Cientistas prometem produzir bacon indistinguível do original em laboratório
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Em meio a movimentos advogando contra a exploração e violência animal e a favor de dietas vegetarianas e veganas, há todo um setor da indústria voltado a atender as demandas por alimentos que imitam a textura, o sabor e as propriedades nutricionais da carne. É muito difícil combinar todas essas características em um só produto, então é comum vermos iniciativas que tragam uma ou duas delas acopladas, no máximo. Cientistas prometem, agora, conseguir fabricar um bacon indistinguível do original em laboratório.
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O truque deve envolver uma combinação de duas técnicas — juntar gordura animal cultivada em laboratório com produtos já existentes baseados em plantas. A jornalista Yasmin Tayag, do veículo The Atlantic, provou um bacon produzido com essa técnica e descreveu maravilhas, desde o sabor e cheiro à textura crocante e suculência. Mas há um porém.
Cultivando gordura em laboratório
A empresa responsável pela façanha é a Mission Barns, do ramo de biotecnologia nos Estados Unidos. Um dos principais desafios é a gordura animal, cujo sabor e suculência não pode ser imitado por alternativas vegetais. O óleo de coco, um substituto possível, acaba derretendo e saindo dos alimentos com facilidade. Em laboratório, no entanto, é fácil fabricar gordura, já que envolve apenas um tipo de célula, facilitando a receita.
Outra empresa, a Hoxton Farms, afirma conseguir produzir uma gordura animal bem convincente ao misturar 10% da substância fabricada em laboratório com proteínas baseadas em plantas para completar os 90% de massa restantes. Todas essas iniciativas ainda sofrem de um problema, como dissemos no início — a composição nutricional, ou a falta dela.
A carne natural contém muita proteína, o que está em falta nas alternativas fabricadas por cientistas. Além disso, é difícil convencer um público já cético após consumir promessas anteriores que não se saíram tão bem. O novo produto não é exatamente carne baseada em plantas e nem uma carne 100% criada em laboratório. Como propagandear algo assim de forma efetiva?
Deslizes publicitários carnudos
Em 2019, companhias tentaram emplacar o termo "blended meat" (algo como "carne misturada" ou "carne combinada", em uma tradução livre) para vender produtos artificiais que imitavam produtos animais, mas foi uma falha de marketing. Para conseguir vender bem, é necessário quebrar essa barreira e entrar no gosto popular, o que só pode ser feito com uma carne artificial realmente boa.
Por enquanto, os publicitários têm muito tempo para pensar, já que a produção de carnes e gorduras de laboratório é muito cara. A primeira e única empresa a ser aprovada nos Estados Unidos pela Food and Drug Administration (ou FDA, agência reguladora análoga à Anvisa), por exemplo, da Upside Foods, ainda está a anos da sua estreia no mercado, ainda construindo fábricas e testando produtos, esperando baratear sua fabricação. Até lá, poderemos nos acostumar à ideia de comer bacon falso — e, talvez, descubramos como adicionar as famigeradas proteínas a eles.
Fonte: The Atlantic