Diamante formado nas profundezas revela manto terrestre rico em água
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |
Um diamante recentemente desenterrado em uma mina em Botswana está cheio de falhas e vestígios de minerais hidratados. Isso sugere que o diamante se formou a 660 quilômetros abaixo da superfície da Terra, trazendo implicações para o estudo do manto terrestre.
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Entre o manto superior e inferior, existe uma camada rica em água com 660 quilômetros de espessura, conhecido como manto transicional. Embora estudos anteriores já tenham indicado a presença de água nessa zona, a nova descoberta traz uma percepção nova.
Com a ajuda de placas tectônicas, a água penetra no interior do planeta a profundidades bem maiores que a dos oceanos, chegando até o manto inferior. Com o tempo, ela retorna à superfície por meio da atividade vulcânica — isso é chamado ciclo das águas profundas.
Entretanto, pouso se sabe sobre o funcionamento desse ciclo, ou quanta água existe por lá. Conhecer melhor esses detalhes pode ajudar a entender a atividade do planeta, já que a quantidade de água pode influenciar a explosividade de uma erupção vulcânica.
O diamante encontrado fornece pistas importantes, como a presença de um conjunto de ringwoodita (silicato de magnésio) em contato com ferropericlásio (óxido de magnésio/ferro) e enstatita (outro silicato de magnésio com composição diferente).
A enstatita indica que o diamante fez um longo percurso: ela é um mineral formado a partir da bridgmanite, que por sua vez se forma quando a ringwoodite se decompõe em áreas de alta pressão do manto transicional. Ao subir para zonas de menor pressão perto da superfície, a bridgmanite torna-se enstatita.
Em outras palavras, os minerais encontrados no diamante revelam a sua jornada através do manto terrestre. Além disso, o fato dos minerais serem hidratados sugere que o diamante se formou na presença de água, embora nas profundezas do manto.
Tais indícios são importantes porque, embora diamantes formados no manto superior sejam comumente associados a um ambiente hidratado, é muito raro encontrar o mesmo nas profundezas do manto transicional ou inferior.
Em última análise, a descoberta sugere que o manto transicional é mais hidratado do que se pensava, além de fornecer dicas sobre o ciclo das águas profundas e sobre o quão profundo a água pode infiltrar em nosso planeta.
O artigo que descreve o estudo foi publicado na Nature Geoscience.
Fonte: Nature Geoscience; via: ScienceAlert