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Cientista toma cogumelo e faz exame do cérebro para ver o que acontece

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Ermal Tahiri/Pixabay
Ermal Tahiri/Pixabay

Nos Estados Unidos, pesquisadores da Universidade Washington em St. Louis deram “cogumelos mágicos” para um pequeno grupo de voluntários saudáveis, com mais de 18 anos, e acompanhou as alterações no cérebro desses indivíduos. O inusitado e curioso é que um dos cientistas que assinam o estudo, Nico Dosenbach, também foi “cobaia” do experimento em nome da ciência.

Para entender o efeito da psilocibina (substância alucinógena do cogumelo) na mente, os pesquisadores realizaram varreduras de ressonância magnética funcional no cérebro dos recrutados sob o efeito dos cogumelos. 

Até aqui, sabia-se que, ao tomar cogumelos alucinógenos, a pessoa pode embarcar em diferentes tipos de “viagens”, perdendo a conexão com o seu eu individual. Inclusive, alguns estudos sugerem que esta pode ser uma terapia para depressão, por exemplo. No entanto, as alterações causadas por essas substâncias no cérebro ainda são pouco conhecidas.   

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Estudo investiga experiência alucinógena

Publicado na revista Nature, o estudo não deve ser interpretado como um incentivo ao uso dos cogumelos ou da psilocibina, segundo os autores. Afinal, há possíveis complicações, e todo o processo relatado foi acompanhado por profissionais na área da saúde.

O pequeno estudo sobre o que acontece com o cérebro de quem toma cogumelos envolveu apenas sete adultos saudáveis, incluindo o cientista Dosenbach. Os recrutados foram divididos em dois grupos, sendo que o primeiro recebeu uma alta dose de psilocibina. Os membros do segundo grupo tomaram uma alta dose de metilfenidato (Ritalina).

Devido ao risco de experiências negativas e problemáticas, todos os voluntários foram acompanhados durante as medicações. Ao longo dos testes, os participantes realizaram inúmeros exames, incluindo uma média de 18 ressonâncias magnéticas funcionais do cérebro.

Ação dos "cogumelos mágicos"

Segundo os autores, a psilocibina dos cogumelos causa mudanças profundas e generalizadas no cérebro humano, mas que não são permanentes. Em especial, a substância alucinógena causou a dessincronização da rede de modo padrão (DMN). Esta tem impacto direto sobre o senso de si, além das percepções de tempo e espaço. 

“A ideia é que você está pegando esse sistema — que é fundamental para a capacidade do cérebro de pensar sobre si mesmo em relação ao mundo — e você o está dessincronizando totalmente, de forma temporária”, detalha Joshua S. Siegel, cientista e primeiro autor do estudo, em nota.

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“No curto prazo, isso cria uma experiência psicodélica. A consequência de longo prazo é que isso torna o cérebro mais flexível e, potencialmente, capaz de entrar em um estado mais saudável”, acrescenta o cientista. Aqui, entra a possibilidade de uso controlado dos cogumelos como uma medicação.

Outro ponto curioso é que, considerando o comportamento das redes funcionais, cada indivíduo tem uma padrão único de atividade cerebral, como uma impressão digital. Entretanto, após o uso dos alucinógenos, a psilocibina distorce essa rede cerebral de tal modo que os indivíduos não puderam mais ser identificados até que os efeitos agudos passassem.

Então, os cérebros das pessoas que tomam psilocibina parecem mais semelhantes entre si, como se a individualidade fosse temporariamente eliminada.

Vale mencionar que, no grupo controle, que tomou metilfenidato, nenhuma mudança brusca na DMN foi identificada. Entre os que tomaram cogumelos mágicos, as redes voltaram a um padrão normal algumas semanas depois.

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Veja o efeito dos cogumelos com psilocibina no cérebro

A seguir, veja o que acontece com o cérebro após uma pessoa tomar cogumelos com psilocibina:

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O mapa de calor dos padrões de atividade cerebral mostra uma perturbação profunda durante a experiência alucinógena com psilocibina, marcada por tons de vermelho, laranja e amarelo. Enquanto isso, antes e depois do consumo, há padrões relativamente estáveis, indicados pelos tons de azul e verde.

Cientista é cobaia da própria experiência

Em entrevista para a CNN, o pesquisador, professor de neurologia da universidade e também voluntário da pesquisa, Dosenbach, descreve como foi sentir os efeitos do cogumelo na sua mente. 

Apesar do seu envolvimento, ele garante que não sabia se tinha sido incluído no grupo que tomou o cogumelo ou no que recebeu metilfenidato. No entanto, quando a viagem começou, o cientista teve certeza que não estava no grupo placebo. 

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“Eu era o tablet do computador, e meus pensamentos eram como pensamentos de computador, o que obviamente não faz sentido. Eu estava ciente de que isso não era normal, mas não era assustador”, detalha o pesquisador, que foi muito longe em nome da ciência.

Fonte: Nature, Universidade Washington em St. Louis, CNN