Fósseis de espinhos de ouriço mostram diversidade marinha há 104 milhões de anos
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Paleontólogos estão, aos poucos, desvendando os segredos do fundo do mar, onde as primeiras formas de vida podem ter surgido há centenas de milhões de anos — e onde seres bizarros atualmente vivem. Especialmente estudadas são as espécies desse entremeio, o que nos revela como a vida evoluiu até chegar aqui e como pode ter sido no início dos tempos.
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Algumas teorias dizem que os ecossistemas marinhos foram extintos diversas vezes ao longo da existência, mas que, uma vez após outra, os mares acabaram novamente. Isso faria com que a vida atual das profundezas fosse comparativamente “jovem” em relação à vida na Terra como um todo. Diversas evidências, no entanto, têm mostrado que a vida nessa parte do planeta tem uma história mais antiga do que se pensava.
Equinodermos antigos e a extinção dos dinossauros
Pesquisadores da Universidade de Göttingen conseguiram, recentemente, encontrar a primeira evidência fóssil de uma colonização estável das profundezas do mar por invertebrados superiores de pelo menos 104 milhões de anos atrás. São espinhos fósseis de equinoides irregulares, ou seja, equinodermos antigos (ouriços-do-mar e bolachas-do-mar), indicando que eles estiveram presentes desde o período Cretáceo, evoluindo sob a influência de condições climáticas cambiantes.
O estudo, publicado no periódico científico PLOS One, analisou mais de 1.400 amostras de sedimentos de perfurações nos oceanos Pacífico, Atlântico e Mar do Sul, chegando de profundezas de 200 metros a 4,7 km. Foram achados mais de 40 mil fragmentos de espinhos, que, com base em estrutura e formato, definiu-se terem pertencido a equinoides irregulares.
As características morfológicas dos itens, como formato e comprimento, foram comparadas com os de equinodermos mais modernos, determinando uma média de espessura com base em 170 espinhos de cada período. Como indicador da massa total de equinodermos no habitat (ou seja, sua biomassa), foram notadas as quantidades de material espinhoso nos sedimentos.
Com isso, descobriu-se que, durante o impacto do meteorito em Chicxulub há 66 milhões de anos, que extinguiu os dinossauros, os espinhos de equinodermos acabaram ficando mais finos e menos diversos.
Os pesquisadores acreditam que isso seja graças ao “Efeito Lilliput” — segundo esse preceito, as espécies menores têm uma vantagem de sobrevivência após extinções em massa, deixando o corpo das espécies menor. Isso pode ter ocorrido por conta da escassez de alimento no fundo do mar no final do Cretáceo.
Há cerca de 70 milhões de anos, a biomassa de equinodermos aumentou, e sabemos que a água ficou mais fria no mesmo período. Essa relação entre a biomassa nas profundeas e a temperatura da água leva os cientistas a especular como o mar profundo irá mudar por conta das mudanças climáticas geradas pelo ser humano, como o aquecimento global.
Fonte: PLOS One, University of Göttingen