Bactérias transformam plástico em fibra resistente como Kevlar
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Nos Estados Unidos, cientistas do Instituto Politécnico Rensselaer (RPI) desenvolveram uma nova cepa de bactéria capaz de transformar plástico em um material apelidado de "Klevar da natureza", em referência à fibra sintética de aramida resistente a chamas e à prova de balas, usada em blindados.
- Bactérias do intestino constroem novo tipo de plástico reciclável
- Fungos e bactérias do Ártico conseguem digerir plástico
A dieta da bactéria comedora de plástico envolve especificamente o polietileno (PE) — material bastante usado em itens descartáveis, como sacolas plásticas e garrafas. Na natureza, pode levar até mil anos para se decompor, e é uma das principais causas da poluição plástica nos oceanos.
Klevar da natureza
Segundo o estudo publicado na revista científica Microbial Cell Factories, o material criado pelas bactérias Pseudomonas aeruginosa é bastante resistente. “Pode ser quase tão forte quanto o aço sob tensão. No entanto, é seis vezes menos denso que o aço [indicador de leveza]”, afirma Helen Zha, professora assistente do instituto e uma das responsáveis pelo projeto, em nota.
Além disso, Zha explica que o material gerado é elástico, resistente, não tóxico e biodegradável. Estruturalmente, é semelhante aos fios de teia tecidos por uma aranha.
Bactérias comedoras de plástico
Há anos, cientistas buscam desenvolver microrganismos capazes de reciclar o plástico. Por exemplo, cientistas do Instituto de Tecnologia de Kyoto, no Japão, desenvolveram a espécie Ideonella sakaiensis para digerir o plástico PET (politereftalato de etileno), mas, até o momento, não conseguiram escalonar o invento para o uso no mundo real.
No caso da nova pesquisa, os cientistas norte-americanos melhoraram o material genético da bactéria Pseudomonas aeruginosa, acrescentando genes provenientes de outros organismos, até chegar na cepa capaz de se alimentar do PE, com a promessa de ser viável comercialmente.
Afinal, o Klevar da natureza pode gerar lucros, pois é um produto com alto valor agregado, diferente de um "simples" produto da reciclagem.
Como é a digestão do plástico?
“Essencialmente, as bactérias estão fermentando o plástico [pré-digerido anteriormente por alguns processos industriais]”, comenta Mattheos Koffas, outro autor do estudo.
“A fermentação é usada para fazer e preservar todos os tipos de alimentos, como queijo, pão e vinho, e nas indústrias bioquímicas é usada para fazer antibióticos, aminoácidos e ácidos orgânicos”, detalha. Agora, pode gerar uma fibra com potencial de revolucionar a indústria da segurança.
A próxima etapa da pesquisa é desenvolver formas de agilizar e tornar mais eficaz o processo que transforma o plástico nesse material tão resistente. Em seguida, será necessário testar todos esses atributos da seda criada pelas bactérias, o que abrirá caminho para a venda comercial.
Fonte: Microbial Cell Factories e RPI