Fim do Google Podcasts é o Google se rendendo ao óbvio de novo
Por Douglas Ciriaco |
O Google anunciou em setembro do ano passado que o Google Podcasts começaria a acabar nesta terça-feira (2). Até julho, o app deixa de funcionar em todo o mundo e entra para o limbo junto de coisas como Google+, Buzz e Wave. A novidade não surpreende e parece até meio óbvia, pois repete o que aconteceu com o Play Music em 2020 e faz tudo que é áudio e vídeo estar de vez no YouTube.
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O caso Play Music
Para começar, vale lembrar de outro serviço finado da empresa, o Google Play Music. Lançado em 2011 como uma espécie de rival do iTunes, ele vendia música, depois virou uma plataforma de streaming de áudio em que você podia até mesmo mandar seus próprios arquivos MP3 para nuvem e ouvi-los de qualquer lugar (eu fazia isso e era feliz).
Apesar das benesses, ele não caiu nas graças dos ouvintes. Sua audiência nunca chegou perto de ter algum protagonismo entre quem ia à internet para ouvir música — o YouTube se tornou o caminho natural para isso nas últimas duas décadas, sem contar apps dedicados como Spotify e Deezer.
O Play Music foi encerrado em 2020 para dar vez ao YouTube Music (lançado em 2015) e deixou no ar aquela coisa de “será que não deveria ter sido sempre assim? Será que o Google não deveria ter apostado na marca do YouTube também como streaming de música, pois ele já é bastante usado para isso?”.
Mais um filho devorado
Tal qual o titã Cronos, da mitologia grega, o YouTube “devora” outro filho. Segundo o próprio Google, nos EUA, apenas 4% das pessoas que escutam podcasts o faziam no Google Podcasts, enquanto 23% dos consumidores do formato recorriam justamente ao YouTube para ouvir os seus programas favoritos. E os números justificam de forma incontestável o fim do app dedicado aos programas em áudio.
Mesmo com várias qualidades — especialmente a de não ter qualquer distração além dos podcasts —, o Podcasts nunca foi titã e agora entra para a história para completar o movimento óbvio do Google de reunir tudo que envolve áudio e vídeo no YouTube. Outra vez ressoa a frase “deveria ter sido sempre assim”.
Outro número que justifica esse passo vem do relatório financeiro do último trimestre de 2023: assinaturas do YouTube (incluindo aí o YouTube Premium e o YouTube Music Premium) renderam ao Google US$ 15 bilhões no período.
Para se ter uma ideia, esse valor é superior ao que o YouTube ganha com anúncios — nos últimos três meses de 2023, a publicidade veiculada na plataforma rendeu “apenas” US$ 9,6 bilhões à Gigante da Web.
O resumo da ópera, então, é simples: o Google Podcasts até era legal, mas nem de longe reunia condições de ser priorizado pela empresa.
Agora, o Google parece jogar simples e seguro ao focar de vez no YouTube como sua única plataforma de conteúdos multimídia, uma espécie de “tudo em um” que rende muito dinheiro e é amplamente conhecida pelo público. Não há muitas dúvidas de que se trata de uma boa ideia e é possível até sugerir que a audiência de alguns podcasts tende a aumentar quando publicações em áudio forem liberadas no YouTube Music — mas isso só o tempo dirá.