Ondas desconhecidas podem estar em qualquer parte do manto da Terra
Por Danielle Cassita • Editado por Luciana Zaramela | •

Parece que as zonas misteriosas no fundo do manto da Terra, onde as ondas sísmicas dos terremotos desaceleram, podem estar presentes em todo o planeta. Os cientistas já sabiam que as zonas de velocidade ultrabaixa (ou “ULVZs”, na sigla em inglês) ocorrem nas partes do manto onde rochas quentes sobem e formam cadeias de ilhas vulcânicas. Agora, o novo estudo de pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, indica que estas estruturas podem estar bem mais espalhadas.
As ULVZs ficam no manto inferior, uma espécie de divisão entre o manto e o núcleo do nosso planeta. Elas podem causar desaceleração de até 50% nas ondas sísmicas. “Esta é uma das características mais extremas que vemos em qualquer parte do planeta”, disse Michael Thorne, geólogo da Universidade de Utah, ao Live Science. “E não sabemos o que são, de onde vêm, de que são feitas, [ou] que papel desempenham no interior da Terra.”
Por mais intrigantes que sejam, as ULVZs não eram o objetivo principal da nova pesquisa liderada por Thorne. Na verdade, ele e seus colegas estavam intrigados pelos grandes tremores observados nas zonas de subducção, aquelas em que uma placa tectônica desliza sob a outra e emite ondas sísmicas fortes.
Estas ondas são chamadas de PKP e viajam pelo manto, pelo núcleo externo e voltam ao manto, seguindo pelo planeta em direção oposta à de onde vieram. Às vezes, estas ondas ocorrem após as chamadas PKP precursoras que, após serem dispersas por estruturas misteriosas no manto terrestre, chegam antes da onda principal.
Para saber o que tais estruturas podem ser, a equipe de Thorne modelou o deslocamento de ondas PKP em um modelo computacional do manto da Terra. Depois, eles adicionaram áreas que mudavam a velocidade das ondas, e encontraram padrões previsíveis da variação das ondas PKP: os dados mostraram que as ondas destes terremotos viajaram pelo núcleo e, depois, pela América do Norte.
No fim, os resultados sugerem que algo desacelerou as ondas sísmicas. Para os autores, os principais suspeitos são os vales e fendas presentes nas ULVZs, a fronteira entre o manto e o núcleo, que por onde as ondas passaram. A divisa entre o núcleo e o manto parecia ser suave, mas estudos anteriores mostraram que há uma grande ULVZ sob o Pacífico, a qual está sobreposta à área estudada.
Por fim, os pesquisadores encontraram possíveis sinais de ULVZs sob a América do Norte, Ásia, Papua-Nova Guiné e nordeste do Pacífico. Como as ULVZs estão bastante dispersas, Thorne suspeita que elas são recentes e que foram geradas ativamente — é possível que sejam áreas de rochas basálticas vulcânicas formadas em fendas no meio do oceano, por exemplo.
Quando este basalto é empurrado ao manto pela subducção, ele derrete, formando bolsões capazes de desacelerar as ondas sísmicas. Tais bolsões podem ser empurrados ao redor do manto pela crosta. Por isso, ao entender melhor a formação das ULVZs, os geológos podem compreender mais profundamente as áreas de atividade vulcânica, bem como o movimento do manto.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista AGU Advances.
Fonte: AGU Advances, Space.com