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Por que casos de doenças infantis estão aumentando no mundo?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 13 de Dezembro de 2022 às 09h00

Varyapigu/Envato
Varyapigu/Envato
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Após o isolamento social imposto pela pandemia da covid-19, uma onda de doenças infantis volta a ocorrer com mais intensidade, especialmente aquelas que afetam o trato respiratório. São os casos da gripe (influenza), vírus sincicial respiratório (VSR) e, mais recentemente, Strep A — esta última tem afetado severamente o Reino Unido. Outras doenças, como o sarampo, voltaram a surgir com mais força no pós-covid. Em paralelo, há queda generalizada nas taxas de vacinação.

Durante os anos de 2020 e 2021, a disseminação de outros vírus respiratórios, fora o da covid-19, despencou, explica Connor Bamford, virologista da Queen's University, no Canadá. "Vimos uma redução real de vírus, principalmente VSR e influenza", acrescenta, para a BBC.

Agora, os atuais surtos das doenças em crianças coincidem com a retomada total das atividades presenciais e a volta dos pequenos para escolas e creches, onde o risco de serem expostos a alguma agente infeccioso é alto. Nesse contexto, é normal uma criança ficar doente e, em seguida, outras também contraírem a mesma infecção.

O que explica essa onda de doenças infantis?

No momento, os cientistas ainda tentam entender o que provoca o atual momento epidemiológico e a principal hipótese é de que o isolamento social reduziu a imunidade das crianças, já que, naquele período, foram pouco expostas aos agentes infecciosos e não construíram um sólido repertório de defesas — isso implica a existência de células T de memória, por exemplo.

Ondas de doenças infantis voltam a preocupar médicos com o fim do isolamento e a queda na busca por vacinas (Imagem: LightFieldStudios/Envato Elements)
Ondas de doenças infantis voltam a preocupar médicos com o fim do isolamento e a queda na busca por vacinas (Imagem: LightFieldStudios/Envato Elements)

Outra possibilidade é que a covid-19 tenha afetado o sistema imunológico das crianças. Por exemplo, aquelas que foram infectadas pelo coronavírus acabaram com um sistema de defesa que não funciona tão bem quanto era esperado. No entanto, não existem evidências consistentes sobre esta possibilidade.

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“Não vimos nenhum dado para apoiar que a infecção anterior por covid-19 diminua sua imunidade e que você terá uma infecção subsequente mais grave de qualquer outro vírus ou mesmo bactéria”, explica Rabia Agha, do Maimonides Children's Hospital, nos Estados Unidos.

Por outro lado, sabe-se que crianças e jovens que sofrem infecções graves no pulmão podem sofrer com efeitos duradouros no sistema respiratório. Em outras palavras, as sequelas podem os acompanhar durante a vida adulta. A própria covid longa pode afetar os mais novos.

Queda nas taxas de imunização

No mundo todo, outro problema que tem se intensificado — e sua existência é anterior à pandemia — é queda nas taxas de vacinação das crianças. No final de setembro, a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (Ukhsa) pediu para que pais levassem filhos para tomar as vacinas de rotina, como a do sarampo e da poliomielite (pólio).

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“As estatísticas de vacinação infantil na Inglaterra são extremamente preocupantes”, afirmou Doug Brown, diretor-executivo da Sociedade Britânica de Imunologia, para o The Guardian. “É urgentemente necessária uma ação imediata para reverter essa alarmante tendência de queda [nas taxas de vacinação] de vários anos e proteger nossas comunidades de doenças evitáveis”, acrescenta.

E as doenças infantis no Brasil?

Crianças são menos vacinadas do que deveriam no mundo todo, inclusive no Brasil (Imagem: Halfpoint/Envato Elements)
Crianças são menos vacinadas do que deveriam no mundo todo, inclusive no Brasil (Imagem: Halfpoint/Envato Elements)

No Brasil, o cenário é o mesmo. Neste ano, o país conseguiu atingir a meta de vacinação de apenas um imunizante do calendário infantil: a vacina BCG (Bacilo de Calmette e Guérin). Fora este caso da fórmula que protege contra a tuberculose, as outras vacinas estão distantes da meta estipulada pelo Ministério da Saúde, segundo relatório do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância).

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Neste cenário, o país arrisca enfrentar surtos de diferentes doenças que afetam crianças, como pólio, varicela, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, tétano, coqueluche, gripe e hepatites A e B. No caso da pólio, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) incluiu o Brasil em uma lista de alto risco de reintrodução da poliomielite.

Questão da resistência aos antibióticos

Com impacto indefinido no atual surto de doenças pediátricas, há um grande problema que tem se espalhado por todo o mundo também: a resistência antimicrobiana, provocada pelo uso indevido de antibióticos. Neste cenário, algumas bactérias podem se tornar mais resistentes e sobreviverem a inúmeros medicamentos, dificultando a cura da infecção e aumentando o número de óbitos.

Alguns especialistas chamam o fenômeno de pandemia silenciosa. No Brasil, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) revelaram que o número de superbactérias — como são chamados os agentes infecciosos que resistem aos remédios comuns — de 2021 foi três vezes maior do que o registrado no período pré-pandemia da covid-19, durante o ano de 2019. Isso pode contribuir para desfechos mais graves das doenças que ressurgem em crianças.

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Fonte: BBC e The Guardian