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Carne cultivada em laboratório contém sangue de animais

Por  • Editado por Douglas Ciriaco | 

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 Yulia_Panova/Envato
Yulia_Panova/Envato

Uma reportagem publicada pela revista Mother Jones revela que a carne cultivada em laboratório não é totalmente livre de sangue real. O produto alardeado como um substituto para a proteína animal, na verdade, contém uma quantidade considerável de soro fetal bovino, retirado de vacas após o abate.

Conhecido com FBS, esse soro fetal contém proteínas que ajudam a crescer e a replicar células animais em um ambiente controlado. O uso desse material em laboratório não é novo. De fato, os cientistas cultivam células animais fora do corpo — para fins medicinais, no início, e depois na indústria alimentícia — desde a década de 1950.

“Esse fato perturbador cria um dilema para a carne produzida em laboratório, já que não se pode comercializar um produto como livre de abate — muito menos vegano — quando se usa um subproduto de matadouros para cultivá-lo”, explica a especialista em biotecnologia Christina Agapakis.

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Além de tudo, é caro

Um litro de soro fetal é vendido nos Estados Unidos por aproximadamente US$ 1.000 (cerca de R$ 5.000 na cotação atual). Para não ter prejuízos, um fabricante de carne cultivada precisaria vender 500 gramas do seu produto por algo em torno de US$ 200.000 (equivalente a R$ 1 milhão).

Segundo especialistas, as empresas que cultivam carne estão tentando encontrar um substituto para o FBS. Esse material onde as células são replicadas já existe, porém, o litro do produto chega a custar US$ 400 (~R$ 2.000) — ainda extremamente caro para ser comercialmente viável.

“Tudo isso significa que existem algumas questões obscuras nas alegações da indústria de que a carne de laboratório estará no mercado dentro de um ou dois anos. Até mesmo os mais céticos não esperam ver carne cultivada com preço competitivo, pelo menos até 2030”, acrescenta Agapakis.

Investimento pesado

Entre 2020 e no primeiro semestre de 2021, bilionários como Bill Gates, Richard Branson, Kimbal Musk, Sergey Brin, Peter Thiel e John Mackey investiram mais de US$ 600 milhões (~R$ 3 bilhões) em startups que prometem fabricar e comercializar carne de laboratório nos próximos anos.

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Atualmente, Cingapura é o único país que aprova a venda de carne de laboratório. Em alguns restaurantes por lá, já é possível pedir bolinhos de frango cozidos no vapor feitos com “carne real sem abate”, produzidos pela empresa Eat Just — que diz usar uma quantidade mínima de soro bovino no cultivo de seu produto. Outras startups de carne celular também prometem levar o alimento ao mercado em 2022, dependendo de aprovações regulatórias.

“Para que essa atividade realmente seja livre de sangue, uma nova cadeia de suprimentos precisaria ser formada. Muita inovação no espaço de fabricação biológica precisará acontecer para tornar a carne de laboratório possível e comercialmente competitiva”, encerra Christina Agapakis.

Fonte: Mother Jones