princeton, no Reino Unido, investigou. De acordo com o artigo publicado nesta quinta-feira (23) na revista Current Biology, a preferência por humanos é, basicamente, uma questão evolutiva e dois fatores desempenham um papel importante nessa "escolha", o clima seco e a vida urbana. 

Como foi feito o estudo?

Os pesquisadores aproveitaram o fato de que o Aedes aegypti veio, originariamente, da África, e que  no continente muitas espécies de mosquitos ainda não têm uma preferência direta por seres humanos. Em outras palavras, era um ambiente de testes que permitia inclusive comparar o interesse entre esses insetos. Por três anos, o grupo de cientistas investigou o comportamento deles, especificamente, na África subsaariana e descobriu que os mosquitos têm, realmente, preferências diferentes.

Com foco no comportamento do Aedes aegypti, foram coletados ovos da espécie em 27 locais da região. A partir de testes, em laboratório, de cada uma das populações, foi que os pesquisadores atestaram a preferência pelo odor humano em comparação a outros animais. No experimento, os mosquitos eram soltos em uma caixa com acesso a dois tipos de odores, uma entrada era para o cheiro humano e a outra era para outros animais, como codornas e porquinhos da Índia.

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"Muitas pessoas especularam porque essa espécie evoluiu para morder seletivamente seres humanos, mas nosso estudo é o primeiro a abordar essa questão diretamente com dados empíricos sistemáticos", afirma Carolyn McBride, da Universidade de Princeton.

Vida urbana e clima seco

Segundo os cientistas, os mosquitos que vivem em áreas urbanas e mais povoadas eram os que mais se atraiam por pessoas, em comparação aos mosquitos de zonas mais rurais. "Os mosquitos que vivem perto de densas populações humanas em cidades como Kumasi, Gana ou Ouagadougou, Burkina Faso, mostraram maior disposição para picar hospedeiros humanos", explica Noah Rose, da Universidade de Princeton, sobre as conclusões da pesquisa. 

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Além disso, os mosquitos que vivem em locais com estações mais longas de seca e com temperaturas mais elevadas também mostraram uma forte preferência pelo odor humano em relação a outros animais. “Eles apenas desenvolvem uma forte preferência por hospedeiros humanos em locais com intensas estações secas - em particular na região do Sahel, onde as chuvas estão concentradas em apenas alguns meses do ano. Pensamos que isso ocorre porque os mosquitos nesses climas são especialmente dependentes dos seres humanos e do armazenamento de água humana durante seu ciclo de vida”, completa Rose.

"Também fiquei surpreso que o clima fosse mais importante do que a urbanização na explicação das variações comportamentais atuais. Muitos mosquitos que vivem em cidades bastante densas não preferem particularmente morder hospedeiros humanos", detalha Rose sobre a principal descoberta feita pelo estudo com os hábitos do Aedes aegypti. A partir disso, os pesquisadores sugerem que essa preferência aconteça, porque esses mosquitos enxergam os humanos como fontes de água, o que garantiria a sobrevivência durante os períodos de seca.

Uma curiosidade importante sobre os mosquitos é que a apenas a fêmea se alimenta de sangue humano, isso porque ela o utiliza para realizar o desenvolvimento completo dos ovos e a maturação nos ovários. Ou seja, a alimentação deles é mais rica e tanto o macho quanto a fêmea consomem, na maior parte do tempo, substâncias com açúcar, como néctar e seiva. Por isso, surpreende o fato de os mosquitos preferirem humanos em regiões mais secas, o que em milhões de anos poderia mudar até mesmo o comportamento dos machos.

Aumento populacional

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Sabendo da preferência maior por humanos em regiões mais densas e quentes, os pesquisadores desenvolveram uma modelagem para determinar como o aquecimento global e a rápida urbanização, em andamento nessa região africana, poderiam moldar o comportamento dos mosquitos no futuro. Isso porque os cientistas estimam que a rápida urbanização poderia aumentar a preferência de  mosquitos por humanos nas cidades da África Subsaariana nos próximos 30 anos.

Nessa constante, é possível que, em décadas, mais espécies de mosquitos também possam evoluir para picar mais os seres humanos no lugar de outros animais. Dessa foram, poderiam, potencialmente, espalhar uma série de novas doenças.

Fonte:  EurekaAlert!, Estadão, Fiocruz e The Guardian