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Césio-137 | A história do acidente num ferro-velho de Goiânia

Por| Editado por Patricia Gnipper | 05 de Fevereiro de 2023 às 11h30

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Secretaria de Estado de Saúde do Estado de Goiás
Secretaria de Estado de Saúde do Estado de Goiás

Em setembro de 1987, a capital de Goiás, Goiânia, vivenciou a maior tragédia radioativa fora de usinas e testes nucleares. Um aparelho de radioterapia foi violado e expôs uma quantidade significativa de césio-137, contaminando a população e levando pessoas a óbito.

O acidente com Césio-137 em Goiânia

A história começa quando um equipamento hospitalar, do antigo Instituto Goiano de Radiologia, foi abandonado e, posteriormente, encontrado por catadores de material reciclável. Estes venderam a peça para um ferro-velho, onde foi aberta pelo dono do local.

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O proprietário do ferro-velho e seus funcionários encontraram dentro do aparelho um material branco que ficava azul no escuro e levaram a substância para mostrar às suas famílias, deixando todos maravilhados com o brilho azulado daquele material "diferentão".

A novidade considerada quase como “mágica” foi exibida a crianças e vizinhos, até que vários moradores de Goiânia começaram a apresentar sinais de contaminação antes de o material ser identificado como perigoso.

Quando a amostra radioativa foi identificada pelas autoridades como a causadora dos problemas de saúde na região, os afetados foram submetidos a rígidos protocolos de isolamento e tratamento.

O material abandonado

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O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) ficava na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia, sendo fechado naquele endereço em 1985. Uma disputa judicial entre o IGR e a Sociedade de São Vicente de Paula, dona do terreno, levou a uma ação de despejo em 1984. Em seguida, a sociedade vendeu o terreno para o Instituto de Previdência e Assistência do Estado de Goiás (IPASGO), que iniciou a demolição do prédio em 1987.

O equipamento de radioterapia foi abandonado no interior das antigas instalações. Algumas partes da clínica foram demolidas, enquanto outras salas permaneceram de pé. É que o processo foi interrompido devido a uma liminar que obrigou a paralisação imediata da demolição. Assim, as ruínas que sobraram do prédio ficaram abandonadas e o equipamento foi encontrado por catadores, que removeram um invólucro de chumbo na expectativa de obter algum valor em dinheiro.

Já no ferro-velho, o invólucro foi aberto na tentativa de reaproveitar o chumbo da caixa. O problema é que esta cápsula era a responsável por proteger o ambiente do material radioativo. Assim, 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl) foram expostas.

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O que é o Césio-137

O elemento césio (Cs) tem número atómico 55, massa atômica de 132,9 u e se trata de um metal alcalino macio de cor prateada-dourada. Já o césio-137 é um isótopo deste elemento, ou seja, uma “versão” com o mesmo número atômico, mas com diferentes números de nêutrons em seus núcleos.

Esse isótopo é formado a partir da fissão nuclear de urânio-235 (que é um isótopo do urânio) em reatores nucleares e armas nucleares. Por isso, ele é liberado em acidentes envolvendo o urânio-235, como ocorreu no caso de Chernobyl, e em testes nucleares.

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No corpo humano, o césio fica distribuído quase uniformemente, com as maiores concentrações nos tecidos moles. O tecido pancreático é um forte acumulador e secretor no intestino de césio radioativo, segundo estudos realizados nos corpos de vítimas de Chernobyl.

A meia-vida biológica do césio — o tempo necessário para que metade de uma substância seja removida do organismo — é de cerca de 70 dias.

Para que serve o Césio-137

Apesar do perigo à exposição direta, o césio-137 tem vários usos benéficos, como na radioterapia. Ele também é usado para datar vinho e detectar falsificações, além de possibilitar a avaliação da idade da sedimentação que ocorreu após 1945.

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Consequências do acidente de Goiânia

Com a exposição à radiação do césio-137, a população apresentou sintomas como náuseas, vômitos, diarreia, tonturas e queimaduras. Milhares de profissionais estiveram envolvidos no processo de contenção do material e tratamento das vítimas.

O saldo mais trágico do acidente foram quatro vítimas fatais logo nas primeiras semanas. Dezenas ficaram com sequelas ou desenvolveram doenças como o câncer, falecendo anos depois.

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Devair Alves Ferreira, dono do ferro-velho, sofreu efeitos como a perda de cabelo e problemas em seus órgãos, morrendo sete anos depois. Segundo a Associação das Vítimas do Césio 137, 104 pessoas morreram até 2012 devido à contaminação, sendo que cerca de 1.600 foram afetadas diretamente.

Após o acidente, o aparelho que continha a cápsula de césio foi recolhido pelo Exército e levado para exposição no interior da Escola de Instrução Especializada, no Rio de Janeiro, onde se encontra até hoje para homenagear os que participaram da limpeza da área contaminada.

Já o material radioativo está armazenado de forma segura em Abadia de Goiás, a cerca de 1 km da região habitada da cidade. Ali, dentro do Parque Estadual Telma Ortegal, o césio-137 está armazenado em dois depósitos subterrâneos.