Estudo controverso anestesia plantas para checar se elas têm consciência
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela | •
Um campo novo e bastante controverso da ciência é a neurobiologia das plantas, ou seja, o estudo de como a flora percebe o ambiente onde vive e altera o próprio “corpo” para melhor navegar e sobreviver. Alguns cientistas reprovam a ideia, afirmando que alterar o crescimento dos galhos e ramos não pode ser comparado à cognição ou consciência, mas outros têm uma cabeça mais aberta, como o botânico Stefano Mancuso — ele brinca com a ideia de consciência e inconsciência das plantas, anestesiando-as.
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As plantas não dormem, a rigor, da mesma forma que nós dormimos, deitando e cessando atividades, mas elas são menos ativas à noite. Com um ritmo circadiano próprio, elas usam sinais químicos e ambientais para saber quando a noite chega, e “acordam” com a chegada do sol.
Esse despertar já foi visto de fora da Terra, através do Radiômetro Termal do Ecossistema Montado no Espaço da Estação Espacial (ECOSTRESS), da NASA, que monitora a vegetação ao tirar sua temperatura e checar processos como a evapotranspiração, espécie de suor da flora.
Imagens espaciais de 2019, tiradas das plantas próximas ao Lago Superior, nos Estados Unidos, mostraram seu despertar matutino, descobrindo que a flora mais próxima da água começa as atividades mais cedo. Se elas têm uma maneira de acordar, então seria possível colocá-las para dormir, certo?
O que é consciência? As plantas têm isso?
Mancuso, conversando com o jornal The Guardian, comenta ser difícil falar sobre consciência, já que sequer sabemos como a nossa própria funciona. Se encontramos problemas ainda nesse estágio, como definir consciência nas plantas? Em humanos, há um truque retórico/biológico para estreitar a definição. A consciência é algo que todos temos, menos quando estamos dormindo profundamente ou sob anestesia.
Similarmente, talvez seja possível anestesiar plantas, então. Mancuso já fez vários experimentos com as camaradas verdes, buscando sua inteligência. Uma das observações do botânico é a de que as raízes conseguem crescer contornando obstáculos. Por meio de filmagens, ele mostrou que uma planta não precisava encostar em um obstáculo antes de começar a mapear uma direção livre para crescer as raízes, o que gerou a pergunta: como ela sabia para onde ir?
A flora se move muito devagar, o que pode gerar estranheza quando falamos sobre “desvios” e movimentos, já que não vemos isso em um ritmo perceptível. No documentário Green Planet, o tempo acelerado mostra o crescimento das vitórias-régias (Victoria amazonica), que limpam a superfície da água agressivamente, perfurando outras plantas e tomando espaço, impedindo que a luz do sol chegue às competidoras mais ao fundo. Parece jogo sujo, não? Mas será que podemos dar tanta agência assim à flora?
No experimento sonolento, Mancuso testou o efeito de anestésicos nas plantas, descobrindo que as mesmas substâncias que nos fazem dormir funcionam para anestesiar todas as plantas. Em suas conclusões, ele comenta que pensamos na consciência como algo relacionado ao cérebro, mas que, olhando as plantas, chegou à conclusão de que tanto consciência quanto inteligência são coisas mais incorporadas, ou seja, têm relação com todo o corpo.
Embora seja uma via fascinante de pensamento, há muita discordância de quem valoriza o processo elétrico feito pelos neurônios nas sinapses, que afirmam ser “leviano” comparar uma planta a um sistema complexo de raciocínio e tomada de decisões. Controversa ou não, a pesquisa abre vias novas para pensar sobre a vida das plantas, e mais experimentos como esse devem continuar a abrir portas para encarar as nossas companheiras verdes de formas cada vez mais compreensivas.
Fonte: Neuroscience News, Earth Observatory, Wired com informações de The Guardian