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Estudo revela pirâmides de terra batida e redes de cidades na Amazônia

Por| Editado por Luciana Zaramela | 25 de Maio de 2022 às 20h30

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Prümers et al/Nature
Prümers et al/Nature

Um estudo feito na Amazônia, em Llanos de Mojos, Bolívia, revelaram as ruínas de assentamentos indígenas muito maiores do se pensava existir na região, incluindo pirâmides de terra batida de até 20 metros de altura. As estruturas, que datam de 1.500 a 600 anos atrás, incluem redes de fortificações, estradas, canais e represas. A pesquisa foi publicada na revista Nature nesta quarta-feira (25).

O estudo foi feito por arqueólogos da Alemanha e da Bolívia, utilizando tecnologias avançadas de escaneamento LiDAR (Light Detection And Ranging), que mapeia o solo através de lasers. Foram mapeados 26 sítios arqueológicos da cultura Casarabe, alguns locais com tamanho de cidades, desafiando crenças anteriores sobre a habitação do território amazônico pré-colombiano.

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Como eram as vilas?

As sociedades que viviam nos assentamentos amazônicos era agriculturalistas, tinham interesses cosmológicos e vivam no meio da selva boliviana. Cerca de metade dos sítios eram desconhecidos aos arqueólogos, e demonstram a presença de uma sociedade complexa antes das invasões dos europeus. Segundo os cientistas, o sistema de moradia dos Casarabes era contínuo e denso.

Para descobrir os sítios arqueológicos, scanners LiDAR foram montados em helicópteros, escaneando seis áreas em um único voo que levariam anos para avaliar em trabalho de campo, também por conta da densa cobertura vegetal, que atrapalha no panorama do local. Dois dos sítios arqueológicos tem o tamanho de cidades, batizados de Cotoca e Landívar pelos pesquisadores.

O tamanho respectivo deles é 147 e 315 hectares, sendo que um hectare tem a área aproximada de um campo de futebol. Ambos têm o que parece ser um centro ritualístico ou governamental, identificado pelos terraços de até seis metros de altura e as pirâmides de terra batida construídas sobre eles. Ao redor, há três estruturas defensivas concêntricas, com fossos escavados e muralhas, todos de terra batida.

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A rede de assentamentos faz parte do que se chama de urbanismo de baixa densidade, sendo o primeiro achado do tipo nas planícies tropicais da América do Sul. Os Casarabes, aparentemente, aproveitavam as cheias sazonais para o cultivo do campo enquanto caçavam e pescavam. Estima-se que esse povo tenha movido cerca de 570.000 metros cúbicos de terra para construir Cotoca, dez vezes mais do que o povo Tiwanaku moveu para a pirâmide de Akapana, maior estrutura encontrada nas terras altas bolivianas.

Quem construiu?

Segundo os pesquisadores, a diversidade das línguas e culturas da região acaba sendo grande demais para saber qual povo construiu as estruturas. Apesar disso, há alguns indícios de contatos comerciais com populações de Cochabamba, outra região da Amazônia boliviana, com povos da Amazônia brasileira e com os Andes.

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No contexto da Amazônia, há áreas como o Alto Xingu e a Ilha de Marajó que também contam com estruturais monumentais, desde estradas e fortificações até plataformas artificiais que abrigavam assentamentos em épocas de cheia. Para descobrir como o achado boliviano pode se diferenciar destes últimos, será necessário encontrar artefatos no solo que podem detalhar as dietas, modo de vida e práticas culturais dos povos que ali habitavam, algo impossível de saber pelo escaneamento realizado.

De qualquer forma, a descoberta já representa uma quebra no paradigma da região amazônica pré-colombiana, demonstrando alta sofisticação no manejo do território, já que os campos elevados artificiais permitiam plantio durante as cheias e canais para regularizar a distribuição de água, além de rampas e estradas para facilitar o deslocamento. O espaço social e público criado, segundo os especialistas, é comparável ao das culturas andinas mais conhecidas, como os incas.

Fonte: Nature