Núcleo interno da Terra não é homogêneo e tem textura complexa
Por Danielle Cassita • Editado por Patricia Gnipper |

Talvez o núcleo da Terra não seja homogêneo quanto se pensava, e mais: ele pode ter uma textura, como se fosse um tapete, e ela varia de acordo com a profundidade. As descobertas vêm de um estudo liderado por Guanning Pang, da Universidade de Cornell, que trabalhou com a análise de ondas sísmicas.
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Keith Koper, coautor do estudo, explica que a equipe queria investigar o núcleo interno do nosso planeta. No interior da Terra, há um núcleo externo com quase 9 mil quilômetros de espessura, formado por metais derretidos envolvendo o núcleo interno, que é sólido. Estudar estas camadas não é fácil, já que elas não podem ser acessadas diretamente.
O melhor jeito de examiná-las é com ondas sísmicas, que se propagam da crosta terrestre até o manto rochoso e o núcleo. Por isso, os autores trabalharam trabalharam com dados obtidos por uma rede de instrumentos sísmicos, montada para detectar explosões nucleares.
Ela é formada por quatro sistemas, capazes de detectar explosões em todo o mundo. Nos últimos anos, a equipe de Koper analisou dados sísmicos obtidos por 20 instalações dos sismômetros da rede, com dois localizados na Antártida. A forma como as 2.455 ondas analisadas foram refletidas pelo núcleo interno ajudaram os autores a mapear a estrutura interna dele.
“Nossa maior descoberta é que a inomogeneidade tende a ficar mais forte conforme você vai mais fundo”, disse Pang. A falta de homogeneidade mencionada por ele significa que o núcleo interno da Terra não é uma massa uniforme, mas sim com textura que revela um pouco sobre sua formação.
Com os dados das ondas sísmicas, eles criaram um mapa tridimensional que representa a força relativa delas, dispersa pelo núcleo interno da Terra. Ali, há ondulações e irregularidades com menos de 10 km de extensão, e estas diferenças de relevo ficam mais presentes em direção ao centro.
Koper explicou que a textura do núcleo, que comparou à de um tapete, parece ter relação com a velocidade de crescimento do núcleo interno da Terra. No passado, ele se expandiu rapidamente, até que chegou a um equilíbrio e passou a crescer mais lentamente. “Nem todo o ferro ficou sólido, então algum líquido pode estar preso por dentro”, sugeriu.
Não pense que o trabalho acabou por aqui. “O mapeamento contínuo do ‘tecido’ do núcleo interno é importante, porque ele registra a história e a evolução do núcleo da Terra que, por sua vez, guarda a história e a evolução do campo magnético da Terra, a convecção no núcleo externo e o fluxo de calor até a base do manto”, concluíram os autores.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature.
Fonte: Nature; Via: University of Utah