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Review Android 12 | inteligente e personalizável — o problema são os outros

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 26 de Outubro de 2021 às 17h10

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Renato Santino/Canaltech
Renato Santino/Canaltech

Após meses em testes, o Android 12 virou realidade. O sistema operacional foi liberado nesta semana finalmente em sua versão final, com todos os recursos prometidos pelo Google durante a apresentação em maio.

Canaltech teve a oportunidade de testar a versão ao longo dos últimos meses e acompanhar como o Android evoluiu desde o primeiro beta até o seu lançamento definitivo. Conheça tudo sobre o sistema operacional e sua trajetória ao longo dos meses.

Material You esbarra nos outros

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O maior destaque do Android 12 é visual. O Google apostou pesado em uma nova identidade visual chamada Material You, que reformula alguns conceitos estéticos do sistema e traz a personalização como conceito central. Daí o "You" no nome.

Graças a essa nova ideia, por exemplo, um usuário pode escolher uma cor de preferência, ou permitir que o sistema decida automaticamente a partir do plano de fundo. Essa tonalidade será vista por todo o sistema e até mesmo em alguns aplicativos que estiverem adaptados.

Não há do que reclamar sobre a iniciativa do Google. O sistema é elegante, agradável ao olhar, com transições fluídas, aplicativos adaptados. O problema, como muitas coisas na vida, são os outros.

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O Google é responsável por apenas uma parte pequena da experiência do Android. Boa parte do uso do celular é utilizando aplicativos de outras empresas, como WhatsAppFacebookInstagram, TelegramTikTokTwitter... E todo esse esforço de personalização é basicamente imperceptível se outros desenvolvedores não embarcarem junto na ideia do Material You.

Um exemplo bem simples: um dos recursos do novo visual é adaptar ícones com base na cor escolhida. O sistema informa que ainda se trata de uma função em beta, mas o fato é que, no formato atual, ela só faz sentido para um usuário que utilize exclusivamente aplicativos do Google. NENHUM outro app está adaptado, de nenhuma outra empresa, o que cria uma experiência incongruente e desagradável.

E é questionável se os demais desenvolvedores terão incentivo suficiente para mudar isso no futuro. Por enquanto, o Material You é uma exclusividade da linha Pixel, que está longe de ser a mais popular do mercado. Há, portanto, pouca motivação para garantir a compatibilidade.

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Isso também vale para os widgets alardeados como uma novidade provocada pelo avanço da Apple. O Google reformulou o visual de alguns deles, com destaque para o de relógio e de previsão do tempo, mas tantos outros apps não adotaram a mesma identidade e é bem possível que nunca adotem.

Deixados para trás

Ao longo dos meses de testes, foi interessante observar como o Google abandonou algumas das ideias que tinha no início. O primeiro beta trazia um efeito de partículas ao usar a barra de navegação que foi mitigado nas atualizações posteriores e eliminado na versão final; o motivo foi que muitos usuários pensavam que a animação parecia um bug.

Da mesma forma, o menu de configurações que era extremamente colorido se tornou mais sóbrio, e o slider de volume, estranhamente grosso, se tornou mais fino e delicado.

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Sentimentos mistos

Um dos maiores impactos sentidos ao usar o Android 12 estava nos ajustes rápidos do sistema operacional, que passou a ter botões retangulares enormes em vez de vários pequenos círculos.

A opção do Google foi simples: menos é mais. Os botões maiores dão acesso a um menor número de atalhos, mas tornam mais fácil encontrar e pressionar aqueles que realmente importam — e você ficaria surpreso com quantos deles são irrelevantes.

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No entanto, uma mudança em comparação com o Android 11 se provou especialmente incômoda. Com a atualização, o Google matou o menu de energia com controles da casa inteligente sem uma justificativa clara.

O recurso havia tornado extremamente prático controlar lâmpadas conectadas e outros dispositivos vinculados à sua conta do Google. No entanto, a empresa optou por um menu mais convencional, apenas com botões de desligar, reiniciar e capturar tela, além do bloqueio e ligação de emergência.

A opção provavelmente visa tornar mais facilmente acessíveis os controles mais urgentes do celular, especialmente para o público que não é tão íntimo da tecnologia, mas acaba afetando a parcela de usuários que já estava investido na casa conectada. As mesmas ações requerem muito mais toques para serem realizadas.

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A impressão que fica é que o Google pensou em uma série de recursos para tornar seus celulares mais próximos de um público não tão próximo da tecnologia. É uma decisão válida, mas é uma pena que não haja uma opção para retornar como era antes para quem preferir.

Privacidade no centro, mas é o bastante?

O Google bateu na tecla da privacidade como um dos pontos-chave do Android 12, e alguns desses recursos chamaram bastante atenção ao longo dos últimos meses em que usei o sistema operacional. Talvez o que tenha se tornado mais parte da minha vida é o indicador de uso de microfone e câmera, que aparece no topo direito da tela sempre que um app ameaça acessar essas funções do celular.

É um elemento bem simples de interface e que, na maioria esmagadora dos casos, vai aparecer em momentos inofensivos, quando você for tirar uma foto ou gravar um stories para o Instagram. No entanto, ele está lá para detectar o mau uso: quando um app está monitorando o usuário sem permissão. A partir disso, é possível identificar o aplicativo problemático e removê-lo.

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A solução é tão simples e tão importante que a pergunta correta é: por que o Google não implementou isso antes?

Também se tornaram notáveis os alertas de que determinado app está acessando a área de transferência do sistema para ver o texto copiado pelo usuário. Novamente, é um recurso simples, que basicamente sempre apontará um comportamento inofensivo, quando você está copiando e colando algo, mas fundamental para detectar um aplicativo mal-intencionado, vasculhando conteúdo ao qual ele não deveria ter acesso.

O sistema traz outras ferramentas importantes, mas que, francamente, devem ser usadas por poucas pessoas. O Painel de Privacidade resume de forma acessível quais aplicativos estão utilizando as permissões a que têm acesso no seu celular para coletar dados sensíveis, como localização, câmera e microfone.

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Em uma checagem, eu encontrei um app acessando minhas informações de atividades físicas sem qualquer justificativa clara para isso, ao qual eu sequer lembrava que tinha dado acesso a tais informações. Foi a oportunidade para revogar essa permissão. Infelizmente, o recurso está enterrado na janela de configurações do sistema, aonde, creio, poucas pessoas irão.

Outra novidade em termos de privacidade é a capacidade de compartilhar uma localização aproximada para aplicativos que solicitam essa informação. Na minha experiência, no entanto, vários apps recusaram esse tipo de uso, o que é preocupante.

Outros recursos bacanas

Nem todos os recursos novos do Android 12 são chamativos a um primeiro olhar, mas vários deles trazem mais qualidade de vida e são extremamente bem-vindos.

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Um deles é a capacidade de tirar prints roláveis, que expandem a imagem além do que a tela é capaz de mostrar. É uma ferramenta importante para quem costuma fazer capturas de janelas de chat, por exemplo, não precisar fazer quatro ou cinco prints em sequência e depois ficar confuso sobre a ordem correta, e tudo aqui funciona muito bem.

O recurso já era bastante usado em vários aparelhos Android, mas sempre como uma ferramenta implementada diretamente pela fabricante. Agora, ele passa a ser nativo do sistema operacional, como uma experiência uniforme entre dispositivos.

Outra novidade é o modo de uma mão, que tenta adaptar o celular a uma realidade em que as telas são cada vez maiores e, ainda por cima, compridas. O sistema é capaz de abaixar o topo da interface para tornar os ícones que estão na parte de cima do painel mais acessíveis para os momentos em que não é conveniente segurar o aparelho com as duas mãos.

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Na minha experiência, tive poucas oportunidades de usá-lo em um cenário realista. Na maior parte das vezes em que ele foi acionado, foi por acidente, o que pode ser uma falha de UX por parte do Google, mas o conteúdo no topo da tela realmente se torna mais acessível.

Conclusão

O Android 12 é uma renovação bem-vinda ao sistema operacional, que já começava a dar sinais de defasagem em termos visuais. O Material You, especificamente, é uma iniciativa muito interessante de dar ao usuário mais controle sobre a aparência de seu dispositivo sem precisar instalar launchers mirabolantes.

No entanto, o Google tem pouco controle sobre seu ecossistema. Uma mudança no projeto gráfico do sistema operacional esbarra na falta de adesão de outros desenvolvedores, que até o momento não se mostraram interessados em produzir novos formatos de widgets ou se adaptar à personalização proposta pelo Material You. Ícones fora do formato são o padrão, por enquanto, e não exceção.

Em relação à privacidade, o Android ainda corre atrás do iOS, que lidera as iniciativas de proteção de dados ao ponto de causar impacto negativo no mercado publicitário. No entanto, é bom ver que ao menos o Google está se mexendo, embora seja questionável até onde a companhia está disposta a ir, já que seu modelo de negócios depende de publicidade.