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A ciência das enroladas de língua: o que faz derraparmos na hora de falar?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 31 de Outubro de 2022 às 15h49

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engin akyurt/Unsplash
engin akyurt/Unsplash

Que tistreza; vão-se os anéis, ficam-se os dedos; seis e ônibus. Quantas vezes por semana, ou até mesmo por dia, não acabamos enrolando a língua na hora de falar e damos uma escorregada gramatical? Não se preocupe, pessoas de todas as idades, níveis educacionais e falantes de todas as línguas fazem isso — até mesmo quem usa a língua de sinais (LIBRAS, no Brasil), acabam dando uma escorregada "manual" de vez em quando.

Psicolinguistas como Cecile McKee estudam como utilizamos a linguagem, verificando o que esses erros da fala podem revelar sobre a mente humana e seu funcionamento. Segundo os especialistas, falantes de qualquer língua armazenam diferentes unidades de linguagem no cérebro, indo de elementos pequenos, como consoantes únicas, a grandes, como frases com diversas palavras.

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Erros na fala e onde habitam

Quando falamos de lapsos de linguagem, podemos pensar nas unidades linguísticas que cada um deles abarca, ou das ações que afetam cada unidade. No trava-língua "a arranha aranha o jarro", o erro é de apenas uma consoante trocando de lugar. Em "vão-se os anéis, ficam-se os dedos", uma palavra é trocada — ambas, nota-se, são substantivos.

Um erro também pode vir de uma junção acidental de palavras parecidas, como "ornitorrincolaringologista", ou uma mistura de frases, como "vou subir para cima", que pode ser um pleonasmo, mas também uma junção das frases "vou subir" e "vou ir para cima", quando se embolam na mente de quem vai falar e saem juntas.

Às vezes, os erros são uma substituição totalmente diferente, como alguém que fala "direita" ao invés de "esquerda", mesmo que as palavras não sejam nada parecidas. Nesse caso, o erro está mais no ambiente a uma confusão mental do que na própria gramática ou sons. Substituições como essa mostram que nosso dicionário mental junta palavras com significados relacionados no mesmo grupo: ninguém fala uma palavra sem relação com as direções em situações assim. É o que chamamos de conexão semântica.

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Mas os sons também podem influenciar a fala: em "seis e ônibus", as palavras "onze" e "ônibus" têm inícios muito parecidos, com a mesma vogal e consoante juntas: no Alfabeto Fonético Internacional, [ˈon]. Os significados das palavras, no entanto, são completamente diferentes. Nosso dicionário mental também liga palavras parecidas, gerando conexões fonológicas que acabam em erros gramaticais.

Ciência e teorias

Mckee, em um artigo no site The Conversation, comenta que o trabalho de catalogar e explicar erros da fala é como o estudo de Charles Darwin com os tentilhões das ilhas Galápagos. Observar tanto os animais quanto as palavras em detalhes pode revelar as variações em ambos, o que, no caso da linguística, envolve teorias de como as pessoas falam.

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Escorregadas na língua são distinguidas, pelos psicolinguistas, pela unidade que envolvem, como consoantes, vogais, palavras e frases. Descrevendo como e quando os falantes usam essas informações, entendemos como a linguagem se desenvolve nas crianças e como acaba falhando em pessoas com algumas dificuldades na fala.

As teorias também envolvem os diferentes estágios de produção do discurso: a hipótese dos psicolinguistas é de que os falantes começam, na mente, com o que querem expressar, então buscam significados relacionados no dicionário mental. Após arranjar as palavras de acordo com a gramática da língua que vão falar, os últimos estágios vão ditar o som e ritmo das palavras, e o ritmo de frases inteiras vem apenas no final. O erro "direita"/"esquerda", então, viria em um estágio anterior do "onze"/"ônibus".

Fonte: The Conversation