Pela primeira vez, astronautas usam técnica de edição genética no espaço
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 11 de Agosto de 2021 às 09h00
Uma técnica de edição de DNA chamada CRISPR foi usada, pela primeira vez, na Estação Espacial Internacional (ISS). O sucesso do experimento deve alavancar uma nova onda de estudos espaciais na área da edição genética, o que será fundamental para que astronautas viajem por longas distâncias, de forma segura. No futuro, a ideia é que o procedimento possa ser realizado na própria tripulação, caso a radiação ionizante cause algum dano ao código genético desses indivíduos.
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Segundo o artigo científico publicado na revista científica PLOS ONE e apoiado pela NASA, a equipe estudou o procedimento em células da levedura Saccharomyces cerevisiae. Vale observar que esta levedura é adotada tanto na produção do pão quanto da cerveja, além de ser usada no desenvolvimento de álcool combustível.
Na ISS, os astronautas desencadearam uma alteração negativa no DNA das leveduras, através do método CRISPR/cas9. Em seguida, os cientistas permitiram que as células se reconstituíssem desse dano e se multiplicassem. A ideia era entender como os mecanismos de reparo do DNA se diferenciam no espaço e na Terra.
Sobre o feito, o pesquisador e neurobiólogo molecular Sebastian Kraves comenta que ele é muito maior do que a simples realização da técnica no espaço. "Não só a equipe implantou, com sucesso, novas tecnologias como edição do genoma usando CRISPR, PCR e sequenciamento de nanopores em um ambiente extremo, como também fomos capazes de integrá-los em um fluxo de trabalho de biotecnologia funcionalmente completo e aplicável ao estudo de reparo de DNA, bem como outros processos celulares fundamentais na microgravidade", afirmou.
"Além de possibilitar estudos de reparo de DNA em microgravidade, a capacidade de transformar e manipular geneticamente organismos no espaço representa um avanço significativo e pode permitir uma infinidade de investigações futuras", detalham os autores do estudo, no artigo.
Risco de danos ao DNA no espaço
Na Terra, a atmosfera e o campo magnético protegem a vida no solo contra a radiação cósmica que pode danificar o DNA dos seres vivos. No entanto, os astronautas, em viagens espaciais, não têm essa proteção — e isso os coloca em potenciais situações de risco. Por isso, entender sobre técnicas de reparo de DNA, mesmo que induzidas em organismos simples, é tão importante.
Afinal, independente do tipo de organismo, ele carrega todas as informações genéticas do seu funcionamento no DNA. Caso ocorra a quebra das fitas duplas do DNA, como os astronautas fizeram com a levedura, as células precisam reparar essas quebras quase que imediatamente, para impedir que o dano seja permanente.
No entanto, durante o processo de reconstrução, é possível que erros sejam cometidos, inserindo ou excluindo partes do DNA e criando mutações. Em casos extremos, essas mutações podem resultar em doenças como o câncer. Durante uma viagem ao espaço, a formação de tumores pode ser algo fatal, por isso, precisa ser prevenida.
Para acessar o artigo científico sobre o experimento publicado pela equipe de astronautas da NASA, clique aqui.
Fonte: EurekaAlert! e NASA