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Rumo ao futuro: como os carros autônomos vão transformar nossas vidas

Por| 06 de Julho de 2016 às 10h11

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Rumo ao futuro: como os carros autônomos vão transformar nossas vidas
Rumo ao futuro: como os carros autônomos vão transformar nossas vidas

Imagine acordar logo cedo para o trabalho, se arrumar, ler algumas notícias online no tablet enquanto toma café da manhã, sem se preocupar com o trânsito e a chance de se atrasar por ter ficado quarenta minutos no congestionamento. Você acessa um aplicativo no celular e solicita um carro para te levar para o trabalho e em poucos minutos ele chega. Uma voz mecânica diz um educado "bom dia, seja bem-vindo", confirma se o destino é aquele que foi inserido no aplicativo e o veículo inicia o trajeto dirigindo-se automaticamente. O computador calcula a rota mais curta considerando as variáveis de trânsito, semáforos, quantidade de veículos, acidentes e obras no caminho e o que mais puder afetar a viagem. O conforto é prioridade: temperatura do ar, água caso você sinta sede e uma variedade de playlists a serem escolhidas. O tempo de percurso não será perdido, você pode continuar uma leitura, relaxar com um filme ou terminar um projeto que será apresentado na reunião com clientes mais tarde.

A situação parece um pouco distante, mas é, sem dúvidas, um horizonte possível para empresas como Uber, Tesla, Google e Volvo, que estão intensificando suas pesquisas no campo dos veículos autônomos (VAs), além de pressionarem a regulamentação do novo meio de transporte.

As operações com VAs, particulares ou compartilhados, são totalmente diferentes das experiências com motoristas humanos. Os carros podem ser programados para não cometerem infrações, já que eles não alteram sua eficiência com fatores como cansaço, sono e substâncias psicotrópicas, além de registrarem reações a imprevistos mais rapidamente. A otimização destes meios se estende para a fluidez em todo o sistema de transporte urbano, redução de consumo de combustível e emissão de poluentes. A lista de vantagens seguiria indefinidamente, dependendo de variáveis como a penetração da tecnologia no mercado.

Porém, com toda mudança, vem resistência. Como a lei da Física que diz que um corpo em movimento tende a manter o movimento, introduzir um sistema de carros autônomos, movidos a combustíveis renováveis, além de um sistema de transporte autônomo compartilhado, afetaria desde a cadeia de produção, quanto a indústria petrolífera e a vida cotidiana dos motoristas e usuários.

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Aliás, mudar a alcunha de "motorista" para "usuário" sem dúvidas seria mexer em um vespeiro. Desde a arrecadação pública com impostos e multas até o setor privado, como oferta de produtos e serviços, seriam afetados. São muitas as fontes de renda para o poder público que circulam o transporte: IPVA, multas de velocidade e outras infrações, imposto sobre combustível e serviços de táxi, entre outros. No meio privado, a compra de veículos, acessórios, serviços automotivos e uma lista que também seguiria indefinidamente.

Repensando cidades

Um estudo realizado no Reino Unido apontou que VAs compartilhados podem aumentar o espaço urbano de 15 a 20%, principalmente pela eliminação de áreas de estacionamento, podendo chegar a 30% em algumas cidades. Mais espaço significa maior qualidade de vida, cidades mais verdes e potencial para moradia. A tecnologia ainda se estenderia até as zonas rurais, as quais se tornariam mais atrativas por conta das viagens por veículos autônomos compartilhadas.

Nos Estados Unidos, sete cidades têm olhos para o futuro. San Francisco, Austin, Columbus, Denver, Kansas City, Pittsburgh e Portland estão sendo subsidiadas pelo governo por meio do Smart City Challenge, programa que incentiva propostas que transformem os sistemas de transporte.

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A aposta no futuro, no entanto, não vem ao acaso. Pesquisas estão sendo publicadas no cenário internacional com projeções positivas da aplicação transporte autônomo em diferentes instâncias. Pesquisadores da Universidade do Texas em Austin conduziram um estudo sobre o futuro com carros autônomos, apontando resultados com diferentes margens de penetração no mercado. Os números já impressionam com apenas 10% de inserção, 211 mil acidentes evitados e US$ 5,5 bilhões economizados. Com 50% de penetração de VAs, os números chegariam a US$ 1,8 milhão e US$ 48 bilhões, respectivamente.

A moralidade das máquinas

A programação de respeito às leis de trânsito e limites de velocidades teria um impacto significativo no transporte urbano. Porém, a situação se complica quando envolve a programação moral e uma situação inesperada como um pedestre surgir à frente do carro. Um estudo conduzido por pesquisadores norte-americanos e franceses aponta que 76% das pessoas concordam na programação moral dos veículos autônomos para minimizar mortes em casos como o de sacrificar o motorista para salvar 10 pedestres. No entanto, as pessoas se mostraram hesitantes caso fossem comprar um carro com tal programação, preferindo um computador que protegesse a eles em vez de pedestres.

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"Eles podem ter suas vantagens, mas um complicador ainda não resolvido são as questões de responsabilidade quando há acidentes", explica a Doutora em Engenharia de Transportes e professora do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná Márcia Andrade. "A idéia da criação dos VAs, entre outras questões, seria por conta do elevado número de acidentes causados pelo fator humano, que chega a 90%", observa.

Como a educação à distância, a tecnologia pode vir a existir, mas nada como um professor na sala de aula. "Ele virá sim, mas não nas proporções, acredito eu, para causar reduções que aparecerão no número de acidentes e mortes, pela sua pequena quantidade", diz Márcia.

Se "dominados" pelos robôs, os carros possivelmente perderiam seu valor atual como fetiche. "Hoje vemos pessoas com grandes paixões pelos seus carros e talvez isso desaparecesse. E o que fazer com o status em dirigir? Com o gosto de comprar seu veículo com a marca, o jeito, os acessórios que se quer?", questiona a professora.

Apesar dos primeiros automóveis terem sido inventados no século XIX, foi em 1908 que Henry Ford revolucionou a produção da invenção que viria a revolucionar a humanidade, virando símbolo de utilitarismo, conforto e status. Agora, depois de pouco mais de cem anos, a ciência dos automóveis quer reinventar-se e iniciar uma nova era.

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Ainda que os veículos 100% autônomos estejam mais nos projetos do que nas ruas, a tecnologia tem se desenvolvido rapidamente, levando funcionalidades de autonomia a muitos modelos atuais. Os benefícios são inúmeros e significativos, mas a adesão e penetração colocará em xeque todo o sistema econômico, social e político atual. Se é cedo para vermos os VAs em larga escala nas ruas, já passou da hora de aprofundar os estudos e preparar o terreno para eles em todas as esferas.

O Canaltech entrou em contato com fontes nacionais como Secretarias de Trânsito de Curitiba e São Paulo, Sindicato de Centros de Formação de Condutores e Uber para que elas comentassem como essa nova revolução afetaria as cidades e a vida dos brasileiros, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.