Fiat Uno Mille | Como era o primeiro carro popular do Brasil?
Por Paulo Amaral • Editado por Jones Oliveira |
O governo anunciou, no Dia da Indústria, diversas medidas que serão implementadas para que o segmento automotivo retome o crescimento e para que o carro popular volte às ruas brasileiras ainda em 2023.
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A iniciativa, embora tenha alguns pontos em comum, não é idêntica à tomada no início da década de 1990, quando um pacote de redução de tributos foi lançado pela equipe do então presidente Fernando Collor de Mello e facilitou o aparecimento de carros mais baratos, como o Fiat Uno Mille.
O modelo italiano, aliás, é considerado por muitos como o primeiro carro popular do Brasil, já que a montadora tinha praticamente pronto o motor exigido para se adequar à nova alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que era sensivelmente reduzida para propulsores de, no máximo, 1.000 cilindradas.
Por conta disso, 33 anos depois do lançamento da “botinha” da Fiat, o Canaltech entrou no túnel do tempo para relembrar como era o “basicão” da época. E ele era bem menos atraente do que os futuros modelos de carros populares que estarão em breve rodando pelas ruas brasileiras.
Uno Mille | Como era o Fiat popular?
A missão de produzir o Uno Mille com um motor adequado para ter direito aos benefícios de IPI e, assim, se enquadrar na faixa de carro popular, foi tranquila para a Fiat. Afinal, a montadora ainda fabricava o lendário 147, dotado de um propulsor de 1.050 cilindradas.
Bastou diminuir o curso dos pistões por meio do virabrequim e ajustar a carburação e o comando de válvulas para reforçar o torque. Pronto: o motor do Fiat 147, que entregava 52cv de potência e 7,8 kgf/m de torque passou a ter 48,5cv e 7,4 kgf/m. As exigências para o lançamento do chamado carro popular foram atendidas e o Uno Mille ganhou as ruas.
Além do motor pouco potente, mas ideal para o projeto, o Uno Mille tinha como principal atrativo, obviamente, o preço. O carro foi lançado por 625 mil cruzeiros, moeda corrente no Brasil à época. O preço era cerca de 100 mil cruzeiros menor que os principais concorrentes do mercado — Volkswagen Gol e Chevrolet Chevette —, ambos usados.
Como diz o dito popular, porém, não existe “almoço grátis”. Para viabilizar os custos de produzir um carro popular, a Fiat “limpou” completamente o Uno Mille. Os poucos pontos positivos do carro se resumiam a uma barra estabilizadora dianteira, ao veludo no acabamento central dos bancos e ao tampão no porta-malas.
As ausências do 1º carro popular do Brasil, porém, eram muitas e hoje não poderiam ser implementadas nem que as montadoras quisessem, pois algumas (como a ausência do retrovisor do lado direito) poderiam colocar em xeque a segurança dos ocupantes.
Do que a Fiat abriu mão no Uno Mille?
A Fiat caprichou na limpa que fez no Uno Mille para conseguir tornar o carro viável financeiramente dentro do conceito de popular que existia no Brasil no início da década de 1990. A montadora italiana só não tirou o volante porque o motorista precisa dele para fazer curvas — sem exageros.
Para se ter uma ideia, o Uno Mille era vendido sem alguns itens que, hoje, não dá nem para cogitar tirar do carro. Duvida? Então olha só a lista de acessórios e itens que o popular da Fiat NÃO tinha:
- Câmbio de 5 marchas (a 5ª era opcional);
- Espelho retrovisor do lado direito;
- Tampa do porta-luvas;
- Encostos de cabeça;
- Bancos dianteiros reclináveis;
- Lavador e desembaçador traseiro.
Quanto custaria hoje o Fiat Uno Mille?
O Fiat Uno Mille lançado na década de 1990 custava, como já dissemos, 625 mil cruzeiros, moeda corrente do país à época. E quanto será que o primeiro carro popular do Brasil custaria hoje em dia?
Para isso, é necessário transformar o valor em cruzeiros para real, moeda corrente do Brasil desde 1994. Além disso, precisam incidir sobre o preço projetado as correções pelo IPCA (Índice de preços ao consumidor).
Feitas todas as contas, é possível descobrir que o valor de um Fiat Uno Mille, sem qualquer acessório, e ainda desprovido de itens de segurança obrigatórios pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), seria próximo à meta que o governo brasileiro quer para o carro popular em 2023: R$ 51,3 mil.
Por tudo que o primeiro carro popular do Brasil NÃO oferecia em termos de equipamentos ou itens básicos de segurança, o valor atualizado estaria meio "salgado", não acham?