Encontrado fragmento oculto da Bíblia, datado de 1,7 mil anos
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Diferente do que se pode imaginar, a Bíblia passou por inúmeras adaptações até chegar nas versões que são amplamente aceitas hoje. Ao longo dos mais de 2 mil anos que marcam o nascimento de Jesus, um dos maiores “problemas” foi a questão das traduções. Agora, pesquisadores austríacos descobriram uma versão ainda mais antiga do Evangelho segundo Mateus, do Novo Testamento, com 1,7 mil anos, escondida em um texto mais novo na Biblioteca do Vaticano, na Itália.
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Publicado na revista científica New Testament Studies, o estudo da Academia Austríaca de Ciências (OeWA) revelou um pequeno fragmento do Evangelho de Mateus, escrito em siríaco (idioma sírio). Por causa do dialeto usado, é possível supor que o texto original foi produzido a partir do grego no século III, copiado no século VI para o livro e, posteriormente, apagado por um escriba na Idade Média. É o que aponta a análise feita com fotografia ultravioleta.
Por que apagaram uma passagem da Bíblia?
Hoje, seria impensável apagar um fragmento de qualquer texto, já que o advento da internet produziu um espaço praticamente ilimitado de armazenamento. De forma resumida, qualquer biblioteca pode ser condensada em um Kindle.
No entanto, há mais de mil anos, o acesso a um pergaminho era bastante restrito, ainda mais no meio do deserto. Neste contexto, os manuscritos eram frequentemente apagados e reutilizados.
O que está escrito no novo fragmento da Bíblia?
Para conseguir ler o escrito apagado, os cientistas usaram a luz ultravioleta, em um processo que é comum na descoberta de elementos perdidos e, propositadamente, apagados pelos artistas em pinturas. No caso da Bíblia, o texto original foi encontrado na terceira camada de escrita (um palimpsesto duplo).
Para Grigory Kessel, a principal pesquisadora do estudo, a descoberta oferece uma nova oportunidade para entender como os textos mais antigos dos Evangelhos eram traduzidos e foram compartilhados ao longo das gerações.
Embora o fragmento completo não tenha sido compartilhado, os cientistas detalham a diferença entre o original grego e sírico em uma pequena passagem:
- Em grego: "Naquele tempo, Jesus passou pelas searas no sábado; e seus discípulos ficaram com fome e começaram a colher as espigas e comer";
- No idioma sírio: "[...] começou a colher as espigas, esfregá-las nas mãos e comê-las".
Fonte: New Testament Studies e OeWA