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As plantas conversam entre si, mas não do jeito que você pensa

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Huy Phan/Unsplash
Huy Phan/Unsplash

Diferente dos humanos que desenvolveram diferentes línguas e formas de comunicação, as plantas podem se comunicar, mas compreendê-las só é possível para quem está atento a esses sinais que não são verbais e nem se parecem com rugidos de animais selvagens, com o latido de um cachorro de estimação ou com o canto das vezes.

No entanto, esses organismos estáticos, inanimados e, em alguns casos, fixos por centenas de anos ao solo conseguem emitir seus próprios sinais. A comunicação das plantas é algo fundamental para a sobrevivência. 

Ao longo da evolução, as plantas desenvolveram “a habilidade de perceber e responder a diferentes agentes bióticos e abióticos, como água, sol, luz, com mecanismos de interação complexos que envolvem sinais químicos, elétricos e, em alguns casos, até mesmo mecânicos”, afirma Amélia Carlos Tuler, cientista e professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR), para o Canaltech.

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Comunicação é estratégia de defesa

"A percepção de sinais [externos e possíveis riscos] ocorre por uma diversidade de proteínas sensoriais presentes na membrana plasmática, as quais permitem uma rápida resposta dos vegetais”, detalha a professora Tuler.

Isso é fundamental para a defesa em casos de predação para algumas espécies. Por exemplo, essas proteínas podem desencadear uma resposta metabólica, produzindo compostos voláteis (odores) que repelem os predadores, como insetos, ou tornando a planta não comestível. 

Comunicação química das plantas

Em alguns casos, os compostos podem ser detectados por plantas vizinhas, fazendo com que elas iniciem mecanismos de defesa semelhantes para se protegerem de possíveis ameaças, de forma conjunta. Esta é uma comunicação química.

Essa habilidade foi recentemente demonstrada em um vídeo gravado por pesquisadores da Universidade de Saitama, no Japão, após permitirem que lagartas-desfolhadoras atacassem plantas. Confira o registro:

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Além disso, a cientista Tuler explica que “a produção de diferentes pigmentos em flores também permite a comunicação química, o que pode estar relacionado à atração de insetos polinizadores”.

Em outro experimento recente, um grupo de pesquisa da Universidade da Califórnia, nos EUA, provocou a mudança de cores da folha de uma planta, ficando avermelhada, com a introdução de um pesticida tóxico.

Comunicação elétrica das plantas

Mesmo sem emitir nenhuma palavra ou som, as plantas sabem mesmo se comunicar. Quando as raízes de plantas estão sob estresse hídrico — em caso de seca — esses vegetais vão “emitir sinais elétricos que se propagam verticalmente ao longo dos feixes vasculares do caule e ao longo dos vasos da folha, levando ao fechamento dos estômatos”, detalha a professora. Assim, é interrompida a perda de mais água, limitando os danos, através da comunicação elétrica.

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Conversando com outras espécies

Definitivamente, as plantas não estão sozinhas nesse planeta. Cerca de 80% das plantas vivem em completa simbiose com fungos micorrízicos e bactérias, ou seja, são dependentes para sobreviverem mais e melhor. Através desse sistema, alteram a fertilidade e o nível de nutrição, por exemplo.

No caso dos fungos micorrízicos, eles estão interligados por meio de uma rede subterrânea de micélios (conjunto de hifas, as “raízes”). Desta forma, nutrientes dos fungos são trocados com as plantas, como o nitrogênio fixado por leguminosas. A parceria vai beneficiar até espécies que não estão diretamente envolvidas nessa simbiose.

Afinal, “esta troca de nutrientes e água, envolve toda a cadeia interligada, influenciando na dinâmica vegetal, na biodiversidade, competição entre plantas, estabelecimento de plântulas, entre diversos outros fatores inerentes”, pontua Tuler.

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Descoberta da capacidade de comunicação

Na história da biologia, há pelo menos dois momentos chave para o entendimento da capacidade de comunicação das plantas. Em 1873, o fisiologista John Scott Burdon-Sanderson identificou, pela primeira vez, o registro de um sinal elétrico em vegetais, a partir de experimentos com a planta insetívora Dionaea muscipula — de forma mais simples, é aquela planta carnívora que parece ter dentes. Anos após a descoberta, esse tipo de sinal passou a ser conhecido como potencial de ação. 

Além disso, em 1926, o eletrofisiologista Jagadish Chandra Bose provou que os rápidos movimentos em folhas do gênero Mimosa — popularmente conhecida como dormideira — eram estimulados por sinalização elétrica de longa distância.

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A seguir, veja a planta reagindo e se comunicando:

A partir desses achados iniciais e muitas pesquisas posteriores, hoje, "existe um consenso de que as plantas superiores [como as gimnospermas e angiospermas] são capazes não somente de receber diversos sinais do ambiente, mas que elas também possuem mecanismos para a rápida transmissão destes sinais", completa a pesquisadora.