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Fósseis do Berço da Humanidade podem ter 1 milhão de anos a mais do que se pensa

Por| Editado por Luciana Zaramela | 27 de Junho de 2022 às 20h10

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Reprodução: R. Campbell, G. Vinas, M. Henneberg, R. Diogo
Reprodução: R. Campbell, G. Vinas, M. Henneberg, R. Diogo

Novo método de datação geológica desenvolvida por cientista da Purdue University permitiu descobrir que os fósseis do "Berço da Humanidade", na África do Sul, podem ser 1 milhão de anos mais velhos do que se pensava. O local, que é Patrimônio Mundial da UNESCO, contém diversas cavernas cheias de depósitos fósseis, como as recentemente revisitadas Cavernas Sterkfontein.

Os cientistas estudam os fósseis de ancestrais humanos dessas cavernas, que contêm os mais famosos australopitecos do mundo, há muitas décadas: o primeiro australopiteco adulto foi encontrado lá, em 1936. A espécie faz parte dos hominínios, família que inclui humanos e alguns parentes ancestrais, mas não outros grandes primatas, como chimpanzés e gorilas.

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Fósseis, cavernas e hominínios

Centenas de australopitecos já foram encontrados nas Cavernas Sterkfontein, incluindo Mrs. Ples — um Australopithecus africanus quase completo — e Little Foot (Pé Pequeno), também beirando a completude.

Agora, Darryl Granger, geólogo e professor do College of Science da Purdue University, desenvolveu um método para datar sedimentos geológicos em seu doutorado, incluindo os de cavernas, e os utilizou para revisitar os fósseis das famosas cavernas sul-africanas, que eram estimados, até agora, em 2 a 2,5 milhões de anos.

Publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, o estudo determinou que os sedimentos das cavernas que abrigam os fósseis têm de 3,4 a 3,7 milhões de anos, colocando-os no início da era dos australopitecos, ao invés de seu final, como anteriormente imaginado. O fóssil Dinkinesh, que vem da Etiópia, tem 3,2 milhões de anos, e sua espécie, A. africanus, 3,9 milhões de anos.

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Datar fósseis em cavernas é difícil, já que pedras e ossos se acumulam no fundo dos buracos e há poucas maneiras de se datar sedimentos de cavernas. No Vale da Fenda, no leste africano, sedimentos vulcânicos que podem ser datados ajudam no processo, mas na África do Sul, especialmente nas cavernas, não há esse luxo.

O melhor método para datar os fósseis nesses locais é analisar as pedras onde os fósseis foram encontrados: a matriz rochosa que os abriga, chamada "brecha", é o material que Granger e sua equipe analisaram. O método é complexo, e envolve espectrometria de aceleramento de massa para medir nuclídeos radioativos nas pedras, bem como mapeamento geológico e entendimento de como sedimentos se acumulam em cavernas.

Além do método de análise de nuclídeos cosmogênicos, a equipe fez mapas cuidadosos dos depósitos da caverna e demonstrou como fósseis animais de diferentes eras se misturaram em escavações das décadas de 1930 e 1940, confundindo os períodos atribuídos aos sedimentos nas décadas passadas. Granger espera que isso prove a confiabilidade de seu método e como ele é útil para situar nossos ancestrais humanos corretamente no tempo.

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Datar esses fósseis com precisão é importante por conta de sua influência no entendimento científico do ecossistema da época: isso mostra como e onde os humanos evoluíram, como se encaixavam no panorama biológico de seu tempo e quem seus parentes mais próximos são e foram, trazendo perguntas importantes e complexas à ciência. Colocar os fósseis de Sterkfontein em sua época certa é mais um passo em direção a resolver um pouco melhor esse enorme quebra-cabeça.

Fonte: PNAS