Lucy: australopiteco tinha pernas musculosas para andar ereto e subir em árvores
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Uma nova simulação 3D de Lucy, nossa ancestral extinta mais famosa, deu mais uma prova de que a Australopithecus afarensis conseguia andar em posição ereta. Segundo os cientistas, a hominídea, que teria morrido há 3,2 milhões de anos, andava em pé como nós e não como os chimpanzés, que se locomovem nos quatro membros.
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Ao reconstruir os músculos da pelve e perna de Lucy, os pesquisadores também sugerem que ela conseguia subir em árvores com destreza, o que leva a crer que os A. afarensis eram bem adaptados tanto a ambientes descampados quanto florestais em seu habitat no leste africano, entre 3 a 4 milhões de anos atrás. As palavras são de Ashleigh Wiseman, pesquisadora arqueológica que conduziu a modelagem para o estudo.
Comparando australopitecos e humanos
Nos fósseis da espécie de Lucy, não há tecidos moles preservados, mas há algumas maneiras de se estimar como a musculatura de australopitecos — para a pesquisa, foram utilizados modelos humanos para fazer comparações análogas. A estrutura óssea e ligamentos musculares de Homo sapiens podem nos dar uma ideia de como os de Lucy eram sobrepostos em seu esqueleto, e foram usados como referência no modelo virtual.
Foram recriados 36 músculos das pernas do australopiteco fêmea, mostrando que ela conseguia esticar as juntas do joelho e estender o quadril de forma semelhante à dos humanos modernos, e, por consequência, ficar em pé e caminhar de maneira ereta. As proporções estimadas de gordura e músculo também indicam que Lucy era muito mais musculosa do que nós, mais comparável a um bonobo (Pan paniscus).
Cerca de 50% de uma coxa humana é composta de músculos, enquanto a do australopiteco tinha provavelmente 74%, e bem menos gordura. Seus músculos da panturrilha e coxa ocupavam cerca do dobro de espaço na perna que ocupam os dos humanos modernos.
Os joelhos da nossa ancestral tinham um alcance maior no eixo de movimento flexão-extensão do que nós temos, sugerindo que a espécie conseguia se adaptar muito bem tanto às savanas, com gramíneas e descampados, quanto à densidade das florestas da África. Esse tipo de locomoção não é visto em nenhum animal moderno, dando à Lucy uma maneira de andar e se mover que não teve mais paralelos na natureza.
A pesquisa é baseada em um esqueleto incompleto, já que não temos um A. afarensis completamente conservado para estudo, e seguimos sem saber por quanto tempo a espécie conseguia manter a postura ereta. Os resultados da análise, no entanto, estão de acordo com o consenso científico acerca das habilidades físicas de Lucy e seus parentes.
Embora o estudo não tenha trazido novidades incríveis sobre os australopitecos, reconstruir os músculos de uma espécie extinta é um método interessante e novo para confirmar características como o bipedalismo — algo recentemente confirmado nos Sahelantropus, os ancestrais mais antigos considerados humanos — sendo bastante promissor para pesquisas futuras.
É um avanço nas interpretações mais simplistas anteriores, que não podiam passar da imaginação dos movimentos e locomoção de espécies antigas. Exemplos de usos interessantes da tecnologia incluem a recente estimativa da velocidade de movimento dos Tyranossaurus rex e a descoberta de que as caudas dos grandes dinossauros pescoçudos não conseguiam atingir a velocidade do som.
Fonte: University of Cambridge, Royal Society Open Science, LiveScience