Gatos podem trazer provas de DNA humano em cenas de crime
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Se você pensava que apenas o seu cachorro poderia denunciar um crime, farejando substâncias ilícitas, pense novamente: é hora dos felinos preferidos dos seres humanos entrarem na força policial. Ao menos é o que a nova pesquisa da Flinders University tenta fazer: procurar DNA humano, que eventualmente pode pertencer a criminosos, nos pelos dos gatos domésticos.
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A ideia da pesquisa seria utilizar essa análise de DNA como um último recurso, quando todos os outros não produziram resultados na cena de um crime. Apesar de ser uma ideia interessante, ela está apenas no início: até agora, 80% dos felinos domésticos, em uma amostragem de 20, carregaram DNA humano consigo, em uma área específica da pelagem — vindo, inclusive, dos inquilinos de suas residências, quer dizer, dos humanos que compartilham o ambiente com eles.
Gatos delatores e seus pelos
A maioria das amostras era boa o suficiente para ser possível ligá-la ao ser humano de origem. Os pesquisadores responsáveis tiveram a ideia ao estudar ciência forense e notar que não havia referência a animais no campo de estudos. Pioneiro na área, o estudo estabeleceu que os gatos mantêm um registro dos humanos com quem interagiram em seus pelos: agora, há muito a ser feito a partir da descoberta.
Para começar, devem ser feitas outras pesquisas para descobrir se o mesmo vale para os cachorros. Outra abordagem é estabelecer o quão comum é a retenção de DNA pelos gatos, e o quanto isso se estende de residentes permanentes da casa a visitantes ou ocupantes muito ocasionais do local, como alguém que realiza um furto.
Como alguns dos gatos traziam material que era humano, mas que não pertencia aos seus tutores, já indicava que visitas breves já seriam o suficiente para deixar um pouco de DNA. Há, no entanto, alguns vieses, que mesmo os pesquisadores admitem: os gatos do estudo foram selecionados por serem amigáveis, não se estressando com pessoas novas, e a maioria era caseira, sem acesso ao exterior. Com isso, a análise não verificou se eles poderiam carregar material de transeuntes estranhos.
Um dos gatos, no entanto, costumava ser levado em caminhadas com uma coleira: quando foi equipado com ela, para ser mantido imóvel para a coleta de pelos a serem estudados, o animal pensou estar na hora de passear, e correu para a porta, animado. Outro roubou a escova do pesquisador, mas, bem treinado, a devolveu. O cientista responsável imaginou como seria difícil retirar amostras em situações mais corriqueiras, com gatos menos bem-comportados.
Mesmo assim, a ideia para pesquisas futuras é coletar amostras de gatos diferentes, não apenas confirmando os achados recentes, mas verificando se os felinos podem contaminar o ambiente de amostras — ou seja, se o DNA de uma cena de crime pode acabar sendo plantado sem querer, vindo de um transeunte, pelo gato em questão, ao invés de pertencer a um ladrão, por exemplo. Essa é, sem dúvida, uma coisa muito felina.