Menopausa faz com que orcas fêmeas vivam mais que os machos
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Marcada pelo declínio natural da produção de hormônios reprodutivos, a menopausa parece ter uma função até então desconhecida: prolongar o tempo de vida. É o que revela um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, após analisar cinco espécies diferentes de cetáceos, os mamíferos que vivem na água, como as orcas. De modo geral, as fêmeas vivem mais que os machos.
- Orca é baleia ou golfinho? Entenda a diferença
- 11 maneiras com que as orcas mostram sua incrível inteligência
Segundo os cientistas britânicos, apenas seis espécies de mamíferos conhecidos no mundo experimentam a menopausa, incluindo a humana. Fora deste seleto grupo, as fêmeas normalmente procriam durante toda a vida, como explicam em artigo publicado na revista Nature.
Orcas fêmeas vivem mais que machos
Em média, as orcas fêmeas que passam pela menopausa vivem dezenas de anos a mais que fêmeas de espécies de baleias com tamanhos semelhantes. No entanto, a diferença do tempo de vida chama mais atenção em relação aos machos de uma mesma espécie.
Analisando as orcas (Orcinus orca), é possível observar que as fêmeas podem chegar até os 80 anos, enquanto os machos tendem a morrer por volta dos 40 anos. É o dobro da expectativa de vida.
Semelhantemente, isso também pode ser observado nestas quatro espécies: baleia-piloto-de-aleta-curta (Globicephala macrorhynchus), falsa-orca (Pseudorca crassidens), narval (Monodon monoceros) e baleia-branca ou beluga (Delphinapterus leucas). Tanta diferença não é comum para outros mamíferos.
Por que viver mais?
De forma geral, “o processo de evolução favorece características e comportamentos pelos quais um animal passa seus genes para as gerações futuras”, lembra o cientista Sam Ellis, principal autor do estudo, em nota.
Para as fêmeas, “a maneira mais óbvia de fazer isso é procriar durante toda a vida. Isso é o que acontece em quase todas as espécies animais”, explica Ellis. Afinal, das 5 mil espécies de mamíferos catalogadas, apenas seis passam pela menopausa. Dito isso, é um grande enigma entender o porquê da menopausa.
Sobrevivência após a menopausa
Pelos olhos da biologia, a menopausa e a continuidade da vida após a fase reprodutiva só fazem sentido em condições muito específicas, como sugere Darren Croft, outro autor do estudo.
“Em primeiro lugar, uma espécie deve ter uma estrutura social em que as fêmeas passem a vida em contato próximo com os seus descendentes e netos”, pontua Corft. Além disso, “as fêmeas devem ter a oportunidade de ajudar de forma a melhorar as chances de sobrevivência da sua família”, acrescenta.
Segundo estudos observacionais, descobriu-se que as orcas partilham os alimentos e usam os seus conhecimentos para orientar o grupo na procura de novas refeições, em tempos de escassez. Isso pode explicar o porquê da vida mais longeva, considerando a existência de “vovós” sábias nos oceanos.
Menopausa em humanas
“Os nossos resultados mostram que os humanos e esses animais apresentam uma história de vida convergente”, comenta Croft. Tal como nos humanos, a menopausa evoluiu por seleção para aumentar a expectativa de vida total, sem prolongar a vida reprodutiva, sugere o cientista.
Entretanto, as mulheres não vivem tantos anos a mais que os homens. A diferença da expectativa média de vida de cada um dos sexos beneficia pouco as mulheres.
Segundo dados do IBGE, as mulheres vivem, em média, 79 anos no Brasil, enquanto o tempo médio de vida para os homens é de 72. São cinco anos de diferença, mas bem menos que os 40 das orcas.
Fonte: Nature e Universidade de Exeter